Se no livro “Perdido em Marte”, ficção científica de Andy Weir, o astronauta esquecido no planeta vermelho planta batatas, a Universidade de Nebraska-Lincoln quer dar um passo além e colocar uma das maiores culturas globais para ser cultivada por lá.
Embora instalados no coração do Corn Belt (Cinturão do Milho), região onde se concentra a maior parte da produção de grãos dos Estados Unidos, os professores Santosh Pitla e Yufeng Ge, pesquisadores da instituição, estão trabalhando na formação de um consórcio, com o sugestivo nome de Space2, envolvendo conhecimento sobre espaço, política, agricultura, clima e meio ambiente para desenvolver o primeiro hectare de milho no solo marciano.
A ideia replica algumas iniciativas semelhantes – na Universidade de Arkansas, o foco é tentar viabilizar a produção de arroz naquele planeta. Assim como os colegas do estado vizinhos, os criadores do Space acreditam que as descobertas realizadas nos seus estudos terão mais implicações do que apenas abrir caminho para produtos cultivados em Marte.
De acordo com Pitla e Ge, a pesquisa é importante tanto para ajudar os astronautas em missões fora da Terra quanto para testar novas experiências na agricultura aqui mesmo na Terra.
“Queremos encontrar respostas para perguntas como: quais impactos variáveis como baixa gravidade ou altas temperaturas terão nas plantas?”, explicou Ge ao site AgricultureDive.
Os pesquisadores argumentam que esse tipo de estudo pode levar a avanços inesperados no cultivo de alimentos em ambientes diversos, especialmente numa era de alterações climáticas.
Enquanto o Space2 não sai do papel, o Departamento de Agricultura dos EUA e players da indústria já se mostraram interessados no projeto.
Os pesquisadores acreditam que, a longo prazo, consigam colocar os EUA em pesquisas espaciais de ponta voltadas para a agricultura, principalmente pelo fato da universidade estar localizada no Corn Belt.
“A agricultura é a indústria líder no Nebraska. Nossa experiência na Terra será valiosa no espaço”, disse Yufeng Ge.
Os pesquisadores que lideram a formação do consórcio já participaram em vários outros projetos de pesquisa financiados por universidades, incluindo o cultivo de soja em substrato lunar e a construção de um robô autônomo, o Flex-Ro, que pode plantar e cultivar de forma independente.
Algumas das tecnologias desenvolvidas em pesquisas como essas já foram, de fato, adaptadas para a utilização comercial na terra. Na agricultura urbana, a vertical ou qualquer qualquer sistema de cultivo que ocorra em ambientes fechados, por exemplo, o uso de lâmpadas LEDs especiais, que substituem a luz solar, veio justamente de estudos da NASA sobre iluminação artificial.
Um dos focos do projeto de Nebraska é conduzir experiências para novas tecnologias no solo. Em Marte, o solo é rico em metais pesados. Ao avaliar o desempenho de plantas nesse tipo de ambiente, será possível, segundo os professores, fornecer informações sobre como tornar a agricultura mais resiliente.
“Aqui na Terra, a salinização está se tornando um problema maior. Se aprendermos a dominar os solos lunar e marciano, poderemos descobrir maneiras de aplicar a tecnologia aqui. A resposta será algas? Micróbios? É difícil dizer ainda”, afirma Ge.