O coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), Guilherme Bastos, é pessimista quando o assunto são as negociações do governo brasileiro para evitar o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, incluindo os agropecuários.

“Não vejo espaço para uma solução até dia 1º de agosto, quando está previsto a entrada em vigor das tarifas”, avaliou Bastos durante palestra no Congresso Brasileiro de Soja, em Campinas (SP), nesta terça-feira, 22 de julho.

Para Bastos, o “processo doloroso” para o agronegócio já começou antes mesmo do prazo de início das tarifas e já freou embarques de produtos brasileiros aos Estados Unidos. A grande preocupação são produtos perecíveis, como frutas e pescados, que não podem aguardar as negociações.

“É uma nova realidade que temos que conviver, mas pode ser que haja uma prorrogação no prazo e aí possamos avançar nas negociações”, ponderou o coordenador do FGV Agro.

“É preciso avançar nessas conversas, porque eles são mais fortes que nós e seria uma saída para evitar perdas maiores aqui”, completou.

Ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Bastos falou no evento sobre a geopolítica com foco ambiental e avaliou que a atual política do governo norte-americano prega o abandono das agências multilaterais criadas com o suporte dos Estados Unidos, entre elas a FAO e a OMC.

“Temos uma geopolítica em mutação, com a liderança dos Estados Unidos em xeque e a China em crescimento, o que gera um clima de insegurança”, afirmou.

Nessa linha, o executivo cobrou do agronegócio brasileiro, principalmente da soja, uma maior disponibilização de informações para ratificar que a cultura, maior do agronegócio interno e externo do Brasil, é produzida com sustentabilidade.

“Faltam dados e informações. Como eu vou dizer para o mundo que produzimos de forma sustentável se os produtores não mencionam aos órgãos públicos, nem ao Ministério da Agricultura, nem ao Banco Central, sobre como produzem?”, disse.

“Chegamos ao ponto de ouvir absurdos de que os Estados Unidos têm mais plantio direto que o Brasil porque eles têm os dados”.

Reciprocidade ambiental

No mesmo evento, o consultor da Comissão Nacional do Meio Ambiente e da Coordenação de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Justus de Brito, falou sobre a reciprocidade, mas focou na questão ambiental do termo e não na econômica.

Segundo ele, na questão da produção sustentável, o Brasil tem de exigir que outros países façam o que lhe é cobrado e aqui é feito por lei. É o caso das nações da União Europeia em relação às cobranças, por exemplo, das áreas de reserva legal e nas áreas de preservação permanente.

“A soberania de cada país cabe aos outros respeitarem. Mas, no caso da reciprocidade, o Brasil deve exigir dos demais países no tratamento o mesmo que nos exigem”, afirmou o consultor da CNA.