Entre as altas produtividades na fazenda e o consumo dos produtos agrícolas brasileiros nos lugares mais distantes do planeta está a famosa “logística”, frequente dor de cabeça para as empresas do agro, já que nem todas as variáveis estão na mão do setor privado.

Estradas e portos, por exemplo, dependem de ações mais amplas, que envolvem governos e grandes financiamentos. Por iss, os fundadores da nstech, desde a criação da empresa, em 2020, apostaram no argumento de que é a adoção de tecnologia que fará a diferença para reduzir custos e trazer ganhos de eficiência na logística brasileira.

Um dos cofundadores é Thiago Cardoso, que desde o início do ano, assumiu uma nova área da empresa dedicada ao agronegócio.

“Neste primeiro trimestre já superamos a meta. Está sendo muito bacana desde que lançamos a nstech agro, na Intermodal, porque trouxemos vários outros clientes que estavam longe do nosso radar e fica claro que, o mundo do agro, tirando os grandes players, ainda está um pouco longe do assunto sistemas como ferramenta para ganhar produtividade”, afirmou o executivo em entrevista ao AgFeed.

A previsão da nstech é faturar R$ 1 bilhão em 2024, sendo que pelo menos R$ 230 milhões devem vir dos clientes relacionados ao agro – um avanço em relação aos R$ 175 milhões gerados no ano passado. Cardoso disse que nos primeiros três meses do ano a receita com o agro já avançou os 30% previstos, em relação ao mesmo período de 2022.

Atualmente, a nstech tem 60 mil clientes ativos, sendo 50 mil transportadoras e atua em 15 países. No agro, atua desde os grupos ligados à produção, como SLC Agrícola, Amaggi e Bom Futuro, até 7 das 10 maiores tradings de grãos, além das maiores em fertilizantes e de boa parte dos grandes frigoríficos do Brasil.

A empresa foi fundada em 2020 por Cardoso e também por Vasco Oliveira, atual CEO da nstech, que tem no currículo outro destaque: criou e vendeu para a mexicana Femsa (Coca-Cola) a companhia de logística AGV, há quatro anos.

Em 2021, a jovem empresa recebeu um aporte de R$ 500 milhões em uma rodada de investimentos liderada pela gestora Tarpon.

A nstech também foi ousada nos M&As desde o começo, tendo adquirido até agora 30 empresas “líderes em tipos de softwares diferentes”, com R$ 1,5 bilhão investidos.

A decisão de ampliar a aposta no agronegócio veio não apenas pelo fato de cerca de 25% do faturamento da empresa já estar relacionado ao setor.

“Olhando pra fora, sabemos que o Brasil é a fazenda do mundo, a China é a fábrica do mundo e os EUA, shopping center. Temos DNA agro no nosso País”, disse Cardoso.

Das 38 soluções oferecidas atualmente, algumas têm chamado mais a atenção do segmento, como o background checking (cadastro), rastreamento de risco (por ano são rastreadas 10 milhões de viagens), TMS (Transportation Management System), YMS, que faz a chamada “gestão do pátio”, para reduzir filas. Uma fintech para o pagamento de fretes e uma solução de pedágio também fazem parte do portfólio.

Combate ao roubo de cargas

Uma das apostas recentes da nstech é a contratação de Thiago Azevedo (ex-Falconi) para a função de head de Cadastro. É uma área antiga que atualmente passa a contar com mais tecnologias como machine learning e Inteligência Artificial (IA) e consiste, basicamente, no cadastro de motoristas e veículos.

Trata-se de um dos produtos mais promissores para o agronegócio, em termos de crescimento, à medida que as ocorrências de roubos de carga nas rodovias brasileiras preocupam cada vez mais as empresas.

“Nós fizemos uma avaliação do perfil tanto dos motoristas quanto dos veículos, para saber a probabilidade de aparecer um sinistro ou roubo e, para isso, trabalhamos com algoritmos, IA, e ciência de dados para saber a chance de roubo, antes do transporte ser iniciado”, explicou Thiago Azevedo.

A ferramenta, inclui, por exemplo, reconhecimento facial do motorista pelo aplicativo. A empresa recebe o alerta se aquele profissional é “adequado” ou não, para aquele tipo de serviço. Segundo os executivos, quando a empresa não usa a recomendação e um sinistro é verificado, a seguradora não cobre a apólice.

O AgFeed teve acesso a dados do mais recente levantamento feito pelas três gerenciadoras de risco que pertencem a nstech: BRK, Buonny e Opentech. O estudo, feito uma vez por ano, revelou que, em 2023, 74% dos sinistros relacionados a roubo de carga foram evitados, preservando o equivalente a R$ 340 milhões.

