Na startup CANAC, 2024 será o ano de ganhar escala. A empresa, fundada em 2016, atua com ferramentas digitais para usinas de açúcar e etanol e pretende aumentar os atuais 150 mil hectares sob gestão, para 320 mil hectares no próximo ano.

Um dos fundadores e sócios, Eduardo Salvador, explicou ao AgFeed como funcionam as soluções desenvolvidas pela agtech. Na prática, a empresa utiliza dados de produção, umidade e clima, que as usinas já possuem, e transforma em indicadores agroclimáticos, gerando recomendações.

Com isso, os gestores podem tomar a melhor decisão para o manejo, seja o melhor momento para colher, plantar ou até mesmo priorizar a irrigação em um determinado talhão em detrimento de outro.

“Antes éramos uma consultoria que se valia de dados, e agora somos uma empresa de tecnologia. As usinas, mesmo sendo grandes grupos, ainda permanecem passivas frente ao clima, mas ao mesmo tempo, possuem um repositório de dados de solo, clima, chuva, área e produtividade enorme. O problema é que eles não se conversam, é aí que atuamos”, explica o sócio.

Atualmente, a empresa tem dois clientes: a usina Cerradão, localizada em Minas Gerais, e a Alta Mogiana, na região de Ribeirão Preto. As duas áreas atendidas englobam os 150 mil hectares atendidos. Para 2023, a meta é, além de dobrar a área, atingir ao menos cinco clientes no portfólio.

“Nossa rodada comercial deve se iniciar, de fato, no início de janeiro. Temos uma agenda interessante de reuniões e já tivemos conversas iniciais. Em 2024 a CANAC começa a se inserir ainda mais no mercado”, projetou Eduardo Salvador.

Tanto Eduardo quanto Ricardo Costa, o outro fundador e sócio, se formaram em engenharia agronômica na Esalq/USP. Depois formados, atuaram juntos na Canaplan por alguns anos e decidiram abrir a própria empresa de consultoria em 2016.

Enquanto atuavam diretamente em algumas usinas, eles perceberam que, para compensar os poucos anos de carreira profissional, tinham que agregar um valor tecnológico no serviço.

“Sabíamos que quem atuava na Canaplan eram profissionais experientes, e o que eles falavam tinha aderência com a realidade. Nós decidimos então levar números, análises e modelos, com uma visão de entender como o clima baliza o resultado das lavouras de cana”, afirmou Salvador.

Com isso, os dois agrônomos se depararam com uma dificuldade técnica, e passaram a terceirizar para desenvolvedores algumas ferramentas. Em 2019, a usina Cerradão provocou os empresários com um pedido de uma ferramenta que ajudasse a projetar o tamanho da safra.

Nesse momento, Salvador e Costa viram que precisavam modelar, para cada talhão da usina, um histórico de cinco anos, medindo as interações. Rascunhando no papel, viram que a falta de expertise na programação exigia um aumento na equipe.

Com o dinheiro do serviço de consultoria, a empresa foi se estruturando para atender o pedido do cliente, e em 2021, entregaram o modelo. O problema é que a Cerradão queria validar o produto antes de pagar, e entre 2021 e 2022, enquanto a companhia testava a solução, a empresa fez uma primeira rodada de investimento com dois investidores-anjo.

Naquele momento, o valor da empresa (valuation) estava em R$ 7 milhões, segundo Eduardo Salvador, onde eles captaram R$ 1,2 milhão por 15% da companhia.

Os investidores eram Luiz Silvestre, head de trade da Sucden, e John Zarb, da IBP Consultoria. Além do aporte, o conhecimento dos dois sobre o setor também ajudou a empresa a conquistar os primeiros clientes.

No começo da safra 2022, a Cerradão assinou o contrato comercial, e foi quando a Cana Consultoria se tornou CANAC.  Quando assinou o contrato e fez a captação, a empresa viu dois caminhos possíveis a traçar.

O primeiro, mais convencional, seria o de expandir a operação e buscar mais clientes. A empresa preferiu, junto dos investidores e conselheiros, primeiro aprimorar ainda mais as soluções do pipeline para só agora, ir ao mercado de fato.

Eduardo Salvador citou que, dentre as conversas avançadas, uma é com um grupo grande do triângulo mineiro com mais de 200 mil hectares e uma empresa de Araçatuba. Além disso, outras duas usinas também já estão em contato com a CANAC.

“Apesar de termos somente dois clientes, já estamos no break even. Fizemos uma nova rodada de captação em dezembro com os mesmos investidores, e nessa rodada interna, nosso valuation já estava avaliado em R$ 15 milhões”, afirmou.