Belém (PA) - Lieven Cooreman, ex-CEO de companhias de fertilizantes como Eurochem e Galvani, chegou há três meses à suíça Atlas Agro para comandar a empresa. Desde então, vem se movimentando para acelerar o projeto da empresa de implantar o que poderá ser a primeira fábrica de fertilizantes produzidos a partir de hidrogênio verde no Brasil, a ser construída em Uberaba (MG), que poderá custar US$ 1,1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões).
Para encontrar uma forma de viabilizar esses investimentos vultosos, Cooreman disse ao AgFeed que tem conversado com grandes instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de instituições de investimento internacionais e multilaterais.
Mas, antes disso, o executivo explica que será necessário finalizar os estudos de engenharia do projeto, que custarão US$ 20 milhões (cerca de R$ 110 milhões). Para isso, a empresa busca investidores adicionais para aportar esses recursos.
“Estamos procurando um co-sponsor, que obviamente vai colocar parte deste dinheiro, para avançarmos nos próximos 10 a 12 meses”, explica Cooreman, que conversou com a reportagem após a realização de um painel nesta sexta-feira, 14 de novembro, na AgriZone, espaço do agro paralelo à realização da COP 30, em Belém.
Assim, com o andamento deste estudo, a ideia da Atlas Agro é de tomar uma decisão final sobre o investimento em Uberaba no primeiro trimestre de 2027. A partir daí, segundo Cooreman, a construção da unidade levaria 36 meses, com a operação da fábrica começando a partir do primeiro trimestre de 2030.
“Para financiar um projeto deste tamanho, precisa haver uma engenharia avançada, uma precisão sobre Capex, porque o risco do projeto é bastante mitigado e os financiadores chegam com dinheiro”, diz o executivo.
Até o momento, a Atlas Agro conseguiu US$ 9 milhões com investidores, afirma Cooreman. A companhia conquistou apoiadores importantes até o momento, como a Industrial Transitional Accelerator (ITA), organização multissetorial lançada durante a COP 28, de Dubai, que tem como objetivo conectar uma rede de indústrias, instituições financeiras e governos para ajudar a desbloquear investimentos de larga escala em soluções de descarbonização.
A ITA não atua com financiamento dos projetos, mas, segundo a sua diretora, pode ajudar a conectar a Atlas Agro a potenciais investidores, que participam da organização. Um exemplo é a Glasgow Financial Alliance for Net Zero, que reúne alguns dos maiores fundos de investimento do mundo.
Outro apoiador relevante é a gestora australiana Macquarie Asset Management, dona de um dos maiores fundos do mundo dedicados à área de infraestrutura, que se comprometeu a aportar US$ 325 milhões na companhia.
Cooreman diz que a Atlas Agro já possui contratos comerciais assinados com clientes importantes, ainda sob sigilo, no valor de US$ 470 milhões (R$ 2,7 bilhões) em contratos de fornecimento desse produto no futuro para quando a planta começar a operar.
Ainda no ano passado, a companhia também firmou um memorando de entendimentos com a empresa Casa dos Ventos para o fornecimento de energia renovável para a produção de hidrogênio verde na futura unidade.
Nesta semana, Cooreman diz que a companhia assinou um protocolo de intenções com o governo de Minas Gerais para que fique isenta de pagamentos de ICMS.
A expectativa da Atlas Agro é de produzir, em Minas, 42 mil toneladas por ano de hidrogênio verde, gerando 225 mil toneladas de amônia verde e 630 mil toneladas de nitrato de amônia.
Além do projeto em Uberaba, Cooreman não descarta a possibilidade de implantar outras unidades em diferentes regiões do Brasil.
“O projeto de Minas Gerais primeiro tem que virar realidade, mas a ideia é construir outros projetos similares nos hubs agrícolas do Brasil, seja no norte de Mato Grosso ou no oeste da Bahia. Essas seriam, digamos, as próximas fases”, afirma o executivo.
Resumo
- Atlas Agro busca US$ 20 mi para estudos de engenharia e viabilizar fábrica de US$ 1,1 bi de fertilizantes com hidrogênio verde em Uberaba, prevista para 2030
- Empresa já captou US$ 9 mi, firmou contratos futuros de US$ 470 mi e tem apoio de players globais como ITA e Macquarie, além de acordo de energia com a Casa dos Ventos
- Decisão final de investimento deve sair em 2027; projeto pode abrir caminho para novas plantas em hubs agrícolas como MT e oeste da Bahia.