O mercado de agtechs entrou em 2025 mais maduro, além de mais seletivo do que em anos anteriores. Pelo menos essa é a visão da Rural, empresa que se propõe a ser um ecossistema de agtechs no País.

Segundo a companhia, o capital está voltando ao setor, mas indo apenas para empresas que mostram eficiência real no campo.

É diante deste contexto de retomada, que ainda engloba outros cenários macroeconômicos de preços de commodities instáveis, uma reforma tributária no horizonte, sustentabilidade em voga e, é claro, capital para alimentar a inovação, que a Rural preparou o Rural Day, evento que acontecerá no próximo dia 26, no Cubo Itaú, em São Paulo.

O momento complexo que permeia o cenário de agtechs, e que será abordado ao longo da programação do evento, tem um reflexo na própria Rural - que antes era conhcida como Rural Ventures -, que há pouco mais de um ano tenta ocupar um espaço maior do que o de investidora de startups do agro, se posicionando como uma articuladora de ecossistema.

Fernando Rodrigues, CEO e cofundador da Rural, cita que essa virada se deu por uma percepção que a companhia teve só depois de iniciar sua atuação: não adianta investir sem criar demanda, sem formar o “mercado consumidor” de tecnologia dentro das fazendas e das empresas.

“Entendemos que o venture capital não teria tração tão rápida, porque o público-alvo ainda não estava preparado”, afirmou ao AgFeed.

“Era preciso fazer um trabalho para trás: educar, comunicar melhor, trazer tecnologias mais simples e palpáveis. Não adiantava colocar dinheiro se não tínhamos uma base de produtores e corporações prontas para contratar inovação”, acrescentou.

O que antes era uma gestora que investia num formato de Club Deal, agora virou uma plataforma com diversos braços: educação, conteúdo, um canal de validação via parceiros, consultoria para corporações entenderem onde faz sentido inovar, inteligência de mercado sobre o pipeline de startups e, claro, um fundo para investir em agtechs.

Rodrigues disse que a companhia deve finalizar as captações, que estão caminhando a pleno vapor, e colocar o seu fundo de R$ 50 milhões no mercado até o final do ano. A ideia do veículo é investir em até 20 agtechs nos próximos três anos.

“O investimento é a ponta final. Se temos acesso aos melhores deals, temos de investir — senão, o ecossistema não gira. Educação, comunidade, evento, conexão e, no fim, capital. É assim que a roda anda”, diz o CEO da Rural.

Esse reposicionamento, que começou em meados de 2024, ganhou corpo desde então, e e o evento, que funciona como termômetro do mercado de inovação no agro, vai para sua segunda edição daqui duas semanas para mostrar justamente essa retomada nos investimentos.

Segundo dados compartilhados pela empresa, os aportes em Food & AgTech no Brasil cresceram cerca de 80% no primeiro semestre, já superando o total do ano de 2024. Desconsiderando o mega aporte de US$ 30 milhões na Mombak, de reflorestamento, o avanço é de 19%.

“2025 está trazendo mais investimento do que o ano passado, posso garantir”, diz Fernando Rodrigues, CEO da Rural.

“Acredito que o segundo semestre ainda vai ser melhor que o primeiro. Vamos apresentar o número consolidado no evento — mas posso dizer que a retomada é real”, adiantou o executivo.

Os dados fazem parte do estudo “Rural Tech Report 2025”, e serão apresentados por Juliana Chini, sócia da Rural, em um painel durante o evento.

O pano de fundo ajuda a explicar por que a Rural insiste tanto na analogia com o mercado financeiro da virada dos anos 2000. Para Rodrigues, falta ao produtor o que faltava ao investidor pessoa física naquela época: vocabulário, referência, prática e incentivo.

“Me faz lembrar quando ninguém sabia o que era IPCA+ ou CDI+. Hoje, qualquer pessoa tem noção básica do que está comprando. Isso aconteceu porque houve um trabalho de educação. No agro, estamos fazendo esse mesmo caminho”, afirma.
Segundo ele, o produtor precisa entender que eficiência produtiva é o que vai permitir colher uma “terceira safra de dados” e usar isso para acessar, por exemplo, melhores condições de crédito ou de operações de barter.

A narrativa casa com os sinais do mercado, com um agro mais apertado nas margens. Isso fez, segundo Rodrigues, as corporações reduzirem apostas em inovação aberta. Com isso, vê que as agtechs que continuaram crescendo foram justamente as que entregam eficiência imediata.

O Rural Day ainda promete ser maior do que sua edição anterior. Diferentemente de 2024, que ocupou apenas a tarde, o evento de 2025 será o dia inteiro e dividido em dois mundos: o “agro real” pela manhã e o “agro tecnológico” à tarde.

“Expandimos a programação para o dia todo porque queremos trazer as duas interfaces. De manhã, vamos discutir reforma tributária, commodities, cenário macro e o que realmente está acontecendo. À tarde, mostramos as startups, quem ganhou o prêmio AgriMatching, e lançamos o relatório anual”, disse Sarah Bernardo, analista de marketing da Rural.

Durante a tarde, o Rural Day ainda contará com a participação do ex-ministro Roberto Rodrigues, que desembarca direto da COP 30 para falar sobre sustentabilidade, justamente um dos temas que mais puxaram investimentos no ano, segundo o relatório.

É essa lógica que, para a Rural, define o ano e orienta o caminho daqui para frente. “O objetivo é aumentar o uso de tecnologia no agro”, resume Rodrigues. “Não dá para ficar com 12% de adoção. É educação, evento, conexão e investimento. É criar um mercado consumidor e fazer ele girar”, finalizou.

Resumo

  • A Rural realiza no dia 26 o Rural Day, no Cubo Itaú, dividido entre “agro real” pela manhã e “agro tecnológico” à tarde
  • Empresa vê retomada do capital em agtechs, com aportes em Food & AgTech no Brasil crescendo 80% no 1º semestre
  • O evento apresentará o report anual de agtechs e reunirá debates sobre commodities, reforma tributária, macro e sustentabilidade