Em tempos de crédito caro e escasso, indústria e distribuidores de insumos e máquinaagrícolas têm depositado cada vez mais fichas em instrumentos como o barter para viabilizar negócios e garantir a fidelidade dos produtores rurais.
A dificuldade em convencer os agricultores a adotarem o modelo de troca de produtos por parte de suas safras, porém, costuma ser um desafio a ser enfrentado. “Antes de travar o preço, eles sempre pensam que podem esperar e conseguir uma cotação melhor pelo grão”, afirma Thiago Milani, diretor de Commodities da 3tentos.
Por isso, desde o ano passado a companhia gaúcha que atua com originação, distribuição de insumos e produção de biocombustíveis implantou um modelo que possibilita ao produtor participar de uma possível valorização do preço da soja depois do fechamento da soja.
Batizado de 3tentos+, o programa terá nesta sexta-feira, 30 de maio, a conclusão de sua “primeira safra”. Mais de 400 agricultores que optaram pelo sistema receberão, em dinheiro, os valores referentes à diferença entre o preço da oleaginosa no momento de fechamento da operação de barter com a companhia e uma cotação maior atingida meses depois, quando eles decidiram “travar” o valor definitivo da operação.
No total, a 3tentos vai desembolsar R$ 22 milhões com os pagamentos aos produtores, mas, mais que um custo, considera um investimento no fomento das relações com sua base de cerca de 24 mil agricultores parceiros.
“A gente criou essa ferramenta dois anos atrás, formatou essa ideia para atender a necessidade do produtor na hora de fazer a contratação dos insumos”, diz Milani.
Segundo ele, embora seja um dos principais indicadores para auxiliar na tomada de decisões pelo agricultor, a relação de troca entre o valor dos grãos e o dos insumos ainda é pouco usada como parâmetro. “A maioria dos produtores sempre acaba usando o preço do produto e não relação de troca”, afirma.
Com isso, avalia o executivo, eles podem deixar de vislumbrar oportunidades mesmo em momentos em que o preço do grão está um pouco mais baixo do que ele gostaria. “Às vezes, a cotação não está tão boa, mas a relação de troca está muito boa”, diz. “O 3tentos+ é um produto que, de fato, traz a oportunidade para o produtor de travar essa relação de troca”.
Nessa primeira safra, segundo a companhia, cerca de 75% dos agricultores da carteira de barter da 3tentos no Rio Grande do Sul fizeram a opção pelo programa.
De acordo com Milani, as operações foram contratadas há pouco mais de um ano, no momento em que esses produtores fizeram a aquisição dos insumos para plantar a safra 2024/2025. Na época, a saca de soja estava cotada a R$ 110.
“O preço tinha dado uma caída e o produtor não sabia, naquele momento, se ia subir ou ia cair mais”, lembra. “Com a ferramenta, a gente te dava para ele a opção de, caso no futuro esse preço viesse a subir na localidade dele, ele pudesse ser remunerado com uma participação nessa alta. E de fato aconteceu isso”.
Os produtores que optaram pelo sistema tiveram até dezembro para exercer essa opção e “travar” a nova cotação. Segundo Milani, a maioria deles tomou essa decisão quando os preços estavam na casa de R$130, R$135 – ou seja, houve um ganho de R$20 a R$25 por saca em alguns casos.
“E, assim, a relação de troca que era, em média, de 19 sacas por hectare para ele contratar a lavoura dele, caiu para 14, às vezes em alguns casos até menos que isso. É como se ele estivesse produzindo 5 sacas a mais na lavoura dele”, exemplifica.
Com a garantia de um preço mínimo ao fechar o barter e a possibilidade de ampliar os ganhos no futuro, os produtores ganham uma ferramenta a mais para enfrentar a volatilidade dos preços, cuja composição depende das cotações internacionais da soja – com referência da bolsa de mercadorias de Chicago – e também do câmbio e de condições locais.
Por isso, para simplificar as operações, a 3tentos adotou como padrão para o projeto os preços locais da praça onde é feita a comercialização do produto. A negociação é feita diretamente entre produtor e os consultores lotados nas suas unidades da empresa.
“A complexidade da operação tem que ficar dentro de casa para a gente administrar e vender de uma forma muito simplista para o produtor contratar”, diz Milani.
Segundo ele, a experiência foi bem sucedida e será mantida para as próximas safras. “No primeiro momento realmente ajudou a fomentar mais o barter. Mas isso varia de ano a ano. O produtor tem os seus drivers de decisão, ele pode tomar a decisão”, completa.
Resumo
- Diante da escassez e alto custo do crédito, empresas como a 3tentos têm promovido o barter como forma de viabilizar negócios
- Para incentivar a adesão, a 3tentos criou um modelo que permite ao agricultor participar da valorização futura da soja
- Programa 3tentos+ resultou em pagamentos adicionais de até R$ 25 por saca e melhor relação de troca para cerca de 400 produtores