Após conquistar mais de um milhão de hectares nos Estados Unidos com seu ativador de solo e atrair investimentos de gigantes como Bayer, Syngenta e Mosaic, além de Mark Zuckerberg,  a agtech Sound Agriculture se prepara para desembarcar de vez no Brasil, de olho nos produtores de soja de Mato Grosso, e aposta em uma estratégia de garantia de perfomance no campo para escalar as vendas.

A comercialização dos produtos vai iniciar já nesta safra 2025/2026, após a companhia ter conseguido o registro oficial para vender seu fertilizante foliar organomineral Trigger no Brasil - o Source, ativador de solo que é o principal produto da empresa ainda não está registrado no País.

"Nossa ideia é nesse momento iniciarmos com foco em produtores de soja de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul", explica Thiago Bortoli, vice-presidente e diretor geral para a América Latina da Sound, que chegou à empresa em janeiro deste ano.

Bortoli é um nome conhecido do mercado de insumos. Antes de entrar para a Sound, ele atuava como diretor de soluções digitais e de novos modelos de negócios da Bayer para a América Latina e acumula 25 anos de carreira no setor, tendo passagens por empresas como Monsanto, comprada pela Bayer em 2018, Climate e a revenda de insumos Plantar, do Paraná.

Ele conheceu a agtech americana em uma palestra do americano Adam Litle, CEO da Sound durante a edição 2024 do World Agri-Tech South America Summit, evento que reúne anualmente agtechs de diferentes partes do planeta em São Paulo, e viu potencial na operação. Logo, começou a entrar em contato com Litle. “Eu não conhecia, fui entender mais sobre, até que a coisa foi evoluindo.”

Bortoli chegou em janeiro passado para dar mais musculatura à operação da Sound Agriculture no país, que vinha dando seus primeiros passos no país desde 2021, com apenas uma funcionária, a engenheira agrônoma Larissa Rossini, que vinha executando a operação brasileira até aqui – e continua ao lado de Bortoli para botar de pé a operação.

A depender do andamento da safra e das vendas, a ideia do diretor geral da Sound é de expandir ainda nesta temporada a comercialização do fertilizante da agtech para estados como Bahia e Maranhão. "Vamos tentar aproveitar o fato de que a safra de soja é mais tarde nesses estados.”

Nos testes feitos com a soja ao longo das últimas quatro safras, a Sound diz que aferiu ganhos médios de produtividade da ordem de 3 sacas por hectare, equivalente a cerca de 5% de incremento no campo.

O produto da agtech também está sendo testado em outras culturas como milho, algodão e cana-de-açúcar, com resultados promissores até aqui, segundo Bortoli. “No milho, em três safras distintas, chegamos a 10% de incremento de produtividade”, conta.

O fertilizante da Sound ajuda a planta a aproveitar melhor os nutrientes que já estão no solo como nitrogênio e fósforo, além de ter uma formulação que combina potássio, manganês e um extrato vegetal rico em poliflavonoides, substância antioxidante que participa da defesa das plantas contra pragas, raios ultravioleta e estresses climáticos.

Nos Estados Unidos, a empresa fabrica e vende o Source DC, um ativador de solo com funções parecidas, mas produzido a partir de uma molécula biossintética desenvolvida pela startup, que atua como um “sinal” para ativar a microbiologia do solo.

“Ambos têm o mesmo objetivo, de melhorar a eficiência no uso de nutrientes, mas com mecanismos diferentes”, explica Thiago Bortoli.

Além dos Estados Unidos, o produto também está sendo comercializado na Argentina desde o mês passado e a Sound está fazendo ensaios de campo para ter o registro também no Brasil.

Programa de garantias

Na hora de comercializar seu produto no Brasil, a agtech vai adotar uma estratégia de “garantias”, como chama Bortoli: se o produtor não entregar um retorno de produtividade igual ou superior ao que foi investido, o produtor recebe o seu dinheiro de volta

“Não queremos só vender um produto, queremos estar ao lado do agricultor, compartilhando riscos e resultados”, afirma Bortoli.

Para aderir ao programa de performance, a ideia é que o produtor aplique o o Trigger em sua lavoura e mantenha uma área de controle sem o produto.

Bortoli exemplifica o funcionamento da garantia com números: "Supondo que, na área que foi aplicado o Trigger, ele produziu 80 sacos por hectare, e na área que ele não aplicou o trigger, produziu 75 sacos por hectare, o produto entregou 5 sacos por hectare de soja a mais. Supondo que a saca de soja está a R$ 120, houve uma receita adicional de R$ 600. Não preciso pagar nada a mais".

