Belém (PA) – No começo da manhã desta sexta-feira, 14 de novembro, indígenas representando o povo Munduruku bloquearam a entrada principal da Blue Zone, área restrita a negociadores climáticos, no Parque da Cidade, em Belém.

O grupo reivindicava uma reunião urgente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a revogação do decreto nº 12.600/2025, que abre espaço para a concessão à iniciativa privada de hidrovias nos rios Tapajós, Tocantins e Madeira, na Amazônia, além da aceleração de demarcação de terras indígenas.

A pedido do presidente Lula, o presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago, e as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sonia Guajajara, dos Povos Originários, se reuniram com os manifestantes.

No encontro, além de trazer suas demandas, os indígenas também criticaram a construção da Ferrogrão e pediram o cancelamento do projeto da ferrovia. Planejada para ligar Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), rasgando a Amazônia para escoar grãos do Centro-Oeste, a Ferrogrão está há mais de uma década no papel.

Embora uma nova rota tenha sido apresentada pela EDLP, a idealizadora da ferrovia, na metade do ano, retirando a passagem por terras indígenas, o empreendimento continua enfrentando forte oposição de povos originários – ao mesmo tempo em que conta com apoio do governo federal.

Guardas em profusão

Não houve confusão, mas a segurança foi reforçada no local, mesmo após o fim da manifestação. Já no fim da manhã, este repórter viu guardas da Força Nacional, posicionados em fila, portando fuzis, em frente à entrada da conferência. Um grande contingente da Polícia Militar paraense também estava a postos.

Resposta à ONU

Por toda a Blue Zone, já se percebem pequenos avanços na infraestrutura. Foram instaladas mais placas de sinalização – inclusive indicando o ponto de encontro de táxis e carros por aplicativo – e latas de água mineral passaram a ser distribuídas gratuitamente aos participantes na entrada.

Ainda assim, alguns problemas persistem: o ar-condicionado na “feira” dos países continua sem funcionar, obrigando alguns estandes, como a da Arábia Saudita, a recorrerem a um ventilador improvisado para enfrentar o calor.

E a segurança, reforçada

Além do aumento visível do policiamento, os controles de acesso ficaram mais rígidos inclusive dentro da Blue Zone. Na entrada da sala de imprensa, fiscais agora verificam cuidadosamente as credenciais de quem entra e sai – um contraste em relação ao início da semana, quando qualquer pessoa, mesmo sem ser jornalista, conseguia circular pelo espaço. Na segunda-feira, por exemplo, este repórter levou o CEO global da UPL, Jai Shroff, para uma entrevista no local sem qualquer abordagem.

A Carta de Belém

O setor de biocombustíveis lançou, nesta sexta-feira, a Carta de Belém. O documento recomenda à conferência que seja feito um esforço internacional coordenado para quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.

O texto pede ainda que seja reconhecido o papel estratégico dos combustíveis sustentáveis no apoio à implementação das NDCs – metas de redução de emissões de gases do efeito estufa – das partes da conferência. A Unica coordenou a criação do documento, que contou ainda com apoio de Anfavea, Bioenergia Brasil e Instituto MBCBrasil.

Cachorro-quente com... carne moída?

Belém continua surpreendendo os visitantes. Ao pedir um cachorro-quente, este repórter só percebeu depois um detalhe importante: aqui, o lanche é servido com carne moída, no estilo paraense, sem ketchup, sem mostarda – e acompanhado de salada de repolho. Ainda que este repórter continue preferindo a versão tradicional com salsicha, a experiência valeu a pena.