Enquanto dirigia pelas estradas do Amapá, o cafeicultor mineiro Orlando Pereira Vasconcelos, recebeu uma mensagem do AgFeed, com um pedido de entrevista. Logo em seguida, respondeu: “Estou chegando no Oiapoque, falamos no início da tarde”.

Para quem lembra da expressão “do Oiapoque ao Chuí”, trata-se do município mais ao Norte habitado no Brasil continental, que fica na fronteira com a Guiana Francesa.

Mas o que esse empresário, que também tem uma revenda de tratores, em Três Corações (MG) estava fazendo lá? A resposta é simples: buscando novos aliados para seu mais recente projeto, a recém criada Coocap, Cooperativa dos Cafeicultores do Amapá.

Vasconcelos já produz café em Minas Gerais há 45 anos e também possui uma área de pecuária em Paragominas, no Pará. Foi conversando com um produtor paraense que foi convidado a fazer uma visita ao Amapá e conhecer as potencialidades do estado.

“Foi no dia 7 de setembro de 2023 a primeira vez que eu pisei no Amapá também. Conheci o Amiraldo Favacho (empresário e político da região), que me pediu duas coisas: que eu levasse uma loja de tratores para lá e ajudasse a realizar o sonho de plantar café no Amapá”, contou Vasconcelos, na entrevista ao AgFeed.

Desde então, o empresário foi trabalhando para transformar os desejos em realidade. A primeira loja da Minas Tratores – que tem três unidades em MG – no Amapá foi inaugurada em fevereiro deste ano, na capital, Macapá.

É uma revenda da marca italiana Landini, assim como as lojas mineiras. Por enquanto, as máquinas estão vindo do Sudeste para o Norte e os caminhões voltam vazios. Mas daqui a alguns anos Vasconcelos espera embarcar o café produzido no Amapá para fazer a viagem de volta.

O empresário nos contou uma história curiosa sobre a sua iniciativa de cultivar no estado. Os primeiros grãos de café teriam sido trazidos ao Brasil pela fronteira com a Guiana Francesa, em 1727, pela província do Grão-Pará e Maranhão, que antigamente também englobava o atual território do Amapá.

Na época, grãos e sementes teriam sido contrabandeados e depois levados para as áreas do interior do Brasil, inclusive o Rio de Janeiro.

Agora, quase 300 anos depois, o café poderá finalmente virar uma realidade de cultivo comercial na região, em função dos avanços na genética, que já viabilizam variedades adaptadas ao clima quente, com excelente produtividade.

Vasconcelos diz que, antes de propor a formação da cooperativa, foi a Rondônia conhecer a produção de café robusta em propriedades de diferentes tamanhos. “Nós vimos que a faixa de terra lá de Rondônia é a mesma daqui, a temperatura é a mesma, aí nós optamos por plantar aqui o café robusta”.

Um viveiro já foi montado em Macapá e as primeiras mudas devem chegar de avião, nas próximas semanas, vindas de Cacoal (RO). Os 32 produtores se associaram à cooperativa e contaram com o apoio do governo do Amapá, que disponibilizou a aeronave.

Em função de ser a melhor época climática, o plantio dos pés de café será feito em janeiro. O projeto está sendo iniciado com 150 hectares. A expectativa é ter os primeiros frutos em 2027 e contar com uma “colheita boa” em 2028.

A Coocap está investindo cerca de R$ 20 milhões no projeto, que envolve não apenas as mudas e equipamentos do campo, mas também secadores e máquinas para beneficiar e armazenar o café.

O plano é também exportar o café diretamente pelo porto de Santana, no Amapá. “Os navios da China já estão desembarcando no porto de Santana. Eles trazem fertilizantes, produtos eletrônicos, vem de tudo”, contou o empresário.

Também seria possível mandar o produto para Manaus, Belém, Roraima e até Estados Unidos, segundo ele, “porque as balsas vêm carregadas de Belém e volta tudo vazio”.

Atualmente, Vasconcelos diz que há “alguns pés de café em algumas propriedades” do Amapá, porém não há máquina para limpar, por isso o produtor deixa cair no chão.

Alguns experimentos pontuais têm relação com pesquisas que foram feitas a partir de 2021 pela Embrapa, ele afirma.

Com a área de 150 hectares, a expectativa é que a Coocap produza 15 mil sacas de café. “E a produtividade é duas vezes e meia maior, porque é o mesmo café robusta de Rondônia, a linha de café que produz mais”, ressalta.

O empresário garante que será possível produzir entre 100 e 200 sacas por hectare. No café arábica que planta em Minas Gerais, “se produz no máximo 45 sacas”.

Para comparação, o café conilon do Espírito Santo, que é um terceiro tipo de café, estaria produzindo na faixa entre 70 e 100 sacas por hectare.

Além do café, entre os destaques da agropecuária do Amapá estão a pecuária, principalmente a criação de búfalos e a produção de soja. O estado já chegou a ter 20 mil hectares de soja, segundo Vasconcelos, mas em função de problemas políticos ao longo do tempo a área foi reduzida para 10 mil hectares. “A tendência agora é crescer, a soja e milho”.

Neste cenário, o empresário espera também ver crescer a demanda pelos tratores da sua revenda. As áreas de café estão todas a cerca de 200km de Macapá e a expectativa é ter maior participação de produtores no Oiapoque, certamente.

Resumo

  • Grupo de produtores liderados pelo mineiro Orlando Vasconcelos cria a Coocap e inicia o cultivo de 150 hectares de café robusta no Amapá, com apoio do governo estadual
  • Projeto investe R$ 20 milhões em mudas, máquinas e estrutura de beneficiamento, com previsão de colheita a partir de 2028
  • Ideia é exportar os grãos via porto de Santana, reforçando o Amapá como nova fronteira do agronegócio brasileiro