“Com tanta riqueza por aí, onde é que está? Cadê sua fração?”. O trecho da canção “Até quando esperar”, do álbum de estreia da banda Plebe Rude, “O Concreto Já Rachou”, de 1986, é usado como exemplo por Éder Giglioti para exemplificar o que ele pretende entregar ao produtor de cana com o novo projeto da Smartbreeder.

Batizada como Novo Código Genético, a plataforma pretende gerar ganhos de até 25% em termos de produtividade, com o uso da inteligência artificial para praticamente personalizar desde o plantio até a colheita, passando pelo manejo, em cada talhão das lavouras de cana-de-açúcar.

“Nessa riqueza, o produtor vai buscar logo de cara a fração”, explicou Giglioti, fundador e CEO da Smartbreeder, em entrevista ao AgFeed.

Com acesso a um banco de dados de lavouras de 125 usinas clientes e um aprendizado a partir de bilhões de informações colhidas em aproximadamente 4 milhões de hectares durante dez safras de cana-de-açúcar, a Smartbreeder partiu do geral para chegar ao específico.

Giglioti explica que a agtech conseguiu separar cada um dos do 650 mil talhões dessa lavouras - cada talhão tem, em média, 300 metros por entre 500 e 1 mil metros - e avaliar todo o comportamento durante o período de uma década.

A lupa virtual é capaz de apurar dados presentes desde a variedade e o espaçamento utilizado, até o índice pluviométrico, o ambiente de plantio e como foram os cortes e as ações de máquinas.

“Cada talhão é um indivíduo, reage de uma forma diferente às ações em sua volta. São mais de mil fatores que caracterizam esse pedaço de terra e sabemos até a ‘cor da blusa’ de cada um”, explicou o CEO da Smartbreeder.

A avaliação em cada produtor e cliente no projeto-piloto em 2 milhões de hectares, incluiu a captação e a transferência diária de todas as informações e ainda de imagens de satélite a cada três dias para que tudo fosse armazenado no banco de dados da agtech, considerado pelo CEO da companhia como “o maior que existe do setor”.

Como resultado, o projeto conseguiu reunir mais de mil fatores de interação por talhão na área avaliada. “Com isso, podemos recomendar onde, quando e como ele irá investir cada centavo para colocar a variedade certa no talhão certo, além de todo o manejo necessário”, promete Giglioti.

Mas, na cultura de cana-de-açúcar, cada variedade fica pelo menos seis anos no campo, um ano do plantio até começar a produzir e mais cinco cortes. Por isso, a agtech propõe contratos de cinco anos com os clientes para que seja feito uma readequação varietal ao longo do período com a renovação ano a ano.

Lançado em outubro do ano passado, o projeto consumiu R$ 15 milhões de investimentos da Smartbreeder captados com o fundo norte-americano EcoEnterprises. Agora é a hora de transformar o piloto em realidade. Giglioti espera uma taxa de conversão de até 80% dos parceiros para se tornarem clientes da plataforma Novo Código Genético.

Na aposta que a solução trará até 25% a mais de produtividade nos canaviais, a agtech oferece contratos de longo prazo com pagamentos das maiores fatias no futuro, quando, imagina, o produtor terá os resultados positivos e mais receita nas lavouras.

O modelo previsto para grandes produtores e para remunerar a companhia em reais por hectare também prevê outros formatos mais “democráticos” destinados aos pequenos produtores, empresas de insumos e até estudantes e universidades, segundo o CEO.

Mais frações

Os planos da Smartbreeder são ambiciosos e passam por consolidar a atuação no mercado de cana e expandir para outras culturas de grãos, frutas, fibras e florestas. Para isso, a agtech iniciou um novo projeto de captação de até R$ 25 milhões no mercado.

“Temos vários interessados, tanto de investidores raiz como de estratégicos e até estratégicos que já são usuários. Pelo interesse, o processo de expansão vai ser muito rápido e até março já esperamos ter definida essa captação, em tempo para a próxima safra”, afirmou

Empresa especializada em IA e no conhecimento agronômico profundo, a Smartbreeder foi fundada em 2009 e está presente em seis estados brasileiros. Garante possuir o maior banco de dados agrícolas do setor no mundo, com operações em 25 mil fazendas registradas.

Dos 120 funcionários, 45 são agrônomos e 45 são cientistas de dados, os quais, segundo o Giglioti, “trabalham de mãos dadas” nas operações.

Por meio da agronomia preditiva, computação cognitiva e inteligência artificial generativa, a Smartbreeder estima ter evitado perdas de mais de R$ 3 bilhões por meio do desenvolvimento de soluções baseadas em ciência e IA para antecipar cenários, otimizar recursos e impulsionar a produtividade em todo o agronegócio.

Resumo

  • A Smartbreeder criou o “Novo Código Genético”, sistema com IA que analisa mais de mil fatores por talhão para personalizar o manejo da cana
  • A plataforma, baseada em dados de 125 usinas e 4 milhões de hectares, pode aumentar em até 25% a produtividade dos canaviais
  • Após investir R$ 15 milhões no projeto-piloto, a agtech busca captar R$ 25 milhões para levar a solução a outras culturas agrícolas