No Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a safra 2025/2026 se iniciou com um “trimestre de bastante consistência nos resultados, avanços de entregas técnicas, pipeline e capitalização”.
Pelo menos foi assim que definiu o diretor financeiro e de relações com investidores do CTC, Paulo Polezi, ao AgFeed, o período entre abril e junho na companhia de biotecnologia em cana-de-açúcar.
No intervalo, equivalente ao primeiro trimestre do ano-safra 2025/2026, o CTC registrou uma receita líquida de R$ 110,6 milhões, alta de 16,3% em relação ao mesmo período do ano anterior e o melhor resultado para um primeiro trimestre na história da empresa.
Polezi cita que esse avanço está diretamente ligado ao avanço de market share que as variedades desenvolvidas pela empresa tem na área plantada de cana, que atingiu 28% neste trimestre, avanço de 3 pontos percentuais em um ano.
“Estamos colhendo resultados que o CTC vem plantando há trimestres e anos, no sentido de conseguir chegar na frente do cliente com o portfólio maior de variedades, e variedades mais completas”, disse Polezi.
Além disso, o uso de tecnologias mais recentes (lançamentos a partir de 2020) alcançou 81% desta área plantada, frente aos 70% observados no mesmo período da safra anterior.
O lucro líquido do CTC foi de R$ 49,2 milhões, um avanço de 15,3% na comparação anual. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) foi de R$ 54,4 milhões no trimestre, 8,8% acima do primeiro trimestre do ano 2024/25. A posição de caixa ao final de junho era de R$ 398 milhões, 5,2% maior em um ano.
“Os números nos deixam confiante para continuar. De um lado essa receita e do outro tivemos uma manutenção do investimento em pesquisa em desenvolvimento, que envolve equipe, folha de pagamento, itens intangíveis que se revertem em mais oferta de produtos no futuro”, afirmou o diretor.
Os investimentos em P&D somaram R$ 58,3 milhões, patamar 25% maior em um ano. No balanço, o CTC cita que o aumento refletiu o avanço de pesquisas nas frentes de melhoramento genético, biotecnologia e ousado projeto de sementes sintéticas.
Em relação ao último, a empresa informou que iniciou no trimestre a construção da planta demonstrativa. Em abril, quando o AgFeed visitou a sede da empresa durante o CTC Day, executivos detalharam que essa primeira planta receberá R$ 100 milhões em investimentos.
O objetivo é que essa unidade tenha uma capacidade produtiva para sementes que cubram mil hectares por ano, sendo 500 hectares por turno fabril. A ideia é que até o ano que vem a produção já esteja nos 250 hectares por turno.
Ao longo do trimestre, a empresa ainda aprovou um aumento de capital de R$ 250 milhões. Agora, o capital social do CTC está em pouco mais de R$ 812 milhões. Segundo o balanço, o montante foi subscrito e integralizado pelos acionistas, grupo que inclui gigantes do setor sucroenergético como Copersucar, Raízen, São Martinho e Tereos, além do BNDES.
Paulo Polezi cita que o aumento de capital tem duas razões de ser. A primeira é contábil. Pela política de distribuição mínima de dividendos, somada a um lucro crescente, a reserva de lucros do CTC foi crescendo e bateu no teto e, pelas normas contábeis, essas reservas não podem ultrapassar o capital social.
A segunda razão diz respeito aos próprios planos de crescimento do CTC. A empresa hoje tem mais de R$ 1 bilhão em projetos em andamento.
“Os administradores decidiram em assembleia, olhando os projetos para o futuro como as plataformas de melhoramento, genético, projeto de semente artificial e planta demonstrativa, capitalizar a empresa. Reforçamos o capital prevendo o avanço desses projetos”, diz.
“Com os juros nesse patamar elevado e incertezas na economia, foi um movimento para garantir a execução tendo recursos. Fizemos a capitalização pensando nisso, em diluir os riscos e garantir capital para os próximos anos do CTC”, afirmou o diretor financeiro.
Um ano difícil para a cana (não para o CTC)
O primeiro trimestre do ano fiscal do CTC coincide com o primeiro tri do “ano da cana”, que segundo a própria empresa, não começou tão promissor.
No balanço, em uma espécie de panorama do setor, o CTC cita que, ainda sob os efeitos adversos das condições de clima em 2024, os canaviais enfrentaram desafios até junho.
A empresa pontuou que a produtividade agrícola acumulada recuou 10,9% até o mês, com um TCH, indicador que reflete a quantidade de toneladas de cana por hectare, em 79,1.
“O ATR (açúcar total recuperável) médio acumulado registrou queda de 3%, alcançando 122,2 kg por tonelada de cana, em função do atraso no desenvolvimento dos canaviais e do predomínio de plantas ainda imaturas”, disse a empresa.
O CTC ainda acrescentou que a moagem acumulada no Centro-Sul atingiu 206,2 milhões de toneladas, retração de 14,1% na comparação anual, influenciada pela menor disponibilidade de matéria-prima e pela quebra de produtividade no campo.
A produção de açúcar somou 12,25 milhões de toneladas no período, queda de 14,3%. O mix de produção foi ajustado em favor do açúcar, com 51% da cana direcionada à fabricação do produto,refletindo a maior atratividade do mercado internacional e a tendência açucareira observada no início da safra.
Já a produção total de etanol alcançou 9,43 bilhões de litros, redução de 14,8% em relação ao mesmo intervalo do ciclo anterior.
Paulo Polezi cita que esses indicadores não atrapalham tanto os negócios e que até se transformam em oportunidades comerciais. “No sentido contrário, para aumentar produtividade por conta de questões climáticas, conseguimos nos posicionar para oferecer variedades com resistência maior ao stress hídrico”, diz.
Resumo
- O CTC registrou receita líquida recorde de R$ 110,6 milhões no primeiro trimestre da safra 2025/26, com lucro de quase R$ 50 milhões e um market share de 28% no plantio de cana
- A empresa investiu R$ 58 milhões em P&D, incluindo o projeto de sementes sintéticas, e ainda fez um aumento de capital de R$ 250 milhões para financiar expansão e garantir recursos frente a incertezas econômicas.