O peso do Brasil no mercado internacional de café é histórico. A cultura já foi um dos pilares da economia brasileira e ainda hoje tem relevância na pauta de exportações do País. No final do ano passado, a dominância global foi ampliada, com bons resultados nas vendas externas.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pelo Itaú BBA, mostram que em dezembro o país vendeu para o exterior 244 mil toneladas de café, um crescimento de quase 34% na comparação com o mesmo mês de 2022.

O volume cresceu também em relação a novembro. Segundo a Secex, em um mês, as exportações de café aumentaram quase 4%.

Os preços apresentaram uma recuperação em dezembro, mas ainda ficaram bem abaixo dos patamares do final de 2022.

Na média por tonelada, o café verde foi vendido a US$ 3.184, valor 1,6% maior que o registrado em novembro pela Secex. No entanto, em relação a dezembro de 2022, houve queda de quase 17%.

“Esse movimento é explicado pela maior disponibilidade na safra brasileira 2023/2024 em comparação com a 2022/2023, bem como pelos preços competitivos do Brasil em relação a outras origens”, afirma a analista Natália Gandolphi, da consultoria Hedgepoint Global Markets.

Os Estados Unidos e a Alemanha são os dois maiores compradores de café brasileiro, com participações de 15% e 12% do total, respectivamente, segundo dados da Hedgepoint.

Mas o fenômeno mais recente, destacado inclusive pela analista da Hedgepoint, é o rápido crescimento nas exportações para a China.

Segundo levantamento feito pela plataforma de investimentos TradeMap, no terceiro trimestre de 2023 foram 290 mil sacas de café vendidas para a China, quase o triplo do registrado no mesmo período de 2022.

Assim, o Brasil ultrapassou a Etiópia como maior fornecedor do produto para os chineses, já que no caso do país africano, houve uma queda de quase 50% nas vendas, para 123 mil sacas de café.

A Ásia tem sustentado a demanda por café brasileiro. “Ao analisar cada país separadamente, os números são surpreendentes. Os Estados Unidos importaram 26% a menos em comparação com 2022, a Alemanha 30% a menos e a Itália, 9% a menos”, observa Gandolphi.

Além da China, o Japão aumentou em 22% sua importação de café brasileiro em 2023, até novembro. Na Europa, destaque para o Reino Unido, que comprou 71% a mais que no ano passado. Turquia e Holanda também compraram mais café brasileiro, com crescimentos de 37% e 33%, respectivamente.

Clima é preocupação para 2024

Se o ano de 2023 foi muito bom para o produtor de café, inclusive em produção, o El Niño traz algumas preocupações para a cultura em 2024.

As estimativas do Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) é de que a safra 2023/2024 no Brasil feche com a produção de 66,4 milhões de sacas, aumento de 6% frente a 2022/2023.

Mas para César de Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, ficou mais difícil esperar que o Brasil bata recorde de produção na safra 2024/2025.

“Acho difícil que supere a marca de 2020/2021, superando as 70 milhões de sacas. O café arábica não se dá bem com o calor, e o conilon teria que crescer muito em produtividade para compensar”, explica.

Segundo os dados do Cecafé, o tipo arábica representa 75% das exportações brasileiras, incluindo o produto já industrializado.

Por outro lado, as incertezas sobre o clima podem criar uma espécie de proteção para as cotações internacionais do café.

“Mesmo com a possibilidade de novas elevações nos preços, é oportuno que o produtor aproveite as condições atuais de mercado e proteja suas margens, sobretudo para a produção colhida neste ano”, recomenda o Itaú BBA em relatório.

Em 19 de dezembro, a cotação da saca do café arábica medido pelo indicador Cepea/Esalq voltou a superar os R$ 1.000 depois de seis meses. Em dólares, o preço se mantém acima dos US$ 200, algo que não ocorria desde junho.

A Allianz Trade, empresa do grupo Allianz especializada em seguro de crédito e garantia, avalia que os preços de algumas commodities agrícolas, inclusive o café, vão ter uma ligeira queda em 2024, para posteriormente se estabilizarem em níveis elevados.

“As cotações devem se consolidar à medida que a produção se ajusta para cima devido aos preços elevados e a demanda do consumidor permanece fraca devido à crise do custo de vida”, dizem os analistas da seguradora.

Para o café, a Allianz Trade espera que haja um excedente de oferta em 2024/2025, com a recuperação da safra de arábica no Brasil e na Colômbia.