Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre até a próxima sexta-feira, 21 de novembro, o País está tendo a oportunidade de liderar um dos debates mais importantes do nosso tempo: a sustentabilidade na produção de alimentos. Neste contexto, a pecuária brasileira assume um papel de destaque como parte essencial da solução para os desafios climáticos globais.
Nas últimas décadas, o setor passou por uma transformação profunda. Com base em ciência, inovação e gestão eficiente, o Brasil construiu um modelo de pecuária que alia produtividade e responsabilidade ambiental. O resultado é uma cadeia mais moderna, que produz mais carne em menos área, com menor consumo de recursos naturais e redução consistente das emissões de gases de efeito estufa.
Genética de ponta, manejo reprodutivo avançado, nutrição balanceada, qualidade do solo e das pastagens e rastreabilidade são alguns dos pilares dessa nova pecuária. A pecuária brasileira de hoje não é a mesma de décadas atrás, boas práticas em saúde, nutrição e bem-estar animal estão permitindo expandir a produção de proteínas de forma sustentável.
As tecnologias estão mudando o jogo e diversos estudos internacionais reforçam essa percepção. Doenças nos rebanhos podem elevar as emissões de gases de efeito estufa em até 113% na pecuária de corte e em 24% na produção de leite.
Por outro lado, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) aponta que tecnologias relacionadas à saúde animal têm potencial para reduzir as emissões do setor em até 35% até 2050. Já a consultoria Oxford Analytica indica que a simples prevenção de doenças poderia significar uma redução de até 800 milhões de toneladas de emissões.
Casos reais de transformação no campo
Exemplos concretos dessa mudança já se multiplicam pelo País. No Mato Grosso, o grupo Canivete Pool, formado por cerca de 70 produtores, pretende entregar mais de 200 mil animais criados com técnicas de mitigação de carbono em 2025. A iniciativa mostra que a sustentabilidade deixou de ser um conceito abstrato e passou a ser uma estratégia de negócio.
Na fazenda Santa Maria, em Rondonópolis (MT), a produtora Flavia Cutolo reduziu drasticamente as emissões do rebanho ao adotar intensificação e diversificação produtiva. Antes espalhadas em quatro propriedades que somavam 16.500 hectares, as 8 mil cabeças de gado hoje ocupam apenas 2.300 hectares altamente produtivos.
O restante da área foi destinado à agricultura em sistema de integração lavoura-pecuária, o que aumentou o sequestro de carbono e a fertilidade do solo. O resultado é um balanço de carbono de apenas 16,7 quilos de CO₂ equivalente por quilo de carcaça, bem abaixo da média nacional, que gira em torno de 30 quilos.
Outro caso de destaque é o da Agropecuária Palmares, em São Gabriel D’Oeste (MS). Com o uso de tecnologias de manejo e nutrição, a propriedade alcançou uma produtividade de 180 arrobas por hectare, 36 vezes superior à média brasileira, e reduziu seu balanço de carbono para 11,9 kg de CO₂ equivalente por quilo de carcaça. Esses são resultados que comprovam que a sustentabilidade é tecnicamente possível e economicamente viável.
Uma agenda global pela saúde animal
A Health for Animals, entidade global que representa a indústria de medicamentos veterinários, com apoio estratégico do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), está liderando um movimento internacional para posicionar a saúde animal como pilar da sustentabilidade.
A COP30 marca o início desse alinhamento setorial, que deve se consolidar nas próximas décadas. Como sustenta a Health for Animals, animais mais saudáveis significam maior eficiência, menor impacto ambiental e benefícios claros para produtores e para a sociedade. A lógica é que prevenir doenças é mais sustentável do que tratá-las e mais eficiente do que lidar com suas consequências.
Saúde animal como eixo de sustentabilidade
A indústria de saúde animal desempenha um papel decisivo nesse novo cenário. Vacinas, antiparasitários, aditivos nutricionais e ferramentas de diagnóstico são aliados diretos na busca por eficiência. Animais saudáveis atingem peso ideal mais rapidamente, demandam menos tempo no sistema produtivo e consomem menos recursos como água, terra e ração. Essa é a essência da sustentabilidade, que é produzir mais com menos. Mas, para que o impacto positivo se amplie, é fundamental garantir que pequenos e médios produtores também tenham acesso a essas tecnologias.
A COP30 representa, portanto, uma oportunidade histórica para mostrar ao mundo que a pecuária brasileira é parte da solução climática. Com ciência e responsabilidade, o campo brasileiro reafirma seu papel de protagonista na construção de um futuro mais equilibrado entre produção e preservação.
Emílio Salani é vice-presidente executivo do Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal)