Distribuidora oficial de gigantes das telecomunicações, como TP-Link e Huawei, no Brasil, a UP2Tech vende de tudo quando se pensa em eletrônicos, de antenas à cabos de fibra óptica.
Nada, no entanto, semelhante ao novo mercado em que deve estrear até dezembro, quando um novo produto passa a integrar seu portfólio. Trata-se do iBoi, brinco digital que consegue rastrear todos os passos das cabeças de gado no rebanho e que marca a entrada da UP2Tech no agronegócio.
A empresa planeja fechar o ano com 20 mil unidades comercializadas do equipamento, com a ambiciosa meta de chegar à marca de 1 milhão de unidades vendidas já no ano que vem.
A ideia surgiu há dois anos quando o engenheiro Rodrigo Abreu, criador e CEO da UP2Tech, conversava com um amigo pecuarista de Minas Gerais, que disse ver uma oportunidade na área ainda inexplorada pelo setor de tecnologia.
"Ele me contou que faltava um equipamento que você possa colocar na orelha do boi que dê a geolocalização, que permita criar cercas virtuais e que possa fazer com que o animal sirva como garantia, sem precisar dar dinheiro ou terra", recorda. "Aí eu virei para ele e disse: 'Vou dar um jeito nisso'”
Abreu correu para a China, onde tinha contatos devido à produção de eletrônicos, e começou a elaborar a produção de um brinco com um desenvolvedor de Xangai.
Os aparelhos que serão comercializados agora vêm de uma fábrica da cidade chinesa de Hangzhou para o Brasil, já com toda a tecnologia embarcada.
"O nosso brinco é um eSIM [chip virtual]. A gente manda o perfil elétrico das operadoras de telefonia ou das redes privadas para a China e o brinco é confeccionado", afirma.
O iBoi é capaz de receber sinais 4G das grandes redes de telefonia como Claro, Vivo e TIM. Para garantir que o equipamento nunca perca conectividade, a UP2Tech também estabeleceu parcerias com a Datora, uma operadora móvel virtual (MVNO, que significa, em inglês, Mobile Virtual Network Operator), e com a Solis, empresa que estrutura redes privadas no campo.
“O produtor pode levar esse brinco para uma outra fazenda dele, que tem a cobertura da TIM, da Claro ou da Vivo, e vai funcionar normalmente. A gente nunca vai perder cobertura”, afirma.
O iBoi já possui homologação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a UP2Tech aguarda apenas a emissão do certificado, prevista para sair nesta quinta-feira, dia 17 de outubro, de acordo com Abreu.
Os brincos, que pesam 30 gramas e são afixados na orelha do boi, já estão sendo testados em seis fazendas há cerca de seis meses. Parte dos testes foram realizados dentro do projeto Fazenda Conectada, da TIM e da Case IH, em Água Boa (MT).
Os equipamentos são dotados de tecnologias como GPS e de RFID (identificação por radiofrequência) e o protocolo Narrowband IoT, que permite a conexão entre dispositivos e redes e é utilizado em tornozeleiras eletrônicas.
Com o acessório, os produtores poderão monitorar todos os passos do gado, identificando onde o boi está no momento e nas últimas 12 horas, se está vivo ou não e também se ultrapassou as “cercas virtuais” das propriedades. "E se alguém cortar o brinco, chega um alerta via aplicativo ou dashboard”, afirma.
Todos esses dados ficam em nuvens em data centers de grandes empresas como Tencent e AWS, da Amazon, e são disponibilizados via desktop ou em aplicativos de celular nos sistemas operacionais iOS, da Apple, e Android.
Abreu diz que a bateria dos equipamentos, que já chegam carregados da China, chega a durar um ano, sem necessidade de cargas nesse período. E, quando a bateria termina, o recarregamento pode ser feito via conexão USB em apenas uma hora.
A ideia da UP2Tech, porém, não é vender os brincos, mas sim serviços de conectividade por assinatura, explica Abreu.
A empresa vai ofertar duas modalidades: light, mais simples, focada em geolocalização; e full, que vai trazer os dados espaciais e agregará outras funções de apoio ao manejo, como contagem dos passos do gado, dados climáticos e informações sobre a temperatura corpórea dos animais.
“Se o boi, já com o brinco aplicado, ficou parado por certo tempo, é possível mandar a localização do brinco e um capataz pode ir lá verificar se o animal está com alguma anomalia”, exemplifica Abreu.
Os preços dos serviços ainda estão sendo definidos, mas a ideia, segundo Abreu, é que a modalidade mais simples custe mensalmente cerca de R$ 3,80 por brinco. Já full, algo como R$ 5,90. "Não pode ser algo como R$ 15 por mês. Queremos que caiba no bolso do fazendeiro", defende ele.
Abreu argumenta também que os custos do brinco são mais baixos em comparação com o sistema Sisbov, que é mecanismo oficial de identificação individual de bovinos e búfalos no País e funciona ainda de forma analógica.
“Hoje uma fazenda precisa de um auditor do sistema sanitário para identificar se o gado está com Sisbov, se o boi está lá, se saiu da fazenda. Com o nosso brinco, ele pode dispensar esse custo, porque consegue essa informação de forma remota”, afirma.
Além de melhorar a visibilidade do gado no campo, a UP2Tech também almeja que os brincos sejam utilizados pelos fazendeiros na hora de negociar garantias fiduciárias com instituições financeiras.
Para isso, a empresa firmou uma parceria com a certificadora digital Valid para a emissão de certificados que comprovem a existência do rebanho brincado.
Essa operação, é claro, ainda depende da concordância dos bancos em incluir um certificado digital em suas transações com os pecuaristas, mas Abreu é otimista quanto à adesão das instituições.
“Eles ainda não toparam porque não viram a ferramenta rodando, mas os bancos estão só esperando o lançamento”, afirma.
Como potenciais clientes do produto, a UP2Tech mira os pecuaristas que atuam na fase de recria do gado. Abreu diz que está fechando contratos de vendas dos primeiros brincos com quatro clientes, que são confinadores com propriedades no Mato Grosso e Goiás.
A UP2Tech deve fechar o ano com um faturamento de R$ 350 milhões e pretende aumentar esse montante para R$ 500 milhões no ano que vem. A conta não inclui o faturamento esperado com as vendas do iBoi, que deve alcançar cerca de R$ 200 milhões já em 2025.