Se você tem a imagem de campos irrigados quando se fala da cultura de arroz, talvez seja hora de começar a rever seus conceitos. Uma equipe de cientistas da Universidade de Arkansas, nos Estados Unidos, já imagina plantar e colher o cereal na superfície árida de Marte.
A agência espacial americana Nasa espera enviar uma missão tripulada ao planeta vermelho nos próximos 20 anos e a questão da alimentação dos astronautas é um dos desafios que precisam ser superados até lá.
Isso porque são estimados 500 dias a bordo de uma nave para se chegar até lá – a distância média entre os dois planetas é de 225 milhões de quilômetros.
E depois de chegar lá, a ideia é que eles sejam capazes de cultivar alimentos para consumo próprio. Testes, com sucesso relativo, já foram feitos com tomates, trigo e mostarda.
A nova experiência busca simular as condições de solo e atmosfera para encontrar espécies de arroz que possam ser adaptadas ao ambiente marciano.
O solo do planeta é bastante hostil, já que contém um alto nível de sais de perclorato, que são tóxicos para as plantas. E a atmosfera é rarefeita, com pouca gravidade, o que dificulta o crescimento de raízes.
Os pesquisadores contam com auxílio da Nasa na empreitada. O solo usado nas simulações, por exemplo, foi recolhido em uma área pertencente à agência no deserto de Mojave, na Califórnia.
Ali, a Nasa encontrou as condições mais semelhantes a Marte na Terra e criou um laboratório para simular situações que pode encontrar naquele planeta. O solo também possui concentrações mais alta de sais, inclusive o perclorato.
Com as amostras de solo, a equipe de cientistas fez testes de cultivo com três variedades de arroz em diferentes condições. Foram plantadas uma cepa de arroz selvagem e outras duas editadas geneticamente para serem mais tolerantes ao estresse hídrico.
Elas foram cultivadas em condições de solo distintas. Uma, apenas com amostras de Mojave, outra em uma mistura usada regularmente em vasos e uma terceira, com uma combinação dos dois.
O melhor desempenho ficou com a terceira opção, com uma fórmula com 75% do solo desértico e 25% de terra para vasos. As sementes plantadas somente nas amostras de Mojave até germinaram, mas não prosperaram.
Uma conclusão importante dos cientistas diz respeito à capacidade das plantas de criar raízes. Eles verificaram que o limite máximo de percloratos para permitir o desenvolvimento delas seria três gramas por quilo de solo.
As conclusões do estudo foram apresentadas recentemente na 54ª Conferência de Ciências Lunares e Planetárias. Os cientistas afirmaram que devem continuar os estudos, experimentando novas simulações de solo e buscando outras variedades de arroz que tolerem altas concentrações de sal.
Além disso, há outros desafios a serem superados. Por ter características físicas diferentes do solo terrestre, o terreno marciano drenaria mais rapidamente a água. Além disso, o planeta é pobre em substâncias essenciais para o desenvolvimento de plantas, como nitrogênio.
Os cientistas entendem que mesmo que as pesquisas sejam insuficientes para levar o arroz a Marte, trarão benefícios aqui na Terra. Um deles seria abrir caminho para a produção de arroz, cereal mais consumido no mundo, em regiões de alta salinidade, como partes do deserto australiano.