Enquanto muitas empresas familiares enfrentam desafios para estruturar planos de sucessão no campo, na Agro Cumaru, ao que parece, esse processo vem acontecendo de forma planejada.
Desde o ano passado, os irmãos Camila Mafra e Carlos Mafra Júnior estão à frente da companhia, que cultiva 18 mil hectares de grãos, incluindo soja, milho e sorgo, e maneja 80 mil cabeças de gado em duas fazendas, nas cidades de Cumaru do Norte e Santa Maria das Barreiras, ambas no sul do Pará, totalizando 72 mil hectares.
“Trouxemos para dentro da Cumaru as vivências que tivemos em outras empresas do grupo e também fora delas e temos replicado essa experiência para estruturar o negócio focado na pessoa jurídica e não na pessoa física, como acaba sendo comum no agro ”, explica Júnior, diretor financeiro da companhia, ao AgFeed.
As metas para os próximos anos já estão traçadas. Até 2030 a companhia deve investir R$ 1 bilhão em infraestrutura, ampliação da produção e conversão de pastagens. Desse total, cerca de R$ 350 milhões já foram aplicados nos últimos três anos.
O montante foi destinado para ampliação de capacidade de armazenagem de grãos, aumento de área plantada e investimento em maquinário e tecnologia.
Com isso, o objetivo dos irmãos é fazer com que a produção de grãos chegue a 50 mil hectares estáticos nos próximos anos com até 80 mil hectares agricultáveis.
Junior pontua que dessa forma seria possível plantar 50 mil hectares de soja e cerca de 30 mil hectares entre milho e sorgo,na segunda safra. “Isso nos possibilitaria expandir também a produção de gado”, conta o executivo.
A companhia também faz o ciclo completo da pecuária - com cria, recria e engorda de animais. Para os próximos anos, Júnior revela que o plano é aumentar a produção, passando das atuais 20 mil cabeças abatidas por ano para 70 mil cabeças abatidas por ano.
“Nossa meta é aumentar a produtividade na mesma área que temos atualmente, investindo na recuperação de pastagens degradadas e intensificando a produção agropecuária”, afirma Camila, diretora de sustentabilidade da Agro Cumaru.
“Queremos fazer mais dólar, ou real, na mesma área que temos hoje. Não vemos necessidade em adquirir novas áreas”, completa Júnior.
Para tanto, a família está investindo no aumento da produtividade, sem necessidade de ampliar as áreas. “Nosso foco é intensificar a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) nos próximos anos”, explica Camila.
Júnior afirma que a integração faz com que a produtividade seja ainda melhor, já que o rendimento das lavouras cultivadas após o ciclo pecuário tende a ser maior.
“A região tem aptidão para a agricultura, com clima favorável, o que nos permite ter três safras, a primeira de soja, a segunda de milho e sorgo e a terceira com o capim para a entrada do boi”, explica o executivo.
Outro grande investimento da Agro Cumaru está na produção de etanol de milho. Em março do ano passado, a companhia anunciou uma joint venture com o grupo CMAA para a construção de uma usina de etanol de milho em Redenção (PA) em uma área de 100 hectares, conforme antecipou o AgFeed.

Júnior conta que serão investidos cerca de R$ 2 bilhões na implantação do projeto até 2029, sendo R$ 1 bilhão na primeira etapa da unidade, que deve entrar em operação até o início de 2027, quando a capacidade de processamento deverá chegar a 1,5 mil toneladas de milho ao dia. “Mas dentro do projeto está previsto dobrarmos a capacidade na segunda fase do projeto”, explica Júnior.
A maior parte do milho será fornecido pela Agro Cumaru, mas o executivo explica que será necessário comprar dos produtores da região também. Com isso, parte da produção do grupo, que hoje é embarcada para outros mercados via porto de Barcarena, deve permanecer na região.
Atualmente, o grupo está fazendo análises de viabilidade para a produção da biomassa que vai abastecer caldeiras que irão gerar energia para a operação.
Junior explica que o grupo deve investir no plantio de eucalipto, mas as plantas levam entre 5 e 7 anos para ficarem prontas para o corte. Nesse meio tempo, será necessário investir em outras fontes de energia.
“Estamos testando a viabilidade de outros materiais, como o caroço de açaí e a fibra de palma, para atender à nossa demanda enquanto as árvores se desenvolvem”. Com essa estratégia, os irmãos esperam contribuir também para o desenvolvimento econômico da região, ao adquirir matéria-prima de pequenos produtores.
Ele conta que serão necessários cerca de 1,5 mil hectares de eucalipto por ano para atender à demanda da planta na primeira fase. Assim, ele calcula que será preciso cultivar cerca de 9 mil hectares de eucalipto nos próximos anos. “Ainda estamos estudando se serão nas áreas já existentes, arrendamentos ou em novas áreas”.
O negócio da Agro Cumaru ganhou maior relevância dentro da família após o IPO da Mafra Distribuidora de Medicamentos, que, com a entrada na bolsa, passou a se chamar Viveo.
A companhia foi fundada pelos pais de Camila e Carlos em 1996 e em 2016 recebeu aporte do fundo de investimento DNA Capital.
“Esse processo foi fundamental para a gestão dos negócios, nós aprendemos muito sobre governança, evoluímos a empresa e amadurecemos as operações”, avalia Júnior.
Com a abertura de capital, ele conta que a família saiu da gestão e teve mais tempo e recursos para investir na Agro Cumaru.
Além dela, a família também é dona da Mafra Agropecuária, especializada na produção e melhoramento genético bovino, e da CCM, fabricante de fraldas e produtos descartáveis, com sede em Uberaba (MG).
“A CCM tem operação profissionalizada, não fazemos parte da gestão. Hoje nosso foco está em operar os negócios no campo”, explica Júnior.
É dos laboratórios da Mafra Agropecuária, localizada em Santa Vitória (MG), inclusive, que saem todos os embriões utilizados nas fazendas da Agro Cumaru.
Essa verticalização da produção pecuária permitiu à Agro Cumaru alcançar melhor desempenho na produção de bovinos.
“Hoje abatemos animais com 24 meses e cerca de 22 arrobas de peso médio e esses resultados têm a ver com o melhoramento genético. Conseguimos produzir animais de melhor qualidade em menor tempo e com maior volume”, explica Júnior.
A história da família Mafra no agronegócio começou motivada pela paixão dos pais pelo campo. Para diversificar os investimentos, eles compraram as primeiras áreas no início dos anos 2000.
No Pará, as primeiras compras de terras foram feitas em 2004, com foco na pecuária. No entanto, nos últimos anos, os investimentos na produção de grãos vem aumentando não só nas áreas da Agro Cumaru, como em toda região.
“É uma região que tem forte aptidão para a produção agrícola, temos visto uma mudança, muitas áreas que antes eram para pecuária, passaram para o cultivo de grãos”, avalia.
Ele cita como exemplo a segunda safra de milho e de sorgo. “Aconteceu conosco também. Antes, a safrinha respondia por 20% da área cultivada, mas hoje temos entre 50% e 60% da área destinada para a segunda safra”.