No trimestre em que completou 100 anos de existência, comemorados no último 12 de maio, a Kepler Weber, a maior companhia de silos e soluções de armazenagem do Brasil, registrou queda no lucro líquido e em suas margens operacionais.
O resultado enfraquecido, divulgado nesta quinta-feira, dia 7 de agosto, é fruto de uma conjuntura que mescla juros altos e preços mais baixos de soja, restringindo os investimentos feitos pelos produtores rurais. Mas, mesmo com essa dinâmica de mercado, a empresa e seus principais executivos seguem otimistas para a metade final do ano.
Entre abril e junho deste ano, o lucro líquido da companhia foi de R$ 14,4 milhões, 61,1% a menos do que no mesmo período do ano passado, quando havia registrado lucro líquido de R$ 37 milhões.
O Ebitda (sigla para Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) também apresentou recuo, chegando a R$ 37,9 milhões, queda de 40% em relação ao número visto há um ano. A margem Ebitda, por sua vez, retraiu 7,1 pontos percentuais, passando de 19,3% no segundo trimestre do ano passado para 12,2% neste ano.
A receita operacional líquida também caiu, passando de R$ 327,8 milhões no segundo trimestre de 2024 para R$ 311,1 milhões agora.
Na divisão por áreas, a maior retração veio da área de portos, terminais e biocombustíveis, que recuou 60,8%, passando de R$ 37,5 milhões no segundo trimestre de 2024 para R$ 14,7 milhões no mesmo período deste ano.
Na sequência, o segmento de fazendas, relevante para a companhia, teve queda de 7,5%, passando de R$ 103,6 milhões para R$ 95,8 milhões.
A área de negócios internacionais, por sua vez, teve ligeira queda de 0,4%, passando de R$ 31 milhões para R$ 30,9 milhões.
Em contrapartida, o segmento de agroindústrias registrou alta de 9,2% no período, passando de R$ 98,2 milhões para R$ 107,2 milhões, bem como a área de reposição e serviços, que também registrou aumento de receita, passando de R$ 57,6 milhões para R$ 62,5 milhões, alta de 8,4%.
“A queda representa uma mistura de soja e juros. O produtor está sentindo a dor, precisa fazer investimento e está priorizando o investimento em armazenagem. Só que ele está com pouco caixa e está apertando todos os fornecedores para fazer negócio. Isso impacta a nossa margem”, diz Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber.
“Trata-se de um resultado bastante duro, esperado pela companhia, mas com sinais muito bons, também como a gente imaginava, de uma recuperação”, emenda Nogueira.
Um desses sinais, segundo ele, está no fato que o mês de junho concentrou 56% de todo o Ebitda do trimestre – somando, portanto, R$ 21,2 milhões – sinalizando uma retomada do ritmo de vendas e entregas ao longo do período.
“Junho é o começo do crescente das nossas receitas. Pelo fato da gente ter um SG&A muito bem controlado e gastos estruturais também bem controlados, começamos a ter naturalmente uma diluição de custo e, naturalmente, conseguimos um Ebitda muito melhor”, diz Renato Arroyo, diretor financeiro e de relações com investidores (RI) da Kepler.
No segundo trimestre, a companhia apertou os cintos e diminuiu em 3% suas despesas gerais e administrativas, que somaram R$ 24,1 milhões no período. “A companhia fez o dever de casa com despesas gerais. A gente vê que, apesar da inflação, conseguimos atenuar e ter inclusive uma queda nas despesas”, avalia Bernardo Nogueira, o CEO.
Dessa forma, a Kepler mantém o caixa sob controle. “A gente sai de um caixa de R$ 357 milhões ao final de março e aterriza com um caixa ligeiramente melhor em junho, mesmo tendo pago R$ 70 milhões de dividendos no período”, diz Arroyo, diretor financeiro e de RI.
Além desses R$ 70 milhões, Arroyo adianta que a companhia vai fazer um novo pagamento de dividendos – e também de JCP – de R$ 25 milhões a seus acionistas.
“Mesmo num ciclo desfavorável, a gente está gerando caixa, está pagando dividendos, conseguindo ser bastante rentável e tendo sucesso”, complementa Nogueira.
Outro sinal de que os próximos resultados podem apresentar números melhores está no fato de que a carteira contratada da companhia cresceu 13,8% no segundo trimestre de 2025 – volume recorde em uma década, segundo Nogueira. “Esse número remete, não no terceiro trimestre, mas já no quarto trimestre e para 2026, um aumento também gradual no volume”, explica o CEO.
No segundo trimestre deste ano, apesar do recuo na receita, houve um aumento de 32,9% na base de clientes faturados nesta área. “Esse aumento de clientes está muito ligado a uma pulverização maior dos negócios. São mais negócios com ticket menor”, diz Nogueira. De qualquer forma, a Kepler espera que a contratação de novos projetos impulsione os resultados do segundo semestre.
Dessa forma, a tendência é de que as áreas de fazendas e negócios internacionais registrem crescimento na metade final do ano, diz Nogueira. “A gente vê o número do faturamento de fazendas se aproximar muito do ano passado”, afirma o CEO. No ano passado, a receita de fazendas foi de R$ 519,9 milhões.
Por sua vez, a área de negócios internacionais – que representava cerca de 7% do portfólio da empresa no ano passado e deve aumentar neste ano – vem deixando os líderes da companhia mais otimistas em relação ao futuro, principalmente pelos negócios feitos na Argentina.
No país vizinho ao Brasil, a companhia já tem como clientes os “maiores e melhores” players de cadeias como arroz, trigo e soja, segundo Bernardo Nogueira, e agora vê possibilidade de novos negócios.
“A Argentina saiu de zero de faturamento para a Kepler em 2022 e 2023 e agora está representando 30% do negócio internacional neste ano, com oportunidade de crescimento”, diz o CEO.
Nogueira destaca dois fatores que favorecem a entrada da empresa no mercado argentino: a obsolescência das estruturas atualmente em uso no país, que estão sucateadas e sem renovação, e a localização estratégica da principal unidade fabril da companhia, em Panambi (RS).
“Está a 200 quilômetros da Argentina”, ressalta o CEO da Kepler. “Temos a faca e o queijo na mão para aproveitar essa retomada do país com investimentos e abertura.”
Ele também compara o país vizinho ao estado de Mato Grosso, destacando o potencial de crescimento de ambos. “Argentina e Mato Grosso têm mais ou menos o mesmo tamanho de safra. Mato Grosso enfrenta um déficit de armazenagem enorme, superior a 50%, e a Argentina está sucateada. Os dois têm um potencial parecido no médio prazo, nos próximos três anos”, projeta.
Já o avanço de 8,2% na área de reposição e serviços no segundo trimestre reforça a ideia, na avaliação de Nogueira, de que a estratégia de diversificação da companhia está no caminho certo. “Como o agro é cíclico, essas frentes ajudam a reduzir essa ciclicidade”, opina.
Na véspera da divulgação do balanço, a companhia adquiriu mais 8.962 ações ordinárias da Procer, subsidiária especializada em soluções digitais para armazenagem de grãos. O valor da operação foi de R$ 5,7 milhões.
A Kepler já possuía 50% mais uma ação do capital da companhia e adquiriu ações que pertenciam a um dos sócios-fundadores. A empresa, criada em Criciúma (SC) em 2011, foi adquirida pela Kepler em 2023 e deve ter 100% das ações até 2028.
Resumo
- Lucro líquido da Kepler Weber, maior companhia de silos e soluções de armazenagem no Brasil, cai 61,1% no segundo trimestre, com retração também no Ebitda e na margem operacional
- Segmentos de agroindústrias e serviços avançam no trimestre, enquanto áreas ligadas a portos e fazendas apresentam queda
- Empresa mantém otimismo para o segundo semestre, com foco em crescimento no exterior e diversificação de áreas