O biodiesel vem aumentando a sua fração no diesel. Em agosto de 2025, atingiu 15% em volume e projeta-se crescimento 1% ao ano nos próximos anos.
Por suas propriedades intrínsecas, melhorou a qualidade do ar, gerou empregos na cadeia produtiva, ampliou a oferta de farelo proteico, reduziu a dependência de diesel importado e é importante aliado na redução das emissões de gases de efeito estufa. Daí sua importância estratégica.
O biodiesel evoluiu muito em termos de qualidade e hoje atende a uma das especificações mais rigorosas do mundo (RANP 920), o que contribuiu para a quase ausência de relatos de problemas. Por seu turno, o diesel que recebe o biodiesel também passou por alterações e aprimoramentos.
Como consequência, o consumidor brasileiro tem à disposição um produto com qualidade e excelência equiparáveis às dos mercados avançados do mundo.
Ainda assim, persistem problemas pontuais associados ao manuseio do combustível. O biodiesel sai da usina com qualidade, assim como o diesel da refinaria, mas é difícil assegurar como o produto é tratado após a mistura nas distribuidoras para que não perca suas propriedades.
O caminhão que o transporta, os tanques de revendas e de grandes consumidores e, até mesmo, as rotinas dos responsáveis pelos combustíveis podem, por desconhecimento, gerar problemas por vícios de manuseio, transporte ou armazenamento.
O combo diesel/biodiesel precisa ser bem tratado: pode contaminar-se, absorver umidade, desenvolver colônias de fungos e bactérias.
A cadeia de produção e distribuição é longa e é essencial que todos tomem suas precauções. No lado da produção do biodiesel, as associadas da Abiove implementaram, desde 2020, o selo de qualidade Bio+.
De forma voluntária, as detentoras do selo oferecem produto com características e controles especiais, reconhecidos pelos adquirentes, que atestam sua qualidade superior. Agora, em outubro, foi concluído com êxito mais uma certificação, com as usinas dando um show de eficiência e respeito ao consumidor.
Essa experiência inspira uma reflexão: como extrapolar a excelência do Bio+ para garantir que todo o diesel B consumido no Brasil siga um padrão elevado?
Certamente, isso passa por mecanismos robustos de rastreabilidade, baseados em controles volumétricos e documentação, de forma a permitir que quaisquer problemas sejam rapidamente mapeados e solucionados em sua causa raiz.
A disseminação de certificações rigorosas ao longo da cadeia também pode fortalecer os controles na distribuição e na revenda.
Para que isso avance, é fundamental ampliar a comunicação entre os agentes da cadeia produtiva, em especial com o consumidor, para que ele conheça seus direitos de receber um produto especificado. Informado, o consumidor pode exigir de seus fornecedores a adoção de boas práticas, conforme determina a RANP 968.
Mais do que isso: que todos os agentes, a exemplo das usinas do Bio+, cumpram além do mínimo legal, praticando níveis de excelência que, diga-se, são plenamente possíveis. Se o consumidor mostrar que se importa com isso, a realidade muda.
Não basta apenas um se apresentar; é válido, mas pode ser melhor. Demais agentes, apresentem-se. Vamos virar esse jogo. Consumidores, exijam qualidade. É o melhor que podemos fazer por uma economia pujante e por um meio ambiente saudável para todos.
Vicente Pimenta é consultor técnico da Abiove.