Faltando uma semana para a assembleia geral extraordinária de acionistas que vai decidir o futuro da fusão com a Marfrig, a BRF planeja ir mais uma vez ao mercado de capitais para emitir títulos de dívida, a exemplo do que já tinha feito em março passado.

Na ocasião, a companhia controlada por Marcos Molina estava em busca de R$ 1 bilhão, em oferta que poderia chegar a R$ 1,25 bilhão. Agora, o apetite é um pouco maior: a ideia é fazer uma emissão de R$ 2 bilhões, podendo chegar a até R$ 2,5 bilhões.

As informações constam na ata de uma reunião extraordinária do conselho de administração da companhia - que se reuniu nesta quarta-feira pela manhã - divulgada no começo da noite pela BRF na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O modelo da emissão seguirá o mesmo da anterior, o de "CRAbêntures", no qual a empresa emite a debênture em nome da securitizadora, que nesse caso é a Ecoagro, que por sua vez, as distribui em forma de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) para agentes de mercado.

Os "CRAbêntures" são uma estratégia já tradicional adotada pelas empresas do setor como forma de manter a operação rodando. Na semana passada, a concorrente Minerva havia anunciado que emitiria até R$ 2,5 bilhões em debêntures também no modelo de distribuição em forma de CRAs.

A mesma estratégia também havia sido adotada pela Marfrig, de Marcos Molina, em março passado, quando a companhia anunciou que iria buscar até R$ 1,8 bilhão em debêntures no mercado para compra de gado.

A emissão da BRF, que deverá ser a 7ª da história da companhia, será realizada em até cinco séries, com diferentes regras de remuneração e vencimento, com o número de séries que serão efetivamente definidas a partir do bookbuilding, em que os investidores indicam sua demanda pelos papeis e informam as taxas de juros que aceitariam receber. O vencimento também ainda será definido.

Ainda assim, a BRF já estabeleceu regras de remuneração. Na primeira série, estará atrelada à taxa DI, limitada a 102% do DI do ano. Na segunda série, será prefixada, limitada à maior entre a taxa DI futura de 2030 + spread de 0,30% ao ano ou 13,80% ao ano.

Na terceira série, o percentual estará limitado entre o que for maior entre uma taxa de 7,65% ao ano ou o resultante da Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B) que vence em 2035 – o Tesouro IPCA+2035 – acrescida de 0,35% ao ano.

Na quarta série, ficará entre o que for maior entre uma taxa de 7,88% ao ano ou o resultante da Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B) que vence em 2035 acrescida de 0,55% ao ano.

Na quinta e última série, a remuneração estará entre 7,88% ao ano ou o resultante da Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B) – Tesouro IPCA+2045 – que vence em 2045, acrescida de spread de 0,75% ao ano.

Os recursos da emissão deverão ser destinados, de acordo com a ata, "integral e exclusivamente às suas atividades como produtora rural no agronegócio."

Depois de a Marfrig ter anunciado a incorporação de todas as ações da BRF, com a companhia dona da Sadia e Perdigão passando a ser sua subsidiária, alguns desafios apareceram no caminho da empresa de Molina.

Um ponto de discórdia veio da troca de ações prevista pelo acordo entre as empresas, no qual os acionistas da BRF iriam receber 0,85 ação da Marfrig para cada ação da BRF que possuírem.

Um acionista minoritário decidiu questionar a relação de troca, por considerar desvantajosa, e pediu à CVM o adiamento de uma assembleia geral extraordinária marcada originalmente para o dia 18 de junho, data em que os acionistas iriam decidir se aceitam ou não a fusão entre BRF e Marfrig.

A CVM decidiu adiar por 21 dias a assembleia, pedindo que as duas empresas apresentem mais informações, relatórios e estudos sobre o acordo, especialmente no que diz respeito à troca de ações. A reunião dos acionistas agora está marcada para o próximo dia 14 de julho.

Outro questionamento vem sendo feito pela concorrente Minerva, que conseguiu ser aceita como terceira parte envolvida no processo junto ao Cade, órgão oficial antitruste que analisa a fusão.

Resumo

  • A BRF vai buscar até R$ 2,5 bilhões em “CRAbêntures” para financiar atividades agropecuárias
  • Emissão será a 7ª da história da companhia e poderá ser dividida em até cinco séries, com diferentes indexadores e vencimentos
  • Acionistas da empresa devem se reunir em assembleia geral extraordinária na próxima semana para definir o futuro da fusão com Marfrig