Ele também apresenta o oposto, em caso de performance abaixo do esperado: "Se na área vamos falar que na área do Trigger produziu um saco a menos e houve R$ 120 reais de diferença, esses R$ 120 eu vou devolver para ele no ano que vem. Devolvo em dinheiro, é como se fosse um cashback."

A diferença de produtividade entre as duas áreas é calculada com base nos dados gerados por plataformas de agricultura digital, como monitores de colheita e mapas de aplicação.

"A gente recebe os mapas, faz a avaliação e calcula a diferença entre o preço da commodity e o preço do custo do produto", explica Bortoli.

Questionado se a estratégia não era arriscada demais para uma startup que está apenas começando no Brasil, Bortoli diz que o produto apresenta uma boa performance também em condições críticas de produtividade no campo. "Em anos de estresse climático é o período no qual o produto tende a entregar mais, porque faz um melhor aproveitamento do solo", afirma.

Além disso, Bortoli explica que as prerrogativas do contrato firmado com os produtores diminuem o risco. "No contrato desta garantia, está especificado que, em situações de catástrofes, se o produtor perdeu a produção, se não conseguiu colher, se teve gap de produtividade de 40%, todas essas condições de reembolso ficam sob análise."

Além disso, ele aposta na experiência de quem desenvolveu modelos semelhantes na Bayer. Na safra 2022/23, a companhia alemã passou a testar, no Brasil, um programa chamado Valora, no qual garantiu ressarcimento a um grupo de 400 produtores de milho no Brasil caso não tivessem ganhos com prescrição feitas por sua ferramenta de agricultura digital. Esse programa utiliza dados coletados pela plataforma digital da Bayer, a Climate Fieldview.

No programa da Sound Agriculture, informações do Climate Fieldview poderão ser utilizadas para informar a produtividade nos talhões, assim como de outras plataformas como a John Deere Operations Center, da montadora John Deere.

"Para mim, hoje não importa a plataforma, pode ser de qualquer forma, desde que consiga compartihlar o resultado."

Fábrica no Brasil e negócios na Argentina

Nesse primeiro momento da operação brasileira, a agtech vai importar os produtos dos Estados Unidos, mas Bortoli diz que a intenção é ter fabricação nacional em algum momento.

"Com base nos aprendizados dessa safra e com um pouco mais de tempo, vamos começar a definir a produção no Brasil, muito possivelmente através de parceiros de formulação, mas ainda não está nada definido", diz.

Em paralelo à operação no Brasil, Bortoli está também montando a estrutura na Argentina. No mercado portenho, a Sound lançou o Sound DC, com foco no milho.

"Temos quatro anos de ensaios com resultados excepcionais no milho e que nos deram muita confiança de que vão avançar nessa cultura", explica.

Bortoli diz que, ao longo deste ano, a ideia da Sound na Argentina é de estudar mais o comportamento do produto em outras culturas como soja e trigo para também inseri-lo nesses mercados argentinos. "Nos Estados Unidos, por exemplo, já estamos com resultados muito bons em trigo", diz.

Em seu país de origem, a Sound trabalha com soja, milho, algodão e trigo e já conseguiu presença em mais de 800 mil hectares dos Estados Unidos.

A agtech já passou por várias rodadas de investimento, tendo acumulado mais de US$ 150 milhões de grandes investidores como Leaps, da Bayer, Syngenta Group Ventures e Mosaic, além de empresas de venture capital como s2g Ventures, Northpond Ventures e Cultivian Sandbox, e da Chan Zuckerberg Initiative, criada pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e sua esposa.

Na captação mais recente, finalizada em dezembro do ano passado, conseguiu US$ 25 milhões para expandir seu portfólio e atuação em outras partes do mundo. A rodada foi uma extensão da série D, no qual a startup havia captado US$ 75 milhões, em 2022.

A startup começou sua operação em 2013 sob o nome Asilomar Bio, criada por dois doutores em biotecnologia: Travis Bayer e Eric Davidson.

Durante anos, a empresa não obteve faturamento, até que, em 2018, passou a se chamar Sound Agriculture e, dois anos depois, a partir de 2020, passou a ter uma virada importante com a chegada de Adam Litle ao cargo de CEO. Agora, o crescimento deve ter uma contribuição importante vinda da América Latina.

Resumo

  • Após conquistar mais de 1 milhão de hectares nos EU e atrair gigantes como Bayer, Syngenta e Mosaic, Sound Agriculture inicia sua operação comercial no Brasil
  • Foco estará na oferta de fertilizante foliar para produtores de soja de MT e MS, para depois expandir para outras culturas e estados
  • A agtech aposta em uma estratégia de garantia de performance: se o produto não entregar retorno, o produtor recebe o dinheiro de volta