Na COP 30, em Belém (PA), governos e empresas têm duas semanas para provar que a transição climática também pode ser um bom negócio. Nesse meio, a Lojas Renner quer mostrar que até a moda tem seu espaço nas discussões.

Entre os estandes e debates sobre energia, alimentos e carbono, a rede varejista levará para o evento o seu projeto “Florestas de Algodão”, que une agrofloresta, ciência e relação com produtores rurais.

A iniciativa, criada em parceria com a FarFarm e a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), começou de forma experimental há alguns anos e amadureceu desde então. O algodão cultivado sob o modelo agroflorestal inclusive já abasteceu coleções da empresa pela marca Ashua, conectando práticas regenerativas à escala industrial.

A empresa chega à conferência com números que reforçam essa visão de sustentabilidade como vetor de resultado. Segundo dados da companhia, em 2024 as iniciativas ambientais - que incluem o projeto - da Renner geraram efeitos líquidos positivos de R$ 100 milhões no resultado operacional e as projeções indicam geração de caixa entre R$ 191 milhões e R$ 217 milhões nos próximos dez anos.

“Nosso projeto mostra que é possível ir além da redução de impactos. Estamos ajudando a regenerar territórios, fortalecer comunidades e redesenhar a moda”, afirma Eduardo Ferlauto, diretor de Sustentabilidade da companhia.

A proposta de unir floresta e moda nasceu em 2023, quando o projeto ainda era conduzido de forma piloto em Santo Antônio do Leverger (MT), no Cerrado mato-grossense.

A meta era simples: testar, em pequena escala, como o algodão cultivado em consórcio com espécies nativas poderia regenerar o solo e capturar carbono.

O modelo agroflorestal combina árvores frutíferas, espécies agrícolas e nativas, criando um ecossistema produtivo mais equilibrado. Hoje, o Florestas de Algodão ocupa dois hectares, mas a empresa já trabalha para escalar o modelo.

Ferlauto explica que o avanço será gradual e guiado pelos resultados científicos obtidos até aqui. “Precisávamos entender muito bem o manejo antes de expandir. Agora estamos calibrando os dados, estudando novos territórios e impactos sociais maiores. A progressão vai acontecer, mas com base sólida”, diz.

Na parte florestal, foram usadas 22 espécies de árvores ou frutíferas, como bananeiras ou pés de maxixe, ou madeireiras nativas. São 250 árvores por hectare.

Segundo medições conduzidas pela UFMT, os sistemas implantados sequestram em média 18,37 toneladas de CO2 por hectare ao ano. Ferlauto estima que o cultivo de algodão tradicional emite, em média, 4 toneladas de carbono por ano em cada hectare.

“Queríamos entender quanto de carbono de fato esse algodão emite versus quanto captura e o balanço foi extremamente positivo”, avalia Ferlauto.

As análises de solo e biodiversidade também mostraram avanço expressivo. Houve, segundo a empresa, um aumento de 38% na biodiversidade microbiológica sequestradora de carbono e elevação de até 22 vezes na diversidade de espécies quando comparado a áreas convencionais. Segundo o diretor, o sistema não possui irrigação e nem utiliza insumos químicos.

Além do ganho ambiental, o projeto impactou diretamente 10 famílias de agricultores, que adotaram o manejo regenerativo nas suas propriedades. “O comparativo de 2023 para 2024 mostra aumento de renda em 60% das famílias. E em seis casos a renda dobrou a partir da nova forma de cultivo”, diz Ferlauto.

A produtividade média do algodão agroflorestal cultivado na fazenda experimental da UFMT variou entre 1,3 e 2 toneladas em caroço por hectare.

Para efeito de comparação, a média estadual de algodão no Mato Grosso, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), foi estimada em 308,08 arrobas por hectare na safra 2024/25, equivalente a pouco mais de 2 toneladas por hectare.

No mesmo espaço das agroflorestas, ainda são cultivados milho, feijão e hortaliças.

Ferlauto explica que, por trás do resultado, há um equilíbrio entre ciência e saber local. “Antes de ir a campo, a universidade montou uma fazenda experimental para testar hipóteses de manejo e entender o que sequestra mais carbono. Depois, contamos com a ‘inteligência ancestral’ das comunidades. É um modelo que mistura conhecimento científico e prático”, diz.

O projeto, que começou com dois hectares experimentais, será expandido de forma gradual com base na calibração dos dados de solo e carbono. “Não vai virar de dois para quinze hectares em um ano, mas vai acontecer progressão. Estamos construindo pavimentos sólidos, com base científica, para continuar com novas experimentações”, diz Ferlauto.

A Renner apresentará o Florestas de Algodão em alguns eventos durante a COP 30, junto com a Farfarm e a UFMT. A ideia, segundo o diretor, é mostrar a continuidade do projeto e os resultados.

“O que queremos deixar muito claro nessa COP é que trabalhamos de forma séria em relação às nossas metas de redução de emissão. É importante mostrar os exemplos para engajar o setor privado, além de uma chance de nós, como empresa brasileira, mostrarmos a liderança ambiental do País”, disse.

Para o futuro, o objetivo é ampliar o escopo do projeto e adaptá-lo a novos territórios. “Agora precisamos articular, entender regiões e impactos sociais maiores. O Cerrado foi o ponto de partida. O próximo passo é levar esse modelo para outros biomas e escalar de forma responsável”, conclui.

O projeto faz parte da estratégia climática da Lojas Renner, que prevê reduzir em 55% as emissões por peça produzida e ter 100% das roupas feitas com matérias-primas mais sustentáveis até 2030, além de alcançar a neutralidade climática em 2050.

Em 2024, a companhia se tornou a primeira varejista do país com metas de descarbonização validadas pelo SBTi.

Resumo

  • Lojas Renner leva à COP30 o projeto Florestas de Algodão, que cultiva a pluma em consórcio com espécies nativas e frutíferas
  • Desenvolvido junto à UFMT e a FarFarm, projeto sequestrou carbono e aumentou a biodiversidade local, além de aumentar a renda de agricultores participantes
  • Em 2024, as iniciativas ambientais da Renner tiveram efeito líquido positivo de R$ 100 milhões no resultado operacional

Diversidade de espécies convivem nas agroflorestas do projeto

Roupas da coleção produzida com algodão regenerativo pela Renner