O ciclo entre o plantio da semente de algodão e a colheita da pluma varia de 150 dias a 200 dias. Em torno de 100 dias desse período, algum tipo de aplicação de defensivos é feita nas lavouras, o que faz com que a cultura seja a maior utilizadora proporcional de produtos químicos e biológicos para o controle de pragas e doenças.

Estudo da consultoria Kynetec Brasil antecipado ao AgFeed aponta que os defensivos agrícolas empregados na pluma movimentaram R$ 7,4 bilhões na safra 2023/2024, alta 9% sobre os R$ 6,8 bilhões de 2022/2023.

É um recorde para o setor, assim como a área cultivada no País, de 2 milhões de hectares, aumento de 18%.

A alta na área cultivada no Brasil, uma maior resistência de pragas e doenças e até mesmo um manejo ineficiente trouxeram mais aplicações e, consequentemente, aumento nas vendas do setor, segundo representantes da consultoria, dos produtores e das indústrias.

Para o analista de inteligência de mercado da Kynetec, Felipe Lopes Abelha, o crescimento na área, a antecipação no plantio do algodão e a ação das diversas pragas obrigaram o produtor a aplicar mais defensivos.

Entre as principais pragas estão a mosca-branca “herdada” da soja e o bicudo, maior predador da cultura. “Só para o bicudo foram necessárias de 13 a 15 aplicações durante o ciclo”, afirmou.

As lagartas, mesmo com o avanço da biotecnologia no seu controle, também trouxeram impactos. Em média foram 1,5 aplicações a mais nas lavouras na safra 2023/2024, segundo o estudo.

Com isso, a categoria dos inseticidas se manteve na dianteira dos agroquímicos mais empregados no algodão. Os negócios totalizaram R$ 3,7 bilhões, 21% acima da safra 2022/2023.

O plantio antecipado do algodão na safra também puxou o aumento de aplicações de defensivos nas lavouras. Lopes Abelha cita que, diante da previsão de um índice pluviométrico menor, o plantio avançou para o dobro da média histórica em iguais períodos.

A chuva, no entanto, foi regular e a umidade trouxe o aumento das manchas foliares, principalmente da ramulária, o que triplicou as aplicações de fungicidas.

Para este ano, segundo o analista de inteligência de mercado da Kynetec, a previsão é de estabilização na área, que deve superar um pouco os 2 milhões de hectares da safra passada.

Mas é possível que haja um novo aumento no mercado de defensivos. “Acredito que não terá redução das aplicações e alguma coisa terá aumento para as pragas tradicionais, que criam resistências às moléculas mais antigas”, disse Lopes Abelha.

“Outro ponto de atenção, para o bicudo, é o manejo de entressafra de solo e ervas daninhas que não tem sido feito adequadamente após a colheita da soja e favorece a volta da praga no algodão”, completou.

Preocupação

A resistência das pragas aos inseticidas, principalmente o bicudo, presente no Brasil há mais de 40 anos, tem tirado o sono dos produtores.

Para o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero, a entidade tem discutido com empresas de defensivos agrícolas soluções com novos produtos com moléculas mais resistentes.

“O produtor reclama que eram de uma a duas aplicações e agora são quatro ou cinco. É preciso um material para manter a vida mais longa possível da tecnologia e é preciso chegar coisa nova, urgente”, disse Portocarrero.

Segundo ele, a nova lei dos defensivos agrícolas, aprovada em 2024, ainda depende de um decreto de regulamentação, mas, mesmo que estivesse em vigor, uma molécula nova e um processo de aprovação de um produto demoraria de 4 anos a 5 anos.

Para o diretor executivo da Abrapa, a meta de redução de 5% até 2028 do uso de defensivos químicos é um grande desafio diante do cenário atual.

Para cumpri-la, além de moléculas novas que demandam menos aplicações, é necessário aumentar o uso de defensivos biológicos.

“Mas o biológico tem limite. Chegamos a entre 23% e 24% de substituição dos químicos pelos biológicos e, se o trabalho for bem feito, podemos chegar a 30%”,

Já Arthur Gomes, diretor de defensivos químicos da CropLife Brasil, cita o trabalho conjunto da entidade que representa a indústria com a associação de produtores.

Para ele, as companhias têm trabalhado para desenvolver produtos mais eficientes e com longevidade para evitar a resistência.

No entanto, o principal problema no Brasil, já antigo, é o longo tempo de aprovação de novas moléculas. Segundo Gomes, Estados Unidos, Japão, Austrália, por exemplo, têm moléculas aprovadas em uso comercial em um prazo médio de dois anos.

Essas moléculas estão em processo de aprovação Brasil há anos. Aqui, as aprovações passam por três instâncias - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Agricultura e Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Segundo ele, as indústrias têm nove novas moléculas para serem aprovadas e o processo está parado no Ibama.

“No nosso pipeline de aprovação tem solução para o algodão, mas hoje tem ineficiência grande nesse processo”, concluiu o diretor da CropLife Brasil.