Em meio às negociações do governo brasileiro sobre a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, as exportações de café bateram um novo recorde em receita. Na safra 2024/2025, os embarques totalizaram US$ 14,7 bilhões, o equivalente a R$ 84,2 bilhões.
O volume recuou 3,9% e ficou em 45,589 milhões de sacas de 60 quilos, que tiveram como destino 115 países. Os Estados Unidos, maior cliente do café brasileiro, adquiriu 7,468 milhões de sacas n0 período, alta de 5,65% em relação à safra 2023/2024. O volume corresponde a 16,4% das exportações totais do Brasil.
“Ainda é cedo para falar de possíveis efeitos das tarifas. O café é importante para o Brasil e ainda mais importante para os Estados Unidos”, ponderou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, durante coletiva de divulgação dos dados, nesta quarta-feira, 16 de julho.
O executivo elogiou os esforços do governo brasileiro nas negociações e destacou o fato da competitividade do café brasileiro frente aos demais concorrentes. “Se formos taxados, obviamente não seremos tão competitivos quanto hoje, mas não significa que seremos os mais caros, já que o café brasileiro é bastante competitivo”, ponderou.
O diretor-executivo do Cecafé, Marcos Matos, destacou que o café pode ser um construtor de pontes no processo de negociação entre os dois países, já que dada a importância do produto para o mercado estadunidense, os esforços da indústria local, por meio da National Coffee Association (NCA), estão contribuindo para as boas perspectivas de negociações.
“Agora precisamos seguir com estratégia e pragmatismo nas negociações, fornecendo todos os dados necessários”, avaliou.
O executivo citou como exemplo outros países concorrentes como o Vietnã, que inicialmente foi taxado em 45% e depois das negociações, conseguiu baixar as tarifas para 20%. “Todos os anúncios anteriores de tarifas a outros países foram revistos após a negociação e acreditamos nessa perspectiva”, ponderou Matos.
Apesar do cenário ainda incerto, Ferreira explicou que não há a possibilidade de os embarques de café brasileiro para os EUA serem suspensos, a exemplo do que aconteceu com outros setores, como o de proteína animal.
No acumulado da safra 2024/2025, houve um aumento na demanda global por cafés industrializados - leia-se torrado, moído e solúvel -, cujo volume cresceu 12,7% e ficou em 4,2 milhões de sacas. Parte desse crescimento se deveu ao preço melhor dos cafés industrializados frente ao café verde e também às ocasiões de consumo, pela praticidade.
No mesmo período, o café verde (arábica e robusta) registrou queda de 5,4% no volume, totalizando 41,3 milhões de sacas embarcadas. O recuo mais acentuado foi no café robusta, cujo volume exportado caiu 20% e ficou em 6,5 milhões de sacas.
Primeiro semestre de 2025
No acumulado dos seis primeiros meses de 2025, os embarques para os Estados Unidos recuaram 16,89% em volume, passando de 3,99 milhões de sacas de 60 quilos em 2024 para 3,31 milhões de sacas neste ano.
“Esse recuo tem a ver com a menor oferta de café no mercado, devido à safra menor”, avaliou Ferreira.
O recuo é percebido no volume total de café embarcado no primeiro semestre do ano, que ficou em 19,4 milhões de sacas de café ante 24,4 milhões de sacas de café exportadas pelo Brasil no primeiro semestre de 2024, com recuo de 20,46%.
Depois dos EUA, a Alemanha é o segundo principal consumidor do café brasileiro, com 2,39 milhões de sacas, queda de 30,9% ante as 3,4 milhões de sacas embarcadas no primeiro semestre de 2024.
Os executivos destacaram ainda o crescimento no consumo de mercados com grande potencial de desenvolvimento, como o Japão, cujos embarques cresceram 6,58% no período com 1,23 milhão de sacas, e a Turquia com 721 mil sacas, alta de 6,40%.
“Também temos registrado crescimento nos embarques para os países dos BRICs e do Leste Europeu, que são mercados relevantes e com potencial de crescimento”, ponderou Matos.
Os embarques para a Rússia, por exemplo, cresceram 32,9% no primeiro semestre do ano e chegaram a 625 mil toneladas. A China, que tradicionalmente é consumidora de chá, tem visto o consumo de café crescer de forma acelerada, especialmente entre os mais jovens.
“Todos esses mercados têm potencial ainda maiores de crescimento, mas acreditamos que eles serão complementares aos EUA dentro do cenário das exportações e não tomarão o espaço ocupado pelo país”, avaliou Ferreira.
Aumento da demanda global
Embora as perspectivas de oferta menor para o café sigam no horizonte, a demanda global continua se sustentando, com crescimento médio anual de 0,6%. “As colheitas ainda estão em andamento e só teremos os dados reais da safra mais adiante”, ponderou Ferreira.
Com isso, apesar dos preços terem arrefecido um pouco nos últimos meses, a tendência é de que se mantenham em patamares mais altos. “Hoje não estão mais acima dos US$400 na bolsa, mas ainda estão na casa de US$ 307, valor elevado”, pondera. Em julho de 2024, por exemplo, a saca era negociada a US$ 235 em média.
Gargalo logístico continua - e preocupa
A redução na oferta de café para exportação pode ter contribuído para a redução na fila de embarques no porto de Santos, mas é algo temporário. Segundo o diretor-técnico do Cecafé, Eduardo Heron, o gargalo logístico continua e deve se agravar ainda mais nas próximas semanas, com o aumento do volume de outras commodities como açúcar e algodão para embarque.
“O ritmo e o volume de embarques não voltaram a patamares normais, houve apenas um alívio momentâneo por conta do menor volume, mas ainda temos contêineres parados, esperando espaço nos navios”, explicou.
Relatório divulgado pelo próprio Cecafé apontou que somente no mês de maio o setor não conseguiu embarcar 356.322 sacas de 60 quilos, o equivalente a 1.080 contêineres e um prejuízo de R$ 2,686 milhões no caixa das empresas em função de custos extras de armazenagem.
De junho de 2024, quando o levantamento começou a ser feito até o fim de maio, a entidade calcula que o prejuízo tenha chegado a R$ 75,919 milhões. Além disso, o não-embarque do café fez com que o país deixasse de receber R$ 876,28 milhões em receita cambial.
Resumo
- As exportações de café da safra 24/25 renderam US$ 14,7 bilhões, apesar da redução de 3,9% no volume exportado
- Expansão da demanda em países como Japão, Turquia, China e Rússia, embora esses mercados ainda não substituam o peso dos EUA nas exportações
- Apesar de uma trégua momentânea com menor volume de embarques, o gargalo no porto de Santos preocupa