Donald Trump sucumbiu à pressão inflacionária - e ao peso econômico de suas decisões sobre seu prestígio político. Ao final da tarde desta sexta-feira, 14 de novembro, a mesma assinatura que ele imprimiu nos decretos que inflingiram tarifas adicionais para a importação de produtos básicos para a alimentação dos americanos foi usada para baixar as taxas recíprocas, numa tentativa de aliviar o custo de vida nos Estados Unidos.
A mais recente ordens executiva do presidente americano determinou a retirada, em alguns casos, ou o rebaixamento das tarifas básicas incidentes sobre produtos como cafés, carnes bovinas, bananas e tomates, além de outros itens como castanhas-do-pará, caju, coco, laranja e outras frutas tropicais. A decisão de Trump é retroativa a 13 de novembro.
Nos últimos dias, Trump e alguns de seus principais assessores, como o secretário do Tesouro, Scott Bessent, já vinham antecipando a possibilidade de que produtos que fazem parte da dieta diária dos americanos poderiam ser incluídos na lista de exceções das tarifas, em mais um esforço de fazer baixar os preços dos alimentos, que vinham em alta desde que o presidente introduziu sua política comercial externa.
Um levantamento do The Wall Street Journal com base em dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA aponta que os preços médios de varejo do café torrado e moído chegaram a subir mais 40% nos últimos doze meses, até setembro passado.
A carne bovina moída teve elevação média de 11,5% e a banana, 8,6% desde setembro de 2024. No mesmo período, a taxa de inflação geral registrada no país ficou na casa dos 3%.
Publicada pelo site da Casa Branca, a ordem executiva de Trump causou consfusão, até que fossem esclarecidas sobre seu verdadeiro alcance e sobre como ficarão, efetivamente, as tarifas de importação dos produtos citados.
Ainda na noite de sexta-feira, por exemplo, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) emitiu nota, assinada por seu presidente, Marcio Ferreira, em que cita que sobre o produto brasileiro incidem duas duas tarifas: a base, de 10%, e a adicional, de 40%, referente ao Artigo 301.
"É necessário, contudo, análise para entender se esse novo ato se aplica apenas à tarifa base de 10%, à de 40% ou a ambas", afirma a nota. "O Cecafé está em contato com seus pares americanos, neste momento, para analisar, cuidadosamente, a situação e termos noção do real cenário que se apresenta".
Mais tarde, o esclarecimento veio, mostrando que a decisão de Trump tratava apenas das tarifas básicas recíprocas, que jpa existiam antes de o presidente americano aplicar taxas adicionais. No caso do Brasil, essas tarifas adicionais atingem 40%.
Assim, o alívio atinge apenas a fração mais baixa dos tributos alfandegários cobrados pelos americanos, mas ainda assim ajudam a melhorar as condições de exportação dos produtos brasileiros.
Os dois governos ainda negociam a redução ou mesmo a exclusão das tarifas adicionais. Na quinta-feira, 13 de novembro, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, encontraram-se nos Estados Unidos para tratar do assunto. Mas a conversa ainda não resultou em nenhum avanço efetivo nesse sentido.
(Reportagem atualizada às 23h de 14 de novembro para incluir esclarecimentos sobre abrangência da decisão de Trump)
Resumo
- Pressionado pela alta dos alimentos, Trump revoga ou reduz tarifas recíprocas sobre café, carnes, bananas, tomates e frutas tropicais
- Preços haviam dispararado: café +40%, carne moída +11,5% e banana +8,6% em 12 meses, acima da inflação de 3%
- Anúncio primeiro causou confusão sobre abrangência dos cortes, mas depois foi esclarecido que eles não atingiam as tarifas adicionais de 40% sobre produtos brasileiros