Uma pesquisa divulgada em 2018 pela NTC&Logística, que representa as transportadoras, indicou que o prejuízo causado por roubo de cargas no Brasil, naquela época, já era estimado em R$ 1,5 bilhão por ano.

O relatório divulgado pela nstech mostrou que 20,1% dos sinistros registrados eram cargas alimentícias e 1,5% foram defensivos agrícolas.

No mesmo estudo feito em 2022 aparecia também uma categoria chamada “agronegócio”, que representava 4,7% dos roubos e considerava grãos e defensivos agrícolas (que pesavam mais).

Segundo a empresa, este ano não foi definida essa categoria, que incluía também produtos como soja e milho, porque o levantamento só considera cargas rastreadas e, em função da queda no preço das commodities, não foram registrados sinistros rastreados deste tipo de cargo.

Os executivos ressaltam que, se houvesse mais rastreamento na soja, por exemplo, o número de roubos seria bem maior. Vale lembrar que, desde o ano passado, entidades como a Anec – Associação Nacional dos Exportadores de Cereais – vêm pedindo providências ao governo de São Paulo devido ao aumento do roubo de soja por quadrilhas na Baixada Santista.

As cargas de cigarros agora estão no terceiro lugar no ranking da incidência de sinistros, subindo de 4,6% para 7,8%. Já o prejuízo causado pelo roubo de bebidas diminuiu 80%, segundo o estudo da nstech.

“Quando se fala em roubo, normalmente se imagina aquela abordagem com arma, por assaltantes. Mas ainda existe um percentual grande em que motoristas são envolvidos”, disse o head de Cadastro, Thiago Azevedo.

No agronegócio, a estratégia é ainda mais importante já que, segundo os executivos, 97% dos motoristas são os chamados “agregados”, um terceiro que faz volumes grandes ou os caminhoneiros autônomos, que são a grande maioria.

A nstech tem hoje 2,3 milhões de motoristas cadastrados e estima que 85% dos caminhoneiros do País já passaram por sua base.

Gigantes do agro

Thiago Cardoso, que lidera a estratégia agro da nstech, diz que a estratégia para atrair o segmento é “vender vantagem competitiva em logística”.

Em tempos de margens apertadas e quebra de safra em algumas regiões, a empresa entende que produtores e empresas terão que buscar cada vez mais um diferencial para reduzir custos.

“Estamos aproveitando esse momento do agro em que está todo mundo repensando a sua estrutura de custo, mostrando as soluções para que ele ganhe vantagem”, afirmou.

O executivo conta com orgulho que agora as três maiores empresas de produção agrícola estão na sua carteira de clientes – SLC Agrícola, Amaggi e, a mais recente, Bom Futuro. Para estas empresas, ele diz que a principal solução comercializada é o chamado “agendamento”.

Os motoristas acessam o aplicativo para deixar agendado o dia e horário em que vão buscar uma carga na fazenda ou entregar os insumos. Desta forma, ao invés de uma fila física de caminhões na entrada das unidades, se estabelece uma “fila virtual”, o que traz ganhos de eficiência.

Entre os clientes estão, por exemplo, dois dos maiores latícinios que atuam no Brasil, 8 dos 10 maiores frigoríficos, as quatro maiores industrias de fertilizantes, boa parte das maiores tradings de grãos, além de 2,5 mil transportadoras especializadas no agro.

Thiago Cardoso lembra que na JBS, por exemplo, foi possível gerar uma economia de 60% nos custos com a “sobre estadia”, um valor que precisa ser pago ao caminhoneiro caso ele fique mais de 5h esperando para ser carregado.

Na Rumo, uma das soluções disponibilizadas pela nstech, também reduziu de 11 horas para 2 horas o tempo médio de espera no terminal rodoferroviário de Rondonópolis-MT, onde passam 2 mil caminhões por dia, segundo Cardoso.

O executivo disse ao AgFeed que já trabalha no desenvolvimento de novos produtos para atender as demandas do agro. Entre eles deve estar uma ferramenta para que os players de mercado atuem de forma mais colaborativa na logística, assim como fazem as tradings nos terminais portuários, por exemplo.

“Queremos fazer a digitalização entre os elos da cadeia, para um frigorifico falar com seu transportador dentro de um sistema, digitalizar processos entre empresas fornecedoras”.

Ao mesmo tempo, a empresa está organizando eventos no interior do Brasil, para ficar mais próxima do agro. O primeiro será realizado em Cascavel-PR, no mês de maio, em parceria com cooperativas como a Frimesa. O plano é futuramente promover ações semelhantes em Mato Grosso.