Os últimos dois anos, especialmente 2024, foram marcados por dificuldades para alguns dos principais grupos do agronegócio brasileiro. O clima não ajudou, os preços das commodities também não permitiram margens satisfatórias para grande parte dos produtores e segmentos como o de distribuição de insumos, por exemplo, puxaram a fila de dramas corporativos.

A companhia gaúcha 3tentos, entretanto, foi quase uma exceção nesse cenário. Trimestre após trimestre, o grupo comandado pela família Dumoncel, – que se apresenta como “o ecossistema agrícola mais completo do Brasil”— apresentou resultados robustos. E, por isso, tem suas ações frequentemente listadas entre as recomendações de compra por analistas que cobrem o setor.

Se navegava com alguma tranquilidade na turbulência, no início de 2025, quando o clima ajudou e a safra brasileira de grãos deu resultados expressivos na maior parte das regiões, a 3tentos confirmou as expectativas e também apresentou um desempenho bastante positivo.

No balanço referente ao primeiro trimestre, divulgado após o encerramento do pregão da B3 desta quarta-feira, 8 de maio, a companhia comunicou ao mercado ter encerrado o período com um avanço de quase 31% em sua receita na comparação com o ano passado, arrecadando um total de R$ 3,5 bilhões.

“O resultado da safra impulsionou os nossos negócios”, afirmou ao Agfeed, João Marcelo Dumoncel, CEO e fundador do grupo, ao lado do irmão, Luiz Osório. “Com o final das colheitas da safra de verão, fomos amplamente beneficiados pelos resultados recordes obtidos pelos produtores, sobretudo no Centro-Oeste, onde ampliamos e temos consolidado nossas operações comerciais”.

Domoncel – que atuava como COO e recém-assumiu o posto principal da companhia, substituindo o irmão mais velho, que passa a atuar em uma posição mais estratégica no conselho de administração – apontou que, em virtude da safra positiva, o negócio de grãos foi o principal destaque do trimestre, com crescimento de 87% na comparação com o primeiro trimestre de 2024, atingindo receita líquida de R$ 1,047 bilhão.

Mas comemorou, sobretudo, que a evolução dos números ocorreu em todos os segmentos do “ecossistema”, que contempla também o processamento de grãos e comercialização de seus derivados, como óleos, farelos e biocombustíveis, e também a venda de insumos para os produtores rurais .

“Comercializamos mais produtos, mais insumos e mais grãos”, resumiu. O segmento industrial do grupo, por exemplo, avançou em torno de 20% (receita líquida de R$ 1,825 bilhão), e o de insumos, 4% (com 626,5 milhões).

A eficiência operacional também trouxe melhoras expressivas. Ebitda ajustado, por exemplo, foi de R$ 288,9 milhões, 109,6% acima do ano anterior, com margem de 8,3%. E na linha final do balanço a 3tentos registrou um lucro líquido de R$ 192,4 milhões, com alta de 23% sobre o mesmo trimestre do ano anterior.

O ponto mais desafiador do período foi justamente mais um ano de dificuldade parfa os agricultores do Rio Grande do Sul, estado sede da 3tentos, onde as condições climáticas impactaram negativamente nas colheitas.

Ainda assim, Dumoncel disse que, em função do bom relacionamento com os produtores locais e da eficiência operacional de suas estruturas, a empresa conseguiu mitigar esses impactos. E compensou as perdas de volumes de soja com uma maior comercialização de trigo na região.

Mais recordes na safrinha

Dumoncel também traçou, na conversa com o AgFeed, uma perspectiva bastante positiva para a atual safrinha de milho. Segundo ele, “o abril cheio de chuvas” gera expectativa de colheitas recordes para o grão no Mato Grosso.

Isso, na sua visão, deve permitir o fortalecimento das operações da 3tentos na região, onde a companhia tem sua principal frente de expansão. Além de proporcionar maiores volumes para as operações de trading, a maior oferta do grão deve permitir ao grupo formar estoques estratégicos para o início da operação da usina de etanol de milho e sorgo que a empresa constrói em Porto Alegre do Norte, na região do Vale do Araguaia, em um investimento de R$ 1,16 bilhão.

“Todos os cronogramas estão dentro dos prazos previstos”, afirmou Dumoncel. Segundo ele, a operação industrial deve ser iniciada em janeiro de 2026, mas as estruturas de armazenamento, para receber o milho que será processado na planta, já estão prontas.

O trimestre trouxe ainda boas notícias vindas de Brasília, com o recebimento de autorização, vinda do Banco central, para que a TentosCap, braço financeiro da companhia, possa ofertar crédito rural.

Sucessão natural

O novo CEO comentou ainda a “dança das cadeiras” promovida pelo grupo há duas semanas, quando ele e o irmão trocaram de posições. “Nesses 30 anos da 3tentos, a gestão foi sempre compartilhada entre nós”, disse. “Seguimos nós dois, com alguns pequenos ajustes de funções para fortalecer a empresa”.

Assim, além da presidência do conselho, Luiz Osório, até então CEO, passa a ocupar a vice-presidência executiva. “No conselho, ele poderá pensar mais estrategicamente a companhia e suas questões estruturais e de cultura corporativa”, disse João Marcelo.]

Já para o posto de COO, que ele acumulava anteriormente, foi guindado um nome da nova geração dos Dumoncel: Luiz Augusto, filho de Luiz Osório. Segundo o CEO, a escolha segue “um passo natural para um profissional que está há mais de 10 anos na companhia”.

João Marcelo ressaltou que a gestão da 3tentos, embora ainda sob controle da família – que mantém outros dois membros da segunda geração em diferentes posições no grupo – segue com foco profissional.

Resumo

  • 3tentos teve crescimento robusto, com receita de R$ 3,5 bilhões no 1º trimestre de 2025, um aumento de quase 31% em relação ao ano anterior
  • Negócio de grãos cresceu 87%, atingiu receita líquida de R$ 1,047 bilhão e foi o principal destaque
  • Houve aumento também nas áreas industrial (+20%) e de insumos (+4%)