O ano de 2024 foi transformacional na BemAgro. Em um intervalo de seis meses, a startup de agricultura digital fundada por Johann Coelho captou R$ 15 milhões e encorpou seu quadro societário com grandes nomes do agro.
Em fevereiro, numa rodada liderada pela CNHi e com participação da Rural, Agroven e a revenda goiana MM Agro, recebeu R$ 10,2 milhões. Em agosto, fechou uma extensão dessa mesma rodada e recebeu mais R$ 5 milhões em aportes de Atvos e Suzano.
Com o caixa recheado, a empresa cresceu 50% seu faturamento no ano passado em relação a 2023, revelou Coelho, que atua como CEO.
“Desde o início da operação buscamos investidores para a BemAgro que pudessem agregar valor às operações, tanto financeiramente quanto na estratégia”, disse ao AGFeed.
E 2025 começou ainda mais aquecido. Considerando o primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo intervalo em 2024, a receita saltou 141%. A empresa prefere não abrir os números no detalhe.
Coelho comentou algumas das mudanças no negócio desde a entrada dos novos sócios. Com base em Ribeirão Preto (SP), a agtech já era forte na cana, cultura forte no oeste paulista. A entrada da Suzano ajudou a empresa a diversificar em culturas e começar sua atuação no mercado de eucalipto.
O CEO disse que o investimento da companhia de papel e celulose prevê o lançamento de cinco novos produtos para os próximos dois anos.
A startup utiliza tecnologias de análise de imagens captadas por drones e satélites para produzir mapas e relatórios com informações para monitoramento e gestão das lavouras.
Ao longo dos anos, a agtech incorporou modelos de inteligência artificial e visão computacional aos seus produtos e criou soluções de integração ao maquinário agrícola, permitindo a coleta de dados também em campo.
Com isso, ampliou o leque de serviços, fornecendo atualmente mais de 20 diferentes relatórios agronômicos e mapas com informações como altimetria, população de plantas e matologia -, que auxiliam o planejamento o produtor em projetos de plantio e pulverização, com aplicações localizadas, até a colheita.
“Estamos em vias de soltar, nos próximos 2 meses, dois novos produtos para o setor florestal. Ambas envolvem IA e visão computacional para gerar informações relevantes na tomada de decisão na hora da colheita e outra no pós-plantio”, disse Johann Coelho.
A companhia encerrou 2024 com 6 milhões de hectares monitorados, sendo 60% de cana e o restante se dividindo entre grãos, fibras e culturas perenes, como a silvicultura.
Com o avanço nas florestas, Coelho prevê que 2025 marque um equilíbrio de 50% para a cana e 50% para as outras categorias.
A meta é encerrar dezembro com 8,5 milhões a 9 milhões de hectares monitorados pelo software da empresa.
“Já estamos hoje na cana, soja, milho, algodão e entrando em reflorestamento. Isso soma 90% das áreas agricultáveis brasileiras. Quando olhamos para o setor de reflorestamento, vemos potencial, pois possui uma área similar à de cana, com players muito profissionalizados que conseguem inserir a tecnologia no fluxo de trabalho diário”, comentou o CEO da BemAgro.
Além de crescer em área, Coelho contou que, desde o ano passado, a BemAgro partiu para um modelo de negócio Saas (software as a service), no qual vende uma assinatura de 12 meses para os clientes que queiram utilizar o programa. O valor depende da quantidade de análises que ele necessitar.
“Temos crescido em ticket médio em função do lançamento de novos produtos. Sair de 6 milhões de hectares para 9 milhões não significa que a receita acompanha na mesma medida. Na mesma área posso fazer três ou quatro operações diferentes”, disse.
Com isso, a ideia é crescer dentro dos hectares que já atende. “A mudança para Saas com assinatura de software aumentou a retenção e fidelização dos clientes. Esse modelo ainda diminui o impacto da sazonalidade”, acrescentou.
Para além de lançamentos para o setor florestal, Coelho citou que a empresa acrescentou recentemente uma funcionalidade de identificação às plantas daninhas por espécie e tipo. “Seja mamona, folha larga, folha estreita ou gramínea, o software permite ao produtor identificar as infestações e saber qual produto deve utilizar”, disse.
Na cana, a empresa desenvolveu um programa que identifica linhas de colheita da cana. O programa permite uma integração com máquinas colhedoras, facilitando o processo de colheita.
O passaporte e o doutor
Johann Coelho ainda revelou que a empresa deu seus primeiros passos oficiais fora do Brasil. “Dentro do nosso novo momento de escala, intensificamos a cooperação com a CNHi e abrimos novos mercados. Atualmente já estamos presentes na Colômbia, Argentina e Paraguai”, disse.
Em junho deste ano, a BemAgro dará seus primeiros passos nos Estados Unidos, realizando provas de conceito na Dakota do Sul.
Segundo o CEO, a ideia é verificar como o mercado americano absorve a tecnologia brasileira, e se for o caso, realizar alguns ajustes na rota. Por aqui no Brasil, a empresa ainda aposta em reforçar seu networking com um conhecido do setor.
A empresa anunciou que Marcos Fava Neves, comnhecido como Doutro Agro, professor da USP de Ribeirão Preto e um dos fundadores da Harven Agribusiness School.
Fava Neves foi professor de Johann Coelho na faculdade, quando o executivo cursava economia empresarial e controladoria, e atribuiu parte da criação da BemAgro ao agora conselheiro.
“Fui exposto ao que era o agro e o papel do Brasil nesse mercado. Agora ele vêm somar sua experiência no conselho”, disse. Coelho estima que o professor ajudará a startup em seu planejamento estratégico tanto aqui quanto lá fora.
“Estamos entusiasmados com a participação do professor Fava. Sua trajetória e presença em conselhos de grandes empresas vão trazer uma leitura estratégica valiosa para a nossa evolução e processo de governança”, acrescentou Luiz Ambar, presidente do conselho e sócio da empresa.