Uma das referências em investimento em agtechs no mundo, o fundo de venture capital AgFunder pode ter realizado "um dos investimentos mais importantes de sua história".
Pelo menos é essa a avaliação de Rob Leclerc, fundador da empresa, ao anunciar, via Twitter, que liderou uma rodada de investimento na Nium, startup inglesa com a proposta de acabar com um dos grandes vilões da emissão de carbono no mundo: a produção de amônia para fertilizantes.
Há mais de cem anos, o método mais utilizado para gerar o produto – importantíssimo para o desenvolvimento de fertilizantes e, por consequência, vital em toda cadeia produtiva do agro – é o processo chamado Haber-Bosch.
Basicamente, o método consiste em promover uma reação química que converte hidrogênio e nitrogênio em amônia. O problema é que esse processo tem grande impacto ambiental
A produção de amônia pelo método Haber-Bosch consome cerca de 2% de toda energia produzida no planeta, e de quebra, ainda devolve anualmente cerca de 450 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera no processo.
Pensando nisso, a Nium, startup de nanotecnologia e nova investida do AgFunder, levantou US$ 3 milhões para desenvolver um sistema chamado “Green Ammonia on Demand”.
O projeto permite, segundo a empresa, reduzir custos e emissões no processo de formação da amônia, criando uma espécie de “amônia verde”.
A Nium usará o dinheiro do aporte para montar seus primeiros reatores de pequena escala e baixo consumo de energia – chamados “minions” – que podem fornecer amônia a um custo menor e pegada de carbono também menor.
“Cerca de 70% de toda a amônia produzida vai para fertilizantes, o que a torna crucial para 50% da produção de alimentos do planeta. Mas o amplo suprimento atual de amônia tem um alto custo para o meio ambiente”, afirmou o CEO e cofundador da Nium, Lewis Jenkins, em comunicado oficial.
Para além da pegada ecológica da iniciativa, a amônia verde pode substituir o mais promissor combustível alternativo, o hidrogênio verde.
Na formação do hidrogênio é utilizado eletricidade mais água. O problema, é que esse produto final é caro para armazenar e transportar, como avalia Leclerc.
“Retirando nitrogênio do ar e adicionando um único átomo (N) a três átomos de hidrogênio (H), você obtém outro combustível mais estável e sem carbono, o NH3. O NH3 é o combustível do futuro”, avaliou Leclerc em seu Twitter.
Ele argumenta que esse produto final tem três vezes a densidade de energia do hidrogênio comprimido e pode ser armazenado e transportado com um quinto do custo do outro.
“Atualmente, já existem mais de 8 mil quilômetros de dutos capazes de transportar NH3 nos Estados Unidos e 120 portos ao redor do mundo capazes de lidar com o material”, completa.
Em contrapartida, o transporte de hidrogênio requer alta pressão e armazenamento em temperaturas criogênicas, ou seja, abaixo de 150 graus celsius.
O projeto na prática
O AgFunder liderou a rodada de investimentos com a participação da DCVC e de investidores do Reino Unido e da Europa, incluindo a Carbon13.
A Nium inicialmente fornecerá aos produtores de hidrogênio seu sistema “Green Ammonia on Demand”, colocando os reatores da Nium no local com esses produtores.
Dessa forma, eles podem extrair o hidrogênio da amônia conforme necessário. Além disso, os fazendeiros poderão mover os reatores como quiserem, reduzindo os custos de armazenamento de longo prazo e transporte de longa distância.
“Conversamos com fornecedores de hidrogênio e descobrimos que tínhamos um produto adequado ao mercado para solucionar problemas de armazenamento e transporte. Os fornecedores de [hidrogênio] disseram que fabricam um produto que não gostam de armazenar no local. Custa energia armazenar essa energia”, comentou Jenkins, da Nium.
As ambições de longo prazo da Nium estão nos alimentos e na agricultura, em sistemas que poderão transformar energia solar e eólica na geração do hidrogênio, por exemplo. “Você teria um compressor que retirasse o nitrogênio do ar, enquanto a energia solar e a eólica alimentariam o sistema para sintetizar amônia no local com nosso reator”.
Esse sistema de produção descentralizado seria uma fonte de combustível e fertilizante totalmente auto sustentável para as fazendas.