O Brasil está no centro das atenções globais. Com a COP30 se aproximando e sendo sediada pela primeira vez no coração da Amazônia, o mundo observa e pergunta: o que o Brasil tem a oferecer frente às crises globais?

Mas a pergunta precisa ser de mão dupla: o que o Brasil precisa do mundo para cumprir esse papel?

A resposta para a primeira pergunta é clara: o Brasil é peça-chave para três seguranças que sustentam o futuro do planeta — a segurança alimentar, a segurança climática e a segurança energética.

No debate climático, um dado estrutural muitas vezes passa despercebido: a necessidade de tropicalização das soluções. Enquanto cerca de 75% das emissões globais vêm da queima de combustíveis fósseis, no Brasil, 75% das emissões estão associadas ao uso da terra — especialmente desmatamento (cerca de 50%) e práticas agropecuárias (aproximadamente 25%).

Isso exige uma leitura diferente. Soluções como eletrificação de frotas, isolamento térmico e substituição de carvão, típicas de países do norte, não respondem aos desafios centrais do Brasil.

Aqui, o caminho passa por zerar o desmatamento ilegal, especialmente na Amazônia, e adotar uma agricultura regenerativa e tecnologicamente avançada.

Inovação tropical como diferencial estratégico

O protagonismo brasileiro na agenda ambiental só será sustentável com investimento massivo em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I). A produção tropical exige soluções sob medida — e o Brasil já está desenvolvendo algumas das mais promissoras do mundo

• Biocombustíveis, como etanol e biodiesel, oferecem alternativas reais aos fósseis, com infraestrutura já estabelecida.
• Agricultura e Pecuária regenerativa e os programas como o ABC+ promovem ganhos de produtividade com restauração de solo e baixa emissão.
• Restauração de áreas degradadas e reflorestamento são respostas concretas à pressão por mais produção sem expansão da fronteira agrícola.
• Melhoramento genético vegetal e animal permite adaptação a estresses climáticos crescentes – como seca, calor ou excesso de chuvas.
• Irrigação eficiente, aliada ao uso racional da água, amplia a resiliência dos sistemas produtivos frente às oscilações do clima.

Essas soluções não apenas respondem às demandas ambientais, como abrem novos mercados, agregam valor aos nossos produtos e geram ainda mais empregos de qualidade. Mas precisam de apoio coordenado entre governo, empresas e instituições de pesquisa, entre outros atores.

O agro como parte da solução

O agronegócio brasileiro tem condições concretas de liderar essa transformação. Já estão em curso ações de grande impacto, e o desafio agora é de escala. Marcos como o Plano Nacional de Conversão de Áreas Degradadas (antigo PNCPD, hoje renomeado Caminhos Verdes) são muito importantes, mas é necessário aprofundar e integrar esses mecanismos com o setor produtivo e com as especificidades regionais.

Financiamento climático: mais do que recursos, é uma questão de prioridade

Fala-se muito em falta de dinheiro, mas o problema central é de prioridade. Os números são reveladores: subsídios a combustíveis fósseis somam cerca de US$ 7 trilhões por ano, enquanto os investimentos em clima (prometidos, não transferidos ainda) ficam na casa de US$ 1,3 trilhão — e apenas uma fração é destinada à agropecuária sustentável ou restauro florestal.

O Brasil precisa de acesso a financiamento climático, mercados de carbono (voluntário e regulado) e reconhecimento internacional de seus esforços e potencial. É hora de transformar promessas em parcerias concretas e duradouras, transformar belos discursos em uma agenda robusta de aceleração da implementação.

A COP30 como ponto de inflexão

A realização da COP30 no Brasil é mais do que simbólica. Ela representa uma oportunidade geopolítica única de reposicionar o país como liderança em clima e bioeconomia (sendo o agro parte importante desta agenda). Para isso, é fundamental articular governo, setor privado, sociedade civil e comunidades locais em torno de uma agenda pragmática e inclusiva.

É também uma chance de levar ao centro das discussões internacionais as prioridades tropicais, rurais e produtivas, que nem sempre ganham o devido espaço nos fóruns globais.

O Brasil tem soluções únicas, vocação produtiva e urgência ambiental. O Brasil precisa do mundo e o mundo precisa do Brasil. Para isso, é preciso construir mais alianças, abrir mais mercados e garantir que o financiamento chegue a quem produz com responsabilidade.

Não basta debater. É hora de agir com coragem, colaboração, visão, diálogo e equilíbrio.

Eduardo Bastos é CEO do Instituto Equilíbrio