O Brasil está diante de uma escolha estratégica. Não se trata de escolher entre países ou blocos, mas de decidir se vamos reagir aos acontecimentos ou assumir o protagonismo sobre o nosso destino.
O mundo está em reconfiguração. Cadeias produtivas, alianças geopolíticas e critérios de valor estão mudando com velocidade inédita. Nesse cenário, quem tiver clareza de propósito e coragem para se antecipar pode ocupar espaços que ficarão fechados por décadas.
A carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao governo brasileiro, acompanhada do anúncio de novas tarifas com início marcado para o dia 1º de agosto, deve ser lida com sobriedade.
Mais do que uma manifestação isolada, ela simboliza um novo tempo. Um tempo em que comércio, política e valores passam a ser negociados no mesmo tabuleiro.
A forma como o Brasil responde a esse gesto poderá definir não apenas o tom da nossa diplomacia, mas também a posição que ocuparemos nas cadeias globais de valor e nas novas alianças estratégicas.
Ao invés de alimentar tensões ou silenciar diante do desconforto, o Brasil pode transformar esse episódio em impulso para uma agenda positiva.
Reafirmar, com serenidade e firmeza, nossa disposição de dialogar, cooperar e ampliar parcerias com os Estados Unidos e com todos os países que respeitem nossa soberania e compartilhem compromissos com o desenvolvimento sustentável.
O que está em jogo não é apenas um relacionamento bilateral, mas a forma como nos colocamos no mundo: como ator passivo ou como nação construtora de soluções.
Já temos ativos únicos. Produzimos alimentos, energia limpa, inovação tropical. Somos uma das poucas grandes democracias com estabilidade institucional, matriz verde e mercado interno robusto.
A transição energética, a segurança alimentar e a reconversão industrial global nos oferecem um palco estratégico. Mas para estar nesse palco, precisamos chegar com projeto, com ambição e com competência.
Há exemplos concretos de que isso é possível. O Brasil transformou seu agro em potência mundial com base em ciência, empreendedorismo e política de longo prazo. Construiu uma matriz elétrica limpa e segura, que poucos países podem replicar. Desenvolveu instituições técnicas que sobrevivem a governos.
Agora, pode fazer o mesmo com a bioeconomia, com os minerais estratégicos, com a reindustrialização verde e com a educação do futuro. Só falta alinhar intenção com ação.
Essa transformação exige um pacto. Não entre partidos, mas entre gerações. Um compromisso nacional que ultrapasse ciclos eleitorais e organize o país para pensar em décadas.
A política pode ajudar muito nesse processo, especialmente quando assume seu papel mais nobre: o de formular rumos e unir diferentes setores em torno de um propósito comum.
Os diplomatas, os parlamentares, os formuladores de políticas públicas têm, neste momento, a chance de converter um limão amargo em uma limonada histórica. Basta que compreendam a oportunidade e estejam dispostos a construí-la com generosidade e estratégia.
O Brasil não precisa escolher entre ser coadjuvante ou hostil. Pode ser parceiro. Pode ser ponte. Pode ser protagonista. Mas o tempo para decidir é agora. O mundo se move. E o futuro, como sempre, espera por quem está pronto.
Gustavo Diniz Junqueira é empresário e atua nos conselhos de administração do fundo Exagon, da Alper Seguros, da AgriBrasil e da Capturiant. Foi secretário estadual de Agricultura em São Paulo.