Gigante do setor sucroenergético e de distribuição de combustíveis, a Raízen seguirá no processo de desinvestimentos e simplificação de negócios para reduzir a alavancagem e voltar ao lucro, após o prejuízo de R$ 4,177 bilhões no ano safra 2024/2025 e R$ 2,513 bilhões no quarto trimestre do ano-safra 2024/25 (4T24’25), encerrados em 31 de março.
O drama financeiro da companhia, no entanto, não tem prazo para acabar e certamente seguirá em 2025/2026, com redução nos aportes e nos custos, o prosseguimento nos desinvestimentos de unidades e o retorno ao foco do negócio: produção de açúcar, etanol e bioenergia e distribuição de combustíveis.
“A despesa financeira tem impacto relevante e ainda consumirá caixa junto com o capex, em 2025/2026. Do ponto de vista da alavancagem ainda é desafiador. Passando esse ano, esperamos ver um cenário de taxa de juros menos punitiva, mas a alavancagem ainda é alta e será preciso algum tempo para corrigir e chegar a um patamar mais saudável”, disse Rafael Bergman, CFO da Raízen, em conferência sobre os resultados da companhia.
A companhia encerrou o trimestre e o ano-safra com um endividamento líquido de R$ 34,264 bilhões, alta de 79% sobre a dívida líquida de R$ 19,154 do mesmo período de 2023/2024. Já a relação dívida líquida x Ebitda saiu de 1,3x para 3,2x entre os períodos. A companhia espera reduzir para abaixo de 2x essa relação com a reformulação iniciada no final do ano passado.
Bergman citou a série de processos em andamento de desinvestimentos, o último deles nesta semana com a venda da Usina de Leme por R$ 425 milhões, mas evitou dar prazos para o anúncio de novos negócios. Segundo ele, a jornada é gradual, e “nesse primeiro ano não teremos o efeito na desalavancagem e no consumo de caixa”.
No guidance para o ano-safra 2025/2026, o destaque é para a redução no capex sobre 2024/2025, de R$ 11,910 bilhões para entre R$ 9 bilhões e R$ 9,8 bilhões.
Segundo a companhia, a meta para os gastos no atual período são os “ganhos de eficiência - redução e otimização das estruturas corporativas e operacionais, com benefício aproximado de R$ 500 milhões no ano (nominal), impactando o Ebitda dos segmentos”
Para o CFO da Raízen, apesar do capex “substancialmente menor, com menor pressão no caixa”, o patamar de investimentos já contratados, principalmente em expansão, ainda é alto.
Ele cita a finalização, neste ano, de duas plantas de etanol de segunda geração (E2G) - nas unidades Univalem e Barra - e na refinaria de Argentina. Outras duas unidades de E2G, nas unidades Vale do Rosário e Gasa, ainda consumirão R$ 1,1 bilhão.
Ao final da teleconferência para analistas e investidores, Nelson Gomes, CEO da Raízen, admitiu que o “ano que está longe de ser ideal” e que a política de “redução de despesas, racionalização de investimentos e redução no endividamento” faz parte de do conjunto de atributos ao longo de 2025/2026.
Segundo ele, no braço sucroenergético a meta é seguir com portfólio menor e mais eficiência operacional e, na área de combustíveis, com margens saudáveis e ainda assim temos muitas oportunidades
“Na trading já houve uma redefinição, com foco nas operações que geram valor à produção própria. Reduzimos exposição de mercados com risco, como mercado de açúcar branco, e também nas operações de bunker (combustível naval)”, disse.
Para o CEO da Raízen, apesar do resultado abaixo da expectativa no 4T24Q25 e em 2024/2025 como um todo, a decisão de implementar série de mudanças na companhia durante o período, “inclusive assumindo os impactos dentro do ano-safra”, foi correta.
Tanto Gomes como Bergman reforçaram a política da companhia de seguir com vendas de usinas e as empresas que não fazem parte do foco e das novas metas operacionais da Raízen, como foi o caso da Usina de Leme.
Outras unidades industriais fora dos pólos produtores da Raízen, a própria operação na Argentina e a Oxxo, rede de lojas de conveniência em sociedade com a Femsa, devem fazer parte das ações de desinvestimento da companhia.
O prejuízo líquido de R$ 2,513 bilhões no trimestre foi quase três vezes superior ao prejuízo de R$ 878 milhões do período da safra anterior. Já o do ano-safra 2024/2025, de R$ 4,177 bilhões, reverteu o lucro líquido de R$ 614 milhões na safra 2023/2024.
Para 2025/2026, a companhia espera processar 72 milhões e 75 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, já desconsiderando o equivalente a aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de cana que foram desinvestidas recentemente em usinas.
O topo do guidance de moagem, se considerada as antigas operações, é praticamente o mesmo da moagem de 2024/2025, de 78,2 milhões de toneladas, queda de 7% sobre 2023/2024.
Segundo Philipe Casale , diretor de Relação com Investidores da Raízen, o ponto de partida para o cumprimento do guidance é de uma “safra muito dura”, que sofreu com queimadas e cujos investimentos de R$ 70 milhões nas áreas atingidas só devem dar resultados a partir do próximo ciclo.
“Houve exaustão da cana, replantio e o período é longo para realmente ver recuperação das áreas”, disse Casale. A empresa espera melhora da qualidade da cana, possibilitando expansão da produção de açúcar, com mix estimado entre 52% e 54%, capturando melhor rentabilidade.
A distribuição de combustíveis deve crescer entre 2% e 3% com a manutenção na margem no Brasil. Na Argentina, um dos possíveis negócios à venda da Raízen, a previsão é de estabilidade na expansão e na margem.
Como esperado, o mercado não recebeu bem os resultados da Raízen e as ações recuaram mais de 5% após a abertura, mas se recuperaram e a queda no final da manhã desta quarta-feira estava em torno de 3%.
Resumo
- A Raízen registrou prejuízo de R$ 4,2 bilhões no ano-safra 2024/2025 e seguirá com desinvestimentos para reduzir sua dívida e retomar a lucratividade
- A dívida líquida cresceu 79% em um ano, chegando a R$ 34,3 bilhões; a meta é reduzir a alavancagem de 3,2x para menos de 2x em relação ao Ebitda
- A empresa cortará investimentos: o capex cairá de R$ 11,9 bi para até R$ 9,8 bi em 2025/2026, com foco em eficiência e corte de custos