Enquanto setores do agro se desdobram para entender os potenciais efeitos que a decisão do presidente americano, Donald Trump, de impor tarifa de 50% sobre todos os produtos do Brasil comercializados com aquele país, o mercado passa a olhar atentamente às empresas mais expostas aos EUA.
Os setores que poderão sofrer mais impactos já são conhecidos: laranja, café, carnes e celulose. A questão agora fica a respeito de qual empresa pode sofrer mais.
Nas carnes, a julgar pelo desempenho dos frigoríficos nesta quinta-feira, 10 de julho, na Bolsa brasileira, os investidores já escolheram a principal vítima: a Minerva. Por volta das 13h45, a ação da companhia recuava 4,20% na B3. Mais cedo, perto da abertura do mercado, a ação chegou a despencar cerca de 8%.
Em comparação, os concorrentes ou se valorizavam ou recuavam menos. O BDR da JBS negociado no País subia quase 2% enquanto a ação da Marfrig recuava 1,8% e a BRF subia 0,44%.
Buscando minimizar o impacto e tranquilizar o mercado, a companhia divulgou um comunicado ao mercado para explicar sua exposição aos Estados Unidos.
Considerando os resultados dos últimos 12 meses da Minerva, a exposição consolidada da operação ao mercado norte-americano foi de aproximadamente 16% da receita total.
Apesar disso, a companhia da família Vilela de Queiroz acessa os EUA não só pelo Brasil, mas exportando de suas plantas no Uruguai, Paraguai, Argentina e Austrália.
O Brasil representa, segundo a empresa, 30% da exposição. “Desse modo, as exportações brasileiras e sujeitas a nova política tributária apresentam impacto potencial máximo ao redor de 5% da receita líquida”, pontuou a Minerva no comunicado.
“A exposição ocorrendo também por esses países nos permite maximizar a capacidade de arbitrar os mercados, reduzindo riscos, alavancando oportunidades e respondendo com eficiência a mudanças de cenário como essa”, acrescentou.
No balanço do primeiro trimestre deste ano, a companhia informou que a receita líquida acumulada nos doze meses até março de 2025 somou R$ 38,07 bilhões. 16% disso é equivalente a R$ 6,09 bilhões, e 5%, a fatia que sai do Brasil e vai para os EUA, corresponde a R$ 1,9 bilhão.
A região do NAFTA, que engloba EUA, Canadá e México, é o principal destino das carnes da Minerva, com 30% do que a companhia exportou de abril de 2024 até março de 2025. Na sequência estavam a Ásia com 26% e o Oriente Médio com 12%.
Bem antes das tarifas de 50%, quando Trump resolveu impor tarifas a praticamente todos os países do mundo, o Brasil foi penalizado em 10%, a menor taxa da ocasião.
Desde que o presidente americano iniciou o mandato, em meados de janeiro, o mercado já projetava que algo do tipo fosse ocorrer. Na Minerva, não foi diferente.
Em maio deste ano, quando conversou com o AgFeed sobre os resultados do primeiro trimestre de 2025 da empresa, o CFO e diretor de RI da empresa, Edison Ticle, revelou que a Minerva fez uma manobra para evitar aquela taxação.
Ticle contou que em janeiro, a empresa dobrou a quantidade de carne enviada para o país. "Fizemos um estoque grande nos EUA, dentro da cota, sem pagar o imposto, que com a mudança do Trump, vai para 36%. Isso pressionou nossa conta de estoques, que subiu para R$ 700 milhões", disse na época.
No balanço do primeiro trimestre, a Minerva também registrou um fluxo de caixa negativo em R$ 500 milhões, causado pelo movimento.
Segundo ele, esse estoque construído por lá deverá ser normalizado nos próximos trimestres, na medida em que as vendas da Minerva avançarem no país.
"São R$ 700 milhões a mais nessa conta que voltarão como fluxo de caixa nos próximos trimestres. Foi um movimento tático oportunista e importante pensando no resultado do ano, observando o que vai gerar de receita", acrescentou o CFO.
Os estoques enviados na época ficaram em nome da Minerva Meats USA, subsidiária da empresa no país. Ticle explicou que, na prática, os produtos "trocaram de CNPJ e localização", mas não saíram da Minerva.
Na celulose, Suzano é mais exposta
Dentro do setor florestal, que envolve gigantes globais como Suzano e Klabin, a primeira deve sentir mais impactos.
Nos cálculos do Goldman Sachs, a Suzano tem 19% das vendas líquidas expostas aos EUA. Considerando a receita acumulada em doze meses até março deste ano, de R$ 49,5 bilhões, cerca de R$ 9,4 bilhões poderiam sofrer essa taxa.
“Sua exposição aos EUA é grande demais para ser facilmente redirecionada para outras regiões e exigiria um esforço comercial e logístico significativo, além de potencial pressão de preços no processo”, afirmou, no relatório, o analista Marcio Farid, do Goldman Sachs.
Ele acrescenta que a empresa possui contratos de longo prazo com grandes compradores americanos, o que dificulta o escoamento para outras regiões, já que os americanos possuem exigências específicas de qualidade.
“No curto prazo, um consumo de estoque onshore poderia atrasar temporariamente o impacto, mas, assumindo que não haja mudanças na política dos EUA, esperamos que os compradores busquem alternativas mais viáveis em regiões com tarifas mais baixas como Chile e Uruguai e talvez algum fornecimento doméstico”, finalizou Farid.
Leonardo Correa, analista do BTG, calcula que 15% da receita da Suzano está no mercado americano e afirma que resta a dúvida se a empresa conseguirá redirecionar volumes para outros mercados em um momento em que a demanda chinesa continua fraca.
“Pelo menos os preços atuais da celulose de fibra curta, em torno de US$ 500 por tonelada, parecem representar um piso, o que deve ajudar a conter o impacto financeiro mesmo que haja deslocamento de volumes ou pressão nas margens”, comentou Correa, também em relatório.
Já Klabin preocupa menos o investidor, já que apenas 2% de suas vendas são para o país norte-americano.
Na Bolsa, a ação da Suzano operava no zero a zero, entre perdas e ganhos. Já a concorrente Klabin via seu papel subir 1,63%.
Resumo
- Minerva diz que apenas 5% da receita está exposta à nova taxação, pois exportações aos EUA também partem de Argentina, Uruguai, Paraguai e Austrália
- Em janeiro, frigorífico dobrou envio de carne para os EUA, formando estoque de R$ 700 milhões
- Suzano tem mais de 15% de sua receita proveniente das vendas para os EUA. Nos últimos doze meses até março deste ano, fatia beira os R$ 10 bi