A conectividade segue sendo um problema nas fazendas de todo o Brasil. Apenas 15% das propriedades rurais no País têm internet de alta qualidade em toda a área e 24% têm bom sinal somente na sede da fazenda, segundo estudo da consultoria KPMG e da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil).
O que é uma dificuldade para quem está no campo, tem se mostrado uma oportunidade de negócio, com empresas de diferentes ramos oferecendo seus serviços ao produtor rural.
É o caso tanto de companhias cujo core business não é telecom, como a Jacto, que passou a oferecer um serviço de redes privativas 4G a seus clientes em agosto passado, quanto de empresas que já estão no mercado há anos, como a Virtueyes, parceira da Jacto nesse projeto e que está investindo R$ 42 milhões para entrar no agro.
A Datora entra nessa segunda categoria. Há 30 anos no mercado de telecomunicações, está presente no Brasil e em outros oito países. Por aqui, a empresa tem diferentes frentes, oferecendo serviços de VOIP, MVNO (sigla em inglês para operadora móvel virtual) e de conectividade para dispositivos de IoT (internet das coisas).
A companhia está apostando no mercado de redes privativas para o agronegócio. Fechou o ano com 46 antenas implantadas e planeja somar mais 100 contratos em 2025.
"Tivemos um boom do negócio das redes privativas em 2024", afirma Samy Uziel, VP de novos negócios da Arqia Datora, unidade de tecnologia móvel da Datora.
A empresa não abre números de faturamento ou quanto pretende ganhar fazendo negócios no campo em 2025, mas adianta que vai investir R$ 9 milhões em projetos envolvendo o agronegócio neste ano.
O perfil de cliente que a Datora pretende alcançar é o produtor de médio porte. "As grandes operadoras vão nos grupos grandes e elas deixam essa base, essa outra camada do mercado, desprovida. A gente entende também que, dentro das redes privativas, temos que trabalhar no nicho", diz Uziel.
Hoje, a operação de redes privativas da Datora está presente em Mato Grosso, Rondônia, Minas Gerais e São Paulo. A ideia é expandir operações para estados como Mato Grosso do Sul e Bahia.
Inicialmente, a Datora tentou alcançar o produtor diretamente, mas não conseguiu muito êxito nessa formatação.
"Se você não conhece a fazenda e o fazendeiro, ele até te recebe, mas ele é mais desconfiado e dificilmente fecha um contrato com você", afirma Uziel.
A Datora, então, partiu para o trabalho com parceiros, como a operadora de internet privada 4G Solis e a agtech Solinftec, que criou um robô autônomo para o controle de pragas e daninhas.
Uziel explica que o modelo de negócio varia bastante, a depender das demandas de cada cliente, do serviço completo, que inclui a construção das torres, até soluções mais específicas.
"A gente pode fazer tudo, de A a Z, ou seja, faço estudo de cobertura, monto a infraestrutura, a conectividade e entrego isso ao fazendeiro. Outros preferem o seguinte: a Datora só faz a parte de conectividade e SIM card e eu instalo os equipamentos e a torre", afirma Uziel.
O desafio para tudo isso sair do papel ainda é o custo. Os equipamentos são importados, o que não ajuda muito em tempos de dólar a R$ 6.
A instalação das torres é outra fonte de receita. A implantação de uma torre de 60 metros chega a custar mais de R$ 500 mil, segundo Uziel.
Além disso, o valor dos projetos varia conforme as características físicas de cada propriedade.
"Não há um custo médio para os projetos, é caso a caso. Dependendo da topologia da área, por exemplo, você pode colocar uma antena ou oito antenas. Varia bastante", afirma Uziel.
Um diferencial da tecnologia da Datora é oferecer um SIM card com a possibilidade de uso tanto na rede privada quanto na rede pública, de forma que o produtor possa ter acesso às operadoras mais conhecidas do mercado como Claro, Vivo e TIM.
“O fazendeiro, normalmente, não tem conectividade dentro da fazenda. Mas esse fazendeiro também vai à cidade e quer ter a comunicação quando está na cidade. Então, a gente fornece com um SIM card só.”