De 2015 para cá, o número de bovinos confinados no Brasil para produção de carne cresceu mais de 70%, passando de 4,6 milhões de animais naquele ano para 7,9 milhões em 2024.
Em relação ao ano passado, quando o volume foi de 7,2 milhões de animais, o crescimento foi de 11%, uma diferença de 757 mil cabeças. Esses números são do Censo de Confinamento realizado pela dsm-firmenich, estudo que abrangeu 2.592 propriedades distribuídas em todas as regiões do país.
Mais do que a quantidade de animais confinados e o cenário no qual foram contabilizados, o levantamento traz informações relevantes a respeito do que pode acontecer daqui para a frente no setor.
“Há uma tendência de lucratividade em 2025, após 30 meses de prejuízo ou baixíssima rentabilidade”, afirmou o gerente de Confinamentos da dsm-firmenich, Walter Patrizi.
Esse movimento de baixa para os confinadores deve-se muito ao crescimento do abate de fêmeas nos últimos dois anos, o que aumentou a oferta de animais e, consequentemente, impactou o preço da arroba.
Além disso, pesou o custo de produção. Em 2024, até houve uma redução nesse custo, porém, a cotação da arroba também caiu.
Conforme dados apresentados pela empresa, a arroba chegou a valer R$ 352 no dia 24 de março deste ano. Depois passou a despencar até que bateu em R$ 196 em 12 de setembro. Em seguida, voltou a se recuperar, alcançando a marca de R$ 353 em 27 de novembro.
Houve uma virada de cenário do primeiro para o segundo semestre. Enquanto a primeira metade do ano foi caracterizada por grande oferta de fêmeas, alta produção de carne e preço do boi gordo em queda, a segunda trouxe consumo interno aquecido, desvalorização cambial, alta nas exportações de carne, escalas de abate apertadas e elevação na cotação do boi gordo.
O aumento das exportações brasileiras de carne bovina influenciaram bastante a retomada dos preços da arroba. Enquanto durante boa parte do ano o volume de carne bovina exportada estava em torno de 30% do total produzido, em setembro esse índice foi a 41%, chegando a 43% em outubro.
“Em novembro, esse patamar se repetiu, mais de 40% da carne bovina produzida no Brasil foi exportada. Esse foi o grande diferencial que provocou essa puxada muito forte nos preços”, afirmou o diretor da Unidade Operativa de Ruminantes da dsm-Firmenich para Brasil, Uruguai e Paraguai, Túlio Ramalho.
Segundo o executivo, ainda que a China, que é o maior cliente global da carne bovina brasileira, tenha reduzido o share nesse mercado, países do Oriente Médio seguiram fortes nas compras.
“E tem o efeito Estados Unidos, que entrou muito firme no mercado e está com a capacidade de produção reduzida. A Austrália também vem de um período difícil com uma sequência de secas e está com menor capacidade de exportação”, disse Ramalho.
O fato que deve mexer com o mercado pecuário de maneira geral e, consequentemente, com os confinamentos, é a mudança de ciclo na atividade.
O momento atual é de elevação dos preços de bezerros. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea / Esalq-USP), a cotação do bezerro na última terça-feira (10) estava em R$ 2.678,38. Há um ano, o preço era de R$ 2.128,69, uma diferença de quase 26%.
Diante dessa valorização, a tendência é os produtores investirem na retenção das fêmeas para produzirem mais bezerros. É a velha lei mercantil da oferta e da demanda, que também vai influenciar o preço da arroba, pois esse movimento reduzirá a disponibilidade de animais para o abate. Mas não nos patamares deste final de ano, antes da entrada dos bois de confinamento.
A retirada de fêmeas das escalas de abate não ocorrerá imediatamente. “Ainda deveremos ter um abate importante de fêmeas no primeiro semestre do ano que vem”, afirmou Ramalho. “A gente vem de um ano difícil de seca intensa, e as vacas que estão entrando na estação de monta não estão na sua melhor condição.”
Segundo o executivo, até por conta do período de bezerros com preços mais baixos, também faltou investimento para a preparação de boa parte dessas matrizes. Como resultado, muitas delas não vão emprenhar e acabarão sendo descartadas, o que deve equilibrar a oferta e os preços da arroba.
“Já no segundo semestre, entra forte o movimento da retenção de fêmeas para produção de bezerros na safra 2025/26”, disse Ramalho, ressaltando que os efeitos dessa virada de ciclo serão sentidos pelo menos nos dois próximos anos.
Em termos de retorno ao produtor, o executivo faz uma diferenciação relevante dos dois principais grupos de fêmeas que vão para o abate. Um deles é esse de vacas descartadas, que não geram muita lucratividade.
O outro é o de novilhas, animais bastante requisitados para produção de carne mais premium e que rendem bem no confinamento. Vai da destreza administrativa do pecuarista a melhor decisão sobre como lidar com as fêmeas de seu rebanho.
Sobre a distribuição dos animais confinados pelo Brasil, a maior concentração está na Região Centro-Oeste, que responde por 3,7 milhões de cabeças, ou 47% do total, e cresceu 9% sobre o ano passado. O Sudeste vem logo em seguida, com 2,1 milhões de cabeças (27%) e um avanço de 5,2%.
Os estados com maior participação na atividade foram Mato Grosso, que confinou 1,7 milhão de animais, volume 20% maior do que no ano passado; São Paulo, com 1,3 milhão e crescimento de 6,7%; Goiás, que aumentou 4,9% os bovinos confinados, chegando a 1,2 milhão de cabeças; Mato Grosso do Sul, com 800 mil animais e queda de 4,4%; e Minas Gerais, também com 800 mil cabeças, mas evolução de 4%.
“Os demais estados vêm crescendo de maneira significativa, a exemplo de Pará e Tocantins, que têm chamado bastante a atenção nos últimos anos”, afirmou Patrizi. O comentário do executivo sugere que o número de animais em confinamento deve continuar aumentando.
O que também chamou a atenção no censo da dsm-firmenich foi a queda na representatividade da terceirização da engorda, os chamados boiteis. Enquanto em 2022 o segmento abrigou 23,3% do total de animais confinados, este ano ficou em 18,5%.
A retração reflete o desafio da lucratividade nos confinamentos nos últimos dois anos, que não foi superado devido sobretudo aos custos da compra de boi magro e de alimentação. Essa realidade tende a mudar já com os bois que serão abatidos em fevereiro do ano que vem, com um retorno melhor para os confinadores.
Além disso, no longo prazo, espera-se uma retomada do crescimento da terceirização da engorda, em especial porque essa prática representa uma redução importante nos custos de produção para o pecuarista.