O esforço da Raízen para reduzir e mudar o perfil de sua dívida sofreu mais um baque nesta quinta-feira, 27 de novembro. Em comunicado protocolado na CVM pela manhã, o grupo sucroenergético que tem a Cosan e a Shell como sócoas controladoras informou que teve o seu rating corporativo rebaixado pela Moody’s, uma das principais agências classificadoras de rating do mundo.

Segundo a nota, a classificação da Raízen caiu do nível ‘Baa3’, último patamar considerado como grau de investimento pela Moody’s, para ‘Ba1’, primeiro piso na classificação de grau especulativo.

Os ratings refletem uma visão dos analistas da Moody's, com base em informações de mercado, a respeito da capacidade de um emissor, seja país ou empresa, de fazer pagamentos pontuais de um instrumento de dívida. Ao atribuir o rating ‘Ba1’, a agência aponta que considera que esse emissor tem um risco de crédito "questionável".

O comunicado da Raízen informa também que essa nota “permanece sob revisão para possível rebaixamento”, com a perspectiva mantida sob revisão.

O rebaixamento ocorre menos de duas semanas após a companhia divulgar seu balanço referente ao segundo trimestre (período de julho a setembro de 2025) do ano-safra 2025/2026.

Os resultados vieram aquém do esperado pelo mercado e indicaram também um avanço da dívida líquida, que atingiu R$ 53,4 bilhões, com uma expressiva alta de 48,8% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre da safra, o indicador estava em R$ 49 bilhões.

A alavancagem, medida pela relação da dívida líquida e o Ebitda ajustado dos últimos 12 meses, praticamente dobrou, de um patamar de 2,6 vezes no mesmo período de 2024 para as atuais 5,1 vezes.

O resultado financeiro líquido se deteriorou e chegou a R$ 2,72 bilhões negativos, um salto de 61% impulsionado pelo CDI mais alto (14,9% ante 10,4%) e pelo maior estoque de dívida.

Apesar do aumento da dívida, a empresa tem obtido sucesso em alongar os prazos de pagamento. No balanço, a Raízen informou que, da dívida bruta de R$ 68 bilhões, que desconsidera a posição de caixa, R$ 61 bilhões dos vencimentos estão no longo prazo.

Para as analistas Camila Dolle e Mayara Rodruigues, da XP, a decisão da Moody’s “reflete a deterioração dos indicadores de crédito da Raízen, marcada por alta alavancagem e geração de caixa negativa persistente”.

Em relatório enviado a seus clientes após a divulgação da informação, elas apontam que “a Moody’s projeta que não haverá recuperação relevante no curto prazo para níveis compatíveis com grau de investimento — como dívida bruta/EBITDA abaixo de 3,0x e fluxo de caixa livre positivo —, considerados essenciais para mitigar a volatilidade do setor sucroenergético”.

Elas destacam que, mesmo as injeções de capital oriundas de desinvestimentos — que somaram R$ 900 milhões no trimestre e indicam mais R$ 3,9 bilhões a receber nos próximos meses —, foram insuficientes, até agora, para encarar o cenário financeiro complexo em um momento de taxas de jutos altos em um segmento que exige investimentos elevados em sua operação.

O relatório da XP também lembra que a estratégia atual da gestão da Raízen, que pode incluir um aumento de capital pelos controladores e novas vendas de ativos, é fundamental para evitar um novo rebaixamento.

“Sem essas ações, a probabilidade de novo rebaixamento aumenta, especialmente se dívida/EBITDA seguir acima de 3,5x e RCF/Net Debt abaixo de 20% — patamar que está significativamente distante do atual”, escrevem as analistas.

“Por outro lado, na visão da Moody’s, uma reversão para perspectiva positiva exigiria redução expressiva da dívida, geração consistente de fluxo de caixa livre e manutenção de liquidez adequada — condições que parecem distantes no horizonte próximo”.

Resumo

  • Raízen perde o grau de investimento e Moody's revê rating de Baa3 para Ba1, sob revisão para possível novo rebaixamento
  • Dívida líquida sobe 49% para R$ 53,4 bi e alavancagem dispara para 5,1x, com geração de caixa negativa e resultado financeiro deteriorado
  • Relatório da XP aponta que decisão da Moody’s “reflete a deterioração dos indicadores de crédito da Raízen”