Com um valor de mercado de cerca de US$ 50 bilhões, a multinacional de insumos Corteva estaria considerando colocar em prática uma cisão que fatiaria seus negócios de sementes e pesticidas em duas empresas diferentes.

As informações foram divulgadas inicialmente por uma reportagem do periódico The Wall Street Journal no final da última sexta-feira, dia 12 de setembro.

O jornal norte-americano diz que a separação dos negócios viria para mitigar os riscos do negócio de sementes, de forma que não fosse afetado por eventuais responsabilidades futuras envolvendo os produtos químicos para controle de pragas e ervas daninhas comercializados pela companhia.

Dessa forma, a Corteva evitaria o caminho da concorrente Bayer. Desde que adquiriu a Monsanto, em 2018, adquirindo tanto a área de sementes da companhia americana, quanto a divisão de defensivos, a Bayer acabou enredada em várias disputas judiciais envolvendo o uso do herbicida RoundUp, que fazia parte do portfólio da Monsanto e que é acusado por agricultores americanos de ter causado câncer.

Em maio passado, eram cerca de 67 mil processos em andamento em causas envolvendo o produto, consumindo montante significativo dos US$ 16 bilhões que a companhia alemã reservou até agora para acordos na Justiça.

Corteva e Bayer disputam a preferência dos agricultores nos mercados de sementes de soja e milho nos principais países agrícolas. Juntas, as duas detêm cerca de 70% de market share nas duas culturas nos Estados Unidos. A Corteva atua principalmente com a marca Pioneer, mas também é dona da Brevant. Na soja, a Corteva, com a marca Enlist, encara a dominância da Intacta no campo das biotecnologias transgênicas.

No ano passado, a Corteva obteve globalmente US$ 17 bilhões em receita. Desse total, mais de US$ 9,6 bilhões vieram do negócio de sementes, com os restantes US$ 7,4 bilhões sendo originados pela divisão de defensivos.

O movimento da Corteva também lembra uma estratégia semelhante da concorrente Basf.

Há um ano, a empresa anunciou que faria o IPO de sua divisão agrícola responsável pela fabricação de insumos como herbicidas e fungicidas, avaliada em aproximadamente 16,5 bilhões de euros, segundo relatório do Jefferies Financial Group, como relatou o AgFeed em fevereiro passado.

A ideia é dar mais visibilidade para essa área da companhia. Apesar de responder por cerca de 15% do faturamento total, a divisão teria suas perspectivas de lucro subestimadas pelos investidores, avalia a direção da Basf. O IPO deve ser parcial e não tem nada definida para acontecer.

A própria Corteva surgiu a partir de uma cisão de sua companhia-mãe, a DowDuPont, empresa que havia sido criada em 2017, com a união entre Dow Chemical e DuPont.

Dois anos depois após essa fusão, nasceu a Corteva, que se tornou uma empresa independente, com foco no segmento agrícola, vendendo defensivos e sementes.

O WSJ avalia ainda que a operação, se concretizada, poderia inaugurar uma nova onda de negócios no mercado agrícola norte-americano que não era vista desde o primeiro mandato do presidente Donald Trump.

No período, dois negócios significativos foram fechados no setor: a compra da Monsanto pela Bayer e a aquisição da Syngenta pela ChemChina, em 2017, por US$ 43 bilhões, em um momento de baixos preços de grãos, que pressionou as margens do setor e levou à tendência de consolidação.

Os investidores da Bolsa de Nova York, na qual a Corteva é listada, não receberam bem a notícia. Às 11h25 desta segunda-feira, dia 15 de setembro, as ações recuavam 4,32%, cotadas a US$ 71,08.

Procurada, a assessoria da Corteva disse ao AgFeed que não tinha um posicionamento sobre a reportagem do WSJ.

Resumo

  • A Corteva avalia separar seus negócios de sementes e pesticidas em duas companhias distintas, para reduzir eventuais riscos ligados a produtos químicos, segundo o The Wall Street Journal
  • Plano segue estratégias já vistas no setor, como a própria cisão da DowDuPont que deu origem à Corteva, no passado
  • A notícia repercutiu negativamente no mercado, com as ações da Corteva caindo mais de 4% na Bolsa de Nova York nesta segunda-feira