Inovação já era pauta obrigatória das grandes empresas do agro, mas deve ganhar ainda mais importância em tempos de margens apertadas e busca de maior eficiência.
Na SLC Agrícola, por exemplo, em agosto outubro passado, o CEO, Aurélio Pavinato, contou que o uso de drones e o foco na agricultura digital já haviam gerado R$ 90 milhões de economia para a empresa.
Os ganhos vieram da redução nos gastos com herbicidas e inseticidas nos cultivos de soja, milho e algodão. Além do uso de drones, com os sistemas Weed-It e Weedseeker os pulverizadores só aplicam onde realmente os herbicidas são necessários, destacou o executivo na época.
Agora o plano é “escalar” os drones e testar cada vez mais as opções de máquinas autônomas.
“Os drones estão ficando maiores e mais eficientes, então a gente vê que o seu uso vai se tornar mais intenso. A gente vai conseguir fazer mais monitoramento e mais aplicação via drones”, disse Frederico Logemann, head de inovação da SLC, em conversa com o AgFeed logo após participar de um painel no evento Kepler Weber Day, em São Paulo.
Frederico faz parte da quarta geração da família de fundadores da SLC. E é reconhecido no mercado por liderar projetos de inovação e avaliar “360 startups por ano”, como já mostrou o AgFeed.
Em 2024, o Brasil registrou um aumento de 375% no número de drones agrícolas operacionais em comparação a 2022, chegando a 5.269 unidades, segundo dados do Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), vinculado à ANAC.
“Piloto de drone é uma coisa que está em falta no mercado, tem escola já de formação de pilotos para drone”, disse o executivo.
Apesar da tendência, ele diz que talvez em 2025 a opção da SLC não seja ainda a aquisição de mais drones, em função do período mais desafiador do ponto de vista financeiro e da previsão de “segurar um pouco os investimentos”.
No terceiro trimestre deste ano, a empresa registrou prejuízo líquido de R$ 17,3 milhões, em meio a preços agrícolas mais baixos, especialmente no milho.
Neste cenário, Logemann diz que uma opção pode ser ampliar o uso da tecnologia de drones por meio de prestadores de serviço.
Atualmente, a empresa usa os aparelhos para mapear imagens de 100% de suas propriedades. Em uma estratégia futura, a SLC planeja utilizá-los para pulverização em até 10% de suas áreas cultivadas, algo ainda em testes.
“Para nós, o uso de drones para aplicação de defensivos ele ainda é pouco viável, pelo nosso tamanho. Em propriedades menores faz mais sentido aplicar o herbicida via drone. Mas a medida que os drones forem ficando maiores, talvez faça sentido também uma complementação de aplicação com eles”, destacou.
Uma próxima decisão com foco em inovação, segundo o executivo da SLC, poderá ser o uso do seguro paramétrico.
Em reportagem recente, o AgFeed mostrou que a modalidade é mais simples que o seguro agrícola tradicional e pode acabar conquistando clientes que buscam apenas uma proteção financeira “do risco de chover menos que o necessário”, por exemplo.
No lugar de inspeções em lavouras, o seguro paramétrico utiliza metas e indicadores que são mensurados com base em dados e inteligência artificial.
Frederico contou ao AgFeed que a SLC já está rodando um teste com seguro paramétrico para a Bahia, região que costuma contar com mais instabilidades climáticas. Segundo ele, a companhia até hoje nunca contratou seguro agrícola pelo modelo tradicional. Agora faz o teste com o paramétrico para verificar qual seria a precificação.
“Nesse momento o pessoal está fazendo as simulações, os cálculos, pegando um pouco das nossas estatísticas, do histórico, para talvez, junto com alguma seguradora, precificar um seguro para a SLC, para uma fazenda em específico”, afirmou.
Entre os dados analisados entram o histórico de chuva e um pouco de previsão de safra baseada nas variáveis controladas por satélite. “Porque essa é a vantagem do paramétrico, você não precisa ir lá na lavoura com um fiscal para olhar, dá para fazer tudo de forma remota, isso torna o seguro mais barato”.
Caso os cálculos se mostrem satisfatórios neste primeiro período de “PoC”, a prova de conceito, é possível que uma contratação ocorra na safra 2025/2026, na visão de Logemann.
Outra crença de Logemann para o futuro da agricultura – e da SLC – é a tendência de usar mais veículos autônomos e também robôs, com diferentes finalidades, mas principalmente para aplicação e monitoramento de pragas.
“Nós visitamos as principais feiras mundiais, dá para ver já diversos modelos de robôs com algum nível de autonomia que estão aos poucos chegando no mercado. Em termos de hardware, tem também a questão dos aviões não tripulados”, lembrou.
Em julho deste ano foi confirmado o acordo entre a SLC e a startup americana Pyka, que também tem investimentos da Embraer, para o uso do avião elétrico autônomo Pelican Spray
“Ele (o Pelican) vai permitir fazer aplicações em maior escala. Nessa frente de hardware são algumas das coisas que a gente está olhando, além claro dos ganhos de autonomia do maquinário já existente”, contou Frederico.
“Estamos, por exemplo, desenhando as linhas de operação das máquinas, além do GPS, as curvas, tudo que a máquina faz. Aí a máquina vai ficando um pouquinho mais autônoma já. São vários caminhos até uma autonomia completa, que deverá chegar em algum momento, mas já algumas barreiras a gente já está vencendo”.
Os testes com o avião elétrico começam em 2025, segundo ele, já o uso de robôs não tem data definida. “Mas em breve a gente deverá testar alguma coisa também”.
Frederico Logemann também mostra entusiasmo com o avanço do uso de tecnologia por satélite na agricultura. “O satélite sempre teve uma limitação que é a nuvem, agora já tem soluções para você bypassar a nuvem, conseguir enxergar a lavoura através da nuvem, isso aí vai ter diversos casos de uso também para controle da lavoura, para aplicar dessecante, regulador de crescimento”.
Ele diz que, na SLC, o satélite é bastante usado na cultura do algodão, porque a lavoura fica pronta em um período do ano com menor incidência de nuvens. “Agora a gente provavelmente vai conseguir usar também na soja e no milho algumas soluções vindas do satélite”.