Menos de duas semanas depois do anúncio da troca de comando da Eurochem, uma de suas controladas, a Fertilizantes Heringer, tomou o mesmo caminho.
O personagem, inclusive, é o mesmo: Gustavo Horbach. O executivo, que liderava a operação da Heringer desde 2023, deixará o cargo, que passa a ser ocupado por Rodrigo Horta Oliveira, que até então era diretor de logística na Eurochem. A informação foi divulgada por um fato relevante arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta terça-feira, dia 8 de julho.
Oliveira estava na Eurochem desde abril de 2024. Antes disso, foi diretor comercial na Hidrovias do Brasil, empresa em que ficou por 10 anos. Horbach renunciou ao cargo e também abriu mão de seu posto como vice-presidente do conselho de administração da Heringer.
Essa não é a primeira mudança no grupo nas últimas semanas, já que Horbach, que também ocupava o posto de CEO da Eurochem para a América do Sul, deixou o posto em junho, quando deu lugar a Maicon Cossa.
Cossa fez carreira na Yara de 2004 até 2023 e entrou na multinacional de origem russa e controle suíço em 2024. Antes de ser anunciado como CEO, era vice-presidente comercial.
Na Eurochem e na Heringer, os desafios são distintos para os dois novos comandantes. Na controladora, Cossa entra para seguir o legado deixado por Horbach, que tem como principal feito a operação do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre (MG), fruto de US$ 1 bilhão de investimentos e que iniciou as operações no ano passado.
Já o desafio de Rodrigo Oliveira é mostrar que a onda de resultados negativos na Heringer de fato foi interrompida com o lucro registrado de janeiro a março deste ano.
O perfil de Horbach na rede social corporativa LinkedIn segue desatualizado e ainda indica que o executivo lidera as duas empresas. Sua última postagem data de um mês atrás, antes dos dois anúncios, e trata sobre os últimos resultados da Heringer e as dificuldades que enfrentou no cargo.
“O ano de 2024, e em especial seu segundo semestre, talvez tenha sido o mais desafiador da minha carreira. Vínhamos aqui na EuroChem Brasil e sobretudo na Fertilizantes Heringer S.A. amargando resultados ruins ano após ano. Pois bem, nas últimas semanas divulgamos o resultado do 1T25 da Fertilizantes Heringer e – depois de muito trabalho e dedicação de todos – a mudança começa a se materializar”, escreveu.
As razões para a dificuldade em 2024, segundo ele em seu próprio post, foram variadas. “Rally de preços, guerra, superoferta da matriz para manutenção das fábricas operando, falta de integração de sistemas, descontrole de armazéns e estoques, cancelamentos, RJs surpreendentes e reestruturações societárias”. Porém, o ano de 2025 começou com o pé direito.
Entre janeiro e março deste ano, a Heringer atingiu um lucro líquido de R$ 59,7 milhões, avanço significativo em relação ao mesmo período do ano passado, quando a companhia havia tido um prejuízo de R$ 144,1 milhões. Com o resultado no azul, quebrou uma série de resultados negativos em sequência.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) também inverteu o sinal, passando de um resultado negativo em R$ 52,1 milhões nos três primeiros meses de 2024 para um resultado positivo de R$ 3,5 milhões no mesmo período deste ano.
De acordo com a companhia, o resultado positivo teve ajuda do câmbio, com a valorização cambial do real frente ao dólar no período, fazendo com que o primeiro trimestre se encerrasse com R$ 291,4 milhões de variação cambial líquida positiva.
A receita líquida, no entanto, caiu de R$ 970,1 milhões para R$ 905,1 milhões, queda de 6,7%. Também houve uma redução no volume de entregas no período, que passaram de 455 mil toneladas no primeiro trimestre de 2024 para 358 mil toneladas no mesmo período deste ano, queda de 21,4%. A Heringer avalia que, apesar da queda no volume, há uma recuperação nas margens de vendas.
No post de Gustavo Horbach, o executivo ainda citou “decisões críticas e difíceis, porém necessárias, que foram tomadas”, fez uma ressalva ao dólar ajudando o balanço e reforçou o Ebitda positivo do período. Além disso, elogiou e agradeceu a diretoria da empresa pelos resultados, que inclui Maicon Cossa, que assumiu seu posto na Eurochem.
As decisões que ele cita podem estar relacionadas a outro comunicado da companhia, feito algumas semanas antes da divulgação do balanço, em abril deste ano.
Mais precisamente no dia 2 de abril de 2025, a Heringer anunciou que paralisaria por tempo indeterminado três plantas produtivas, localizadas em Rio Verde (GO), Ourinhos (SP) e Iguatama (MG), diante de uma “baixa performance financeira histórica e viabilidade econômica das plantas no contexto atual de mercado”.
A Heringer afirmou, na ocasião, que estudava alternativas para essas unidades como forma de maximizar retornos, seja vendendo as unidades e até considerando reativar as plantas, caso as condições de mercado mudem.
Em contrapartida, a empresa também disse que iria retomar a operação da fábrica de Paranaguá (PR), junto ao terminal portuário, com produção inicialmente voltada a elementos simples.
O porto paranaense vai receber uma boa quantia dos R$ 200 milhões que a Eurochem pretende investir ao longo do ano no País, conforme antecipou o AgFeed em abril.
A Heringer já havia paralisado as operações de outras duas unidades, nas cidades de Dourados (MS) e Rosário do Catete (SE).
Há ainda uma outra fábrica fechada há mais tempo, a de Porto Alegre (RS), hibernada desde 2020. Ao todo, a Heringer possui 14 unidades no país, entre fábricas em operação e fechadas.
Resumo
- Rodrigo Horta Oliveira, ex-Eurochem, assume o comando da Heringer semanas após seu antecessor, Gustavo Horbach, também deixar a presidência da controladora Eurochem
- Após anos operando no vermelho, a Heringer registrou lucro líquido de R$ 59,7 milhões no primeiro trimestre de 2025
- Troca de comando ocorre em meio à reestruturação da Heringer, que incluiu o fechamento de cinco unidades e foco em plantas mais estratégicas, como a de Paranaguá (PR)