Procura-se startups do agro. Pela primeira vez desde sua fundação em 2019, o BR Angels, ecossistema de inovação que reúne mais de 400 CEOs e executivos, vai criar um grupo de investimentos (batch) exclusivo para um setor.

O segmento escolhido, segundo revelou com exclusividade ao AgFeed Orlando Cintra, CEO e fundador da instituição, é o agro. O batch já reuniu R$ 5 milhões, que serão aportados em agtechs, com um cheque médio entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão.

Esse é o sétimo batch do BR Angels e, segundo Cintra, a iniciativa partiu de um processo interno de votação entre os membros da empresa.

“Realizamos um processo de escuta e primeiro notamos que eles queriam um batch focado em uma indústria específica, e nisso foi selecionado o agro”.

Na linguagem dos investimentos, batch é um grupo selecionado de startups que passam por um programa de aceleração focado em mentoria, conexões e preparação para captação de investimentos, com o objetivo de impulsionar seus negócios, nesse caso, específico no setor agro.

No agro, a busca pelas startups passa por três critérios: ter uma tecnologia disruptiva, escalabilidade no negócio e um time de gestão qualificado e resiliente dentro do negócio.

Cintra ainda diz que a busca será refinada por empresas que demandem o chamado smart money, ou seja, uma contribuição intelectual dos participantes do BR Angels, para além do recurso financeiro.

Além disso, a ideia é encontrar startups que também possuam uma “tese de saída” para os investidores. “Levaremos em conta se daqui três a cinco anos essa agtech tem interesse em fazer uma nova rodada de captação, ou passar por um M&A. Nós vamos desenhar essa tese junto com o time de gestão de cada startup”, afirmou.

Até agora o BR Angels soma duas agtechs entre suas investidas. A primeira é a iRancho, fundada por Thiago Parente, filho do ex-ministro Pedro Parente, que atua com rastreamento de gado.

A outra é a Inspectral, uma ESGTech que atua com monitoramento ambiental, florestal, de recursos hídricos e do agro. A startup hoje tem como um dos sócios a Plantae Agrocrédito, banco focado no setor.

A Plantae comprou 36% da startup, o que possibilitou, segundo Cintra, uma saída parcial de alguns investidores do BR Angels. “O BR Angels ainda segue como investidor, mas demos saídas para quem queria. Ao mesmo tempo, a startup se capitalizou e está indo para outro patamar”.

De acordo com Cintra, a principal dificuldade está em achar boas startups no agro. “Estamos com o ticket na mão, agora é hora da seleção”. A ideia é realizar esses investimentos em até um ano, mas Cintra disse que já existem agtechs em processos de conversa neste momento.

Para ajudar no crivo de seleção das startups, o Batch conta com 30 membros do BR Angels especializados em agronegócio.

Entre eles estão Celso Macedo, diretor-geral Latam da Farmers Edge, Antônio Lacerda, diretor-geral da CPMC no Brasil, Lieven Cooreman, sócio-fundador da Strategos e que já foi CEO da Fertilizantes Heringer, Fertilizantes Tocantins (da Eurochem), Galvani Fertilizantes e da VLI Logística.

Esses executivos ajudarão na primeira etapa do “funil” de seleção da startup. Posteriormente, o negócio passa a fazer parte e receber pitacos de todos os membros do BR Angels.

De 2019 até hoje, o BR Angels já soma mais de 400 CEOs e executivos de empresas nacionais e multinacionais, além de 35 startups investidas. O portfólio atual soma um valuation de R$ 2 bilhões. O investimento fica numa faixa entre R$ 500 mil e R$ 5 milhões.

Com isso, nada impede uma startup que chegar a ser investida dentro desse batch do agro receber mais aportes de outros investidores de dentro do BR Angels, caso ele se interesse.

Cintra cita que o grupo contém fora do batch de agro, mas no time do BR Angels, executivos como Wilson Ferreira, ex-presidente da Eletrobras. “Ele não está nesse grupo focado em agro, mas ele pode ajudar com smart money uma startup do agro que tenha um pé no segmento energético, por exemplo”.

Todas empresas que entram no BR Angels passam por esse Smart, como a empresa se refere ao capital intelectual aplicado por parte dos investidores, independente desse membro ter ou não investido na companhia.

O foco do BR Angels está em negócios que operam nos segmentos B2B, B2B2C e B2C. As startups que geralmente são escolhidas se encontram desde um momento pré-operacional, realizando rodadas seed ou pré-seed, ou até prestes a realizar uma Série A de captação.

Depois do batch de agro, o BR Angels deve criar novos grupos para investimentos específicos. Segundo Cintra, o novo setor pode ser educação, saúde, ESGtechs, fintechs ou até mesmo startups que, independente do setor, sejam lideradas por mulheres.

Cintra conta que o BR Angels não “declina startups”. “Nunca dizemos não de cara. Toda startup que se cadastrar no nosso site recebe uma justificativa do porque não foi selecionada. Existem casos de empresas que já se inscreveram três vezes até receber o investimento”, diz.

Segundo o CEO, isso ajuda a própria startup a se desenvolver e mostrar como reage (ou não) a feedbacks. Citando uma gíria do boxe, Cintra diz que o BR Angels pode funcionar como um sparring para essas empresas se testarem.