A rastreabilidade de commodities alimentares e energéticas para comprovação da origem e das boas práticas de produção, principalmente ambientais, não tem mais volta. É com essa avaliação que a Justoken pretende triplicar sua receita e multiplicar por até dez vezes a movimentação de grãos e outros produtos agrícolas entre 2025 e 2026.
“Fiquem certos de que vai acontecer. Nós achamos que não tem volta atrás para que a rastreabilidade seja uma realidade em todas as transações. Tem pressão de todos os lados para que a rastreabilidade aconteça”, resumiu Eduardo Novillo Astrada, CEO e fundador da Justoken, em entrevista ao AgFeed.
Ainda sob o nome de Agrotoken, a agtech desenvolveu a plataforma Traceability & Sustainability Explorer (T&S Explorer), que integra blockchain, dados de satélites e IA para comprovar origem e desempenho ambiental em cadeias agroindustriais sob padrões internacionais.
Os primeiros passos foram dados com a Raízen, gigante do setor energético, em um projeto para o rastreio de açúcar e etanol da companhia, mas que ainda engatinha. Mas o passo que alavancou a agtech foi a parceria com a Bunge, outra gigante, mas do setor de grãos e alimentos, para o monitoramento de soja negociada globalmente.
Mais de 1 milhão de toneladas de grãos da Bunge, a maioria para a asiática CP Foods, foram negociadas com o rastreio desde a produção no Brasil.
“Desenvolvemos a ferramenta para que seja uma plataforma aberta. Uma plataforma não só para Bunge, mas para todo o mercado”, afirmou o CEO da Justoken, lembrando que a empresa mudou de nome justamente por oferecer soluções para além do agronegócio.
O negócio avançou de transações majoritariamente do Brasil para a Ásia, a soluções da vizinha Argentina para a Oceania, com vendas rastreadas para Austrália e Nova Zelândia. Segundo Astrada, além de outras tradings, a Justoken está em fase final de negociação com a Ambev, para rastrear a cevada exportada pela Argentina.
De olho no consumidor final, a agtech procurou também a Nestlé para que a cadeia inteira seja integrada e a rastreabilidade seja avaliada, por exemplo, por meio de um QR code nos produtos comercializados no varejo.
Mas a aposta da Justoken é na European Union Deforestation Regulation (EUDR), legislação europeia que tenta impedir que produtos de sete commodities – madeira, gado, cacau, café, óleo de palma, borracha e soja – oriundos de áreas desmatadas ou degradadas após 31 de dezembro de 2020 sejam comercializados.
Adiada algumas vezes, a lei pode entrar em vigor em 30 de dezembro deste ano e obrigar, empresas a comprovar que os produtos não vieram de terras desmatadas e que o país de origem tem uma legislação de desmatamento, como o Brasil tem neste segundo ponto. A comprovação viria de plataformas de rastreabilidade como a Justoken.
“Estamos convencidos e seguros de que ninguém vai poder exportar nada se não tiver uma certificação de origem”, disse Astrada, que não se preocupa com um novo adiamento da EUDR. “Talvez a coisa vá um pouco devagar, seja feita um pouco mais tarde, mas vai acontecer”, completou.
Com a EUDR e a consolidação no setor de grãos e fibras, a Justoken já conversa com a cadeia de café, pecuária de corte e arroz. De 1 milhão de toneladas em 2025, Astrada projeta entre 5 milhões e 10 milhões de toneladas movimentadas no próximo ano, “com visão de que a plataforma vire padrão do mercado e que todo mundo utilize para exportar commodities”.
A empresa espera finalizar 2025 com uma receita entre R$ 18 milhões e R$ 20 milhões. Mas os planos de crescimento para 2026, se concretizados, devem triplicar a receita da Justoken, de acordo com o CEO, para R$ 60 milhões.
Resumo
- A Justoken, parceira da Bunge, quer triplicar sua receita para R$ 60 milhões em 2026 e rastrear até 10 milhões de toneladas
- A plataforma T&S Explorer usa blockchain, IA e dados de satélite para garantir origem e sustentabilidade de commodities
- Com a futura exigência da EUDR europeia, a empresa aposta na rastreabilidade como padrão obrigatório no comércio global