Aumentar a produção brasileira de fertilizantes é o desejo de diferentes governos e também do setor privado. Difícil é viabilizar essa meta sem incentivos reais do poder público.
Esse foi o recado de representantes da indústria de fertilizantes, durante um evento, nesta terça-feira, na capital paulista, promovido pela agência internacional Argus Media, que faz indicadores de preços de commodities.
Bernardo Silva, diretor executivo do Simprifert, que representa as empresas tradicionais do setor, defendeu mais celeridade no Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), lançado pelo governo com a meta de reduzir as importações dos atuais 85% para 60% até 2050. Ele ressaltou que todos os países do topo do ranking da produção mundial de fertilizantes contam com incentivos públicos ao setor.
Já o assessor de projetos estratégicos do Ministério da Agricultura, José Carlos Polidoro, que lidera o PNF, procurou ressaltar avanços já alcançados, especialmente em nitrogenados.
“A nossa meta no plano é produzir 3,8 milhões de toneladas de nitrogenados em 2050, mas só de projetos anunciados, considerado Petrobras, Atlas, uma iniciativa em Macaé (RJ), e o contrato entre China e Brasil para fabricar fertilizante no Paraná, daria 5,5 milhões de toneladas em 2030, isso se todos saírem como planejado”, afirmou Polidoro.
Entre os projetos com mais chance de sair no curto prazo estão as iniciativas da Petrobras, que também participou do evento.
Em conversa com o AgFeed, após o painel, a gerente de fertilizantes da estatal, Vivian Passos de Souza, disse que o início da produção, em plena capacidade, da chamada Ansa, fábrica que fica em Araucária (PR), deve ocorrer “entre o final deste mês e o início do próximo”. No momento a manutenção da unidade estaria sendo concluída, segundo ela.
A Ansa tem capacidade de produção de 720 mil toneladas/ano de ureia, equivalente a 8% do mercado, 475 mil toneladas/ano de amônia, além de 450 mil m³/ano do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32).
Vivian Souza disse que a prioridade, no curto prazo, está sendo a retomada da produção nas fábricas, mas garantiu que a Petrobras também tem acelerado ações de pesquisa e desenvolvimento com foco em fertilizantes, para buscar soluções mais sustentáveis, com foco no longo prazo e na meta da estatal de ser net zero até 2050.
“A Ansa tem um processo de produção diferente, a carga é diferente, por que não podemos usar uma carga renovável para produzir na Ansa? Estamos fazendo essa pesquisa, pensando na descarbonização a longo prazo”, afirmou.
A executiva da Petrobras também comentou a expectativa de retomar a produção nas fábricas de Sergipe e Bahia, que estavam arrendadas à Unigel e recentemente foram retomadas. Estas estão em processo de licitação, segundo ela, por isso ainda sem prazo definido para operar.
Na fila dos projetos da estatal está ainda a chamada UFN-III, localizada em Três Lagoas (MS), que prevê investimentos de US$ 800 milhões, como já mostrou o AgFeed.
“Essa ainda está em construção e pelo nosso planejamento só começa a operar em 2028”, disse Vivian.
Ela sinalizou que os estudos com foco em descarbonização consideram também a possibilidade de usar o biometano produzido pela Petrobras na fabricação de fertilizantes. “Tem avaliações sendo feitas, inclusive para UFN-III. Vai ser a nossa unidade mais energeticamente moderna e econômica”.
A perspectiva de crescimento para os fertilizantes sustentáveis foi outro destaque durante o evento. A gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, Thaís Sousa, citou uma pesquisa internacional que mostra uma desaceleração da demanda mundial por produtos tradicionais, ligados ao universo do NPK. O Nitrogênio, por exemplo, havia crescido 2,1% entre 2002 e 2012. Já no intervalo entre 2012 e 2022, a demanda por esse fertilizante aumentou apenas 0,3%.
Por outro lado, cresce a procura por fertilizantes especiais, mais eficientes e conectados com a redução das emissões de CO2. Um dos painelistas foi o presidente da Abisolo, Roberto Levrero. Ele confirmou que as vendas no primeiro trimestre do ano já cresceram pelo menos 15%, com previsão de que em 2025 o avanço chegue próximo de 20% no Brasil.
Biofertilizante em fase de registro
A gerente da Petrobras contou ao AgFeed que já foi apresentado ao Ministério da Agricultura (Mapa) o pedido para registrar um biofertilizante, fruto de pesquisas da estatal, que é produzido à base de bioalgas e cianobactérias.
Ambas teriam alta capacidade de crescer usando o CO2 produzido nas plantas industriais da Petrobras. Ao fazer a fotossíntese, fixam nitrogênio do ar. “Isso pode ser transformado em biofertilizante, bioestimulante, fertilizante orgânico e organomineral”, explicou.
Neste momento, as pesquisas que estão validando os resultados do produto “estão ganhando escala”, disseram os executivos, chegando em breve a uma área de 3 hectares.
O registro no Mapa será fundamental para, futuramente, transformar o biofertilizante em produto comercial, mas Vivian Souza preferiu não arriscar dizer quando isso deverá ocorrer.
“O prazo depende porque há avaliações de maturidade tecnológica e comercial, queremos fazer rápido, mas temos que acompanhar os processos, como modelo de negócios, e viabilizar a planta de demonstração”, explicou.
Resumo
- Petrobras tem previsão de iniciar operações da fábrica de fertilizantes em Araucária (PR) entre o fim de junho e o início de julho
- Projetos já anunciados para produzir nitrogenados podem levar a um volume de 5,5 milhões de toneladas em 2030, segundo José Carlos Polidoro, do Ministério da Agricultura.
- Um biofertilizante desenvolvido pela Petrobras à base de microalgas e cianobactérias será testado em área de 3 hectares e já está em fase de registro no Ministério da Agricultura