Uma das maiores empresas do mundo em saúde animal, a Vetoquinol, sentiu os efeitos do "ciclo de baixa” na pecuária brasileira. Ainda assim, aumentou em 8% a receita no acumulado até agosto deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022.

Trata-se de um percentual “acima da média de mercado”, segundo afirmou, em entrevista ao AgFeed, o diretor geral da Vetoquinol para a América Latina e Canadá, Jorge Espanha.

Segundo ele, as vendas de produtos veterinários no mercado brasileiro em geral chegaram a crescer até 10% nos últimos anos, mas em 2023, com quedas bruscas de preços em mercados como os de carne e leite, avançam "de forma mais contida, entre 3% e 4%".

Globalmente, a multinacional francesa é a oitava do ranking entre as indústrias de saúde animal e está completando 90 anos, em 2023, com planos de seguir avançando na América Latina.

No mercado brasileiro já subiu da posição 22 para 14, após a compra, em 2019, da Clarion Saúde Animal.

"O Brasil é um mercado extremamente estratégico para a Vetoquinol, afinal é o terceiro maior do mundo, perde apenas para Estados Unidos e China”, destacou Jorge Espanha.

O executivo disse ao AgFeed que tem como meta estar no “top 10” do mercado brasileiro até 2026, dobrando o faturamento.

A Vetoquinol, que é listada na bolsa de valores de Paris, não divulga quanto fatura em cada país. A receita global da empresa em 2022 foi de 540 milhões de euros (cerca de R$ 2,8 bilhões no câmbio atual), alta de cerca de 4% em relação ao ano anterior.

Na época em que adquiriu a Clarion, os executivos informaram que o Brasil passaria a representar 7% das vendas totais. Estima-se que hoje a fatia seja bem maior.

"Houve um ajuste nos estoques das empresas de produtos veterinários, assim como vimos no setor agrícola e na área de nutrição animal, o que deixou o mercado mais fraco até o início deste ano, mas já começo a ver uma recuperação”, ponderou Jorge Espanha. "O custo financeiro hoje não justifica mais transações por volume, é um ano de proteção de margem", acrescentou.

O executivo acredita que um reaquecimento total do mercado só deverá ser visto no segundo semestre de 2024, "após uma recuperação no consumo de proteínas no começo do ano que vem, caso o cenário de inflação melhore”.

Espanha pondera, no entanto, que no setor do leite o cenário é bem mais incerto. “Com a pressão das importações de lácteos, está havendo uma consolidação rápida, os pequenos devem seguir atendendo o mercado local e os grandes ficando cada vez maiores, o desafio será para os médios”, afirmou.

Estratégia para crescer

A meta de estar entre as 10 maiores empresas do mercado brasileiro passará por diversos pilares estratégicos, segundo Espanha, mas certamente incluirá um crescimento mais acelerado no segmento de animais de companhia, o que já vem ocorrendo.

"Há 13 anos, o mercado pet era 10% do total no Brasil, atualmente já chega a 25%, mesmo assim ainda distante do que ocorre globalmente, com 55% para animais de companhia", destacou o executivo.

O diretor da Vetoquinol diz que para a empresa, os animais de companhia no mercado brasileiro ainda representam 15%, mas há uma tendência de crescimento nesta participação.

"De janeiro a agosto tivemos vários lançamentos de produtos neste segmento, onde ainda temos uma base pequena, por isso ele cresceu 40%”, contou. Ainda assim foi possível crescer “um dígito" em animais de produção.

Jorge Espanha, diretor da Vetoquinol para América Latina e Canadá

Lançar novos produtos – inclusive para animais de produção, o maior mercado – é o primeiro pilar citado por Jorge Espanha para atingir seu plano de crescimento.

"Temos um pipeline de mais de vinte produtos a serem lançados nos próximos cinco anos, mas tudo vai depender da capacidade do Ministério da Agricultura de aprovar estes produtos, claro", destacou.

Também faz parte dos objetivos transformar o modelo de negócio agregando mais serviços e valor ao cliente, para que o atual market share de 4% nos segmentos em que atua seja ampliado.

Jorge Espanha já foi executivo de marcas que hoje estão liderança da saúde animal no Brasil e no mundo e tenta, sempre que possível, destacar diferenciais da Vetoquinol neste universo.

"Não existe melhor linha de antiparasitários, de controle de verminose e de antibiótico do que a nossa. Temos um protocolo robusto para tratar animal em diferentes fases do ano e isso gera crescimento orgânico", afirma.

Novas oportunidades

Sobre possíveis novas aquisições por parte da Vetoquinol, Espanha evita dar detalhes, mas diz que os franceses "estão sempre abertos a oportunidades, é uma empresa que não tem dívida, extremamente capitalizada".

Apesar de ser listada na bolsa de valores, o executivo destaca que “trata-se de uma empresa familiar, em que 70% das ações pertencem a família Frechin, que já está na quarta geração".

"Ao contrário dos americanos que investem esperando lucros imediatos, os franceses fazem investimentos a médio e longo prazo e já colocaram muito dinheiro no Brasil”, ressaltou.

Além da Clarion, a outra aquisição da Vetoquinol por aqui ocorreu na chegada ao mercado brasileiro, com a compra de 100% da Farmagrícola S/A (FAGRA), em 2011.

Jorge Espanha disse que segmento de vacinas "é um mercado que olham com carinho, que interessa muito, já que complementaria o portfolio da empresa", mas também não revela sobre negociações em andamento ou em que prazo poderiam passar a investir.

"Há poucos players neste mercado de vacinas, globalmente, portanto já não há tantos à disposição, lamentavelmente", diz.

O diretor não descarta que algum investimento seja feito no mercado local, lembrando que no Brasil “há algumas empresas que estão sempre à disposição, para serem compradas".

De qualquer forma, destaca que como terceiro pilar para impulsionar o crescimento espera fechar parcerias nas áreas de inovação, canais de distribuição, além de empresas que se destaquem em serviços na pecuária de corte e de leite.

Atualmente o carro-chefe no portfolio da empresa é o “Contratack Injetável", um produto para verminose.

Outro destaque é um brinco repelente, o "Fiprotag”, que combate a mosca-dos-chifres e foi alvo de um estudo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que comprovou sua eficácia. O inseto já teria causado perdas de US$ 3 bilhões à produção de carne e leite no Brasil, segundo a Embrapa.

Como não faz aquisições no Brasil desde 2019, o foco tem sido pesquisa e desenvolvimento, área que a empresa investe 7,6% de sua receita tanto globalmente quanto no Brasil, segundo Espanha.

Um dos investimentos recentes foi uma linha de produtos conhecida como "carência zero”, antiparasitários que foram autorizados para o uso na pecuária leiteira sem que haja a necessidade de descartar o leite, já que não deixaria resíduos no produto.

A Vetoquinol – que já teve duas fábricas – agora concentra suas operações em uma unidade, em Aparecida de Goiânia, no estado de Goiás. Lá produz 80% do que vende no mercado brasileiro e o restante chega via importação.

"Mas nós temos planos de, daqui a três anos, também transformar a unidade goiana em centro de exportação. Aí talvez precisaremos ampliar a fábrica, por enquanto não há necessidade", informou o diretor.

Como tendência para o futuro, Jorge Espanha acredita no crescimento do mercado para produtos que tragam menor impacto ambiental e que possam substituir os antibióticos. "Ainda não trabalhamos com estes substitutos, mas é uma área de atenção, assim como tudo que tiver função preventiva ou melhorar o manejo", diz ele.