Campinas (SP) - A Cooperativa Agroindustrial de Varginha (Minasul) investirá R$ 25 milhões em uma nova usina de rebeneficiamento de café no município mineiro, principal pólo cafeeiro do País.

As obras devem começar este ano e, com a nova unidade, a Minasul espera ampliar em 45% a capacidade de exportação direta de café, de 450 mil para 650 mil sacas.

Em entrevista ao AgFeed no Congresso Conecta Agro, em Campinas (SP), José Marcos Rafael Magalhães, diretor-presidente da Minasul, afirmou que a usina deve mitigar o principal gargalo da cooperativa, que é o reprocessamento do café para atender a demanda externa.

“Estamos engargalados com a capacidade nossa de processar o café e temos recusado vendas diretas, porque não temos como rebeneficiar para exportar toda a demanda”, disse Magalhães.

Segunda maior cooperativa cafeeira do Brasil, a Minasul tem 11 mil cooperados em 250 municípios mineiros. Tem capacidade de estocar 2,2 milhões de sacas de café.

Mas, com a crise na oferta, recebeu apenas 1,6 milhão de sacas no ano passado e, neste ano, espera receber 1,4 milhão de sacas.

Para completar a comercialização estimada em 2 milhões de sacas, a Minasul vai ao mercado comprar café.

“De 25% a 30%, ou cerca de 450 mil sacas, é exportação diretamente com a estrutura de rebeneficiamento que temos e que vamos ampliar. O restante, vendemos para exportadores e um pouco para mercado interno”, afirmou.

Ampliar a estrutura de rebeneficiamento significa agregar mais valor ao café exportado e atender a demanda específica de clientes externos, segundo Magalhães.

“O rebeneficiamento faz desde a padronização do café no peneiramento, até tirar o grinder, que é aquilo que sobra, o café quebrado, e tem país que compra também para torrar e moer”, explicou.

Ainda sem a nova usina, a Minasul conta com a estrutura comercial e logística de Varginha para as exportações indiretas.

“Todas as tradings globais de café possuem escritórios em Varginha e a região tem capacidade estática de armazenar 30 milhões de sacas de café e de rebeneficiar 10 milhões de sacas de café”, disse o diretor-presidente da Minasul.

O município mineiro tem ainda estrutura para estufagem do café em contêineres e um Entreposto Aduaneiro do Interior (EAD) capaz de despachar as cargas diretamente para a exportação.

Safra

Embora não tenha faltado água, o calor entre janeiro e fevereiro afetou o metabolismo dos cafezais no período de granação e deve reduzir a oferta ainda mais este ano, segundo o diretor-presidente da Minasul. Por isso a expectativa de menor entrega do produto à cooperativa, em uma quebra de safra que pode chegar a 12%, de acordo com Magalhães.

“A colheita está andando normal, a qualidade está até boa, mas a gente tem sido surpreendido por um rendimento menor na hora de beneficiar o café”.

O que não dá para reclamar, segundo o líder cooperativista, é do preço da commodity, que segue remunerador em relação ao custo e com excelente paridade sobre os insumos, mesmo com recuo após o pico do ano passado.

“Estou entregando café que travei em R$ 990 a saca. Travei um pouco mais a R$ 2.400 e a minha média desse ano foi para R$ 1.500 a saca. O café está com custo de R$ 600 a R$ 800, então é 100% de margem”, disse.

Ainda de acordo com o diretor-presidente da Minasul, a paridade com o adubo, que chegou a ser de 7 sacas de café por uma tonelada, ficou em 1,7 saca nas suas lavouras em 2025.

O melhor trato nas lavouras cafeeiras em geral, no entanto, tem sinalizado ao mercado, uma maior oferta para 2026, o que tem pressionado os preços futuros da commodity. O efeito da alta nos investimentos nos cafezais é também a demanda por máquinas e implementos agrícolas.

Segundo Magalhães, tratores e colheitadeiras novas no mercado se tornaram uma raridade. “Você vai comprar uma colheitadeira de café, pedem prazo para entregar em 2027, nem é para 2026. Nós, da Minasul, somos uma revenda Mahindra, que está vendida até o ano que vem e também não tem trator para entregar”, disse. “Agora, é claro, a gente sabe que esse preço não é uma coisa que vai se sustentar”, completou.

Com o cenário positivo e preços remuneradores, mesmo com uma entrega menor e custos maiores para suprir a demanda, Magalhães espera que a Minasul deva manter, em 2025, o mesmo faturamento de 2024, em R$ 2,5 bilhões.

Resumo

  • Minasul espera ampliar em 45% a capacidade de exportação direta de café, de 450 mil para 650 mil sacas
  • Para isso, deve começar ainda este ano as obras para uma nova usina de rebeneficiamento dos grãos, com custo estimado em R$ 25 milhões
  • Cooperativa sofre com falta de oferta, mas preços favoráveis da commodity permitiram margens de até 100% no produto comercializado