Mesmo ringue e mais uma derrota. A Minerva informou nesta quinta-feira, 25 de setembro, que a autoridade antitruste do Uruguai, a Coprodec (Comisión de Promoción y Defensa de la Competencia), negou pela terceira vez a aprovação da compra das três unidades frigoríficas que pertenciam à Marfrig (hoje MBRF).
O imbróglio se arrasta desde que a empresa dos Vilela de Queiroz realizou a compra das plantas da concorrente e indica um futuro difícil para a aprovação, após sucessivas derrotas.
O que mudou, desta vez, foi o encerramento do fato relevante publicado pela Minerva. Das outras vezes, a empresa sinalizou que iria recorrer às decisões do Coprodec. Agora, a empresa afirmou apenas que irá “manter os acionistas e o mercado em geral informados acerca dos desdobramentos relativos a tal assunto”.
Na bolsa, as ações da Minerva encerraram com queda de 1,84%. No pregão anterior, contudo, a ação subiu 2,35%.
Em relatório, o analista da XP, Leonardo Alencar, pontuou que a aquisição das plantas uruguaias seria “estrategicamente relevante para a diversificação geográfica da empresa”. “Isso especificamente considerando o aumento da concentração de receita no Brasil após as compras recentes, que na nossa visão, representarão 66% do resultado em 2026”.
“Por outro lado, a incerteza sobre uma possível multa decorrente da não aprovação do acordo pode pesar negativamente no sentimento de alguns investidores”, acrescentou Alencar.
O capítulo de hoje é mais um da novela que começou em agosto de 2023, quando a Minerva comprou 16 plantas que pertenciam à Marfrig por R$ 7,5 bilhões em valores da época.
Originalmente, o pacote envolvia a compra de onze plantas no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e outra no Chile. As autoridades de todos os países concordaram com a aquisição das operações, com exceção do Uruguai, que não aprovou a operação em sucessivas decisões.
Além da Coprodec, a ministra da Economia e Finanças do Uruguai, Azucena Arbeleche, se manifestou contrária à compra e ressaltou a reprovação do Cade uruguaio.
Neste ano, em fevereiro, em nova tentativa de desenrolar o negócio, a Minerva propôs à Coprodec, autoridade uruguaia antitruste semelhante ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil, uma contrapartida para a compra das plantas de San José e Salto que eram da Marfrig: a venda da unidade de Colonia, no Uruguai, que também havia sido comprada da empresa de Marcos Molina.
O pleito veio após duas derrotas, uma em outubro e outra em dezembro de 2024, e em março deste ano, o CFO da empresa, Edison Ticle, se mostrava confiante que a transação seria aprovada. Em uma entrevista exclusiva ao AgFeed na época, disse que a expectativa é de uma resposta até julho "no pior cenário".
"Protocolamos uma nova proposta, porque a gente tem algum grau de certeza que essa proposta agrada a autoridade uruguaia. Agora, eu só vou ter 100% (de certeza) na hora que sair a decisão. O que eu posso dizer é que a gente fez a melhor proposta que podia fazer no momento, dado que a gente interagiu com a autoridade", explicou na ocasião.
Em junho, a Minerva anunciou que tinha fechado contrato de venda da unidade de Colonia para o grupo indiano Allana, por US$ 48 milhões, transação que fica incerta desde então.
Para a Minerva, essa venda aos indianos poderia amortizar parte do valor envolvido na compra dos ativos no Uruguai, que custou R$ 675 milhões. A empresa já possui presença no país, com quatro unidades localizadas em Melo, Canelones, Durazno e na capital Montevidéu.
O último capítulo desse imbróglio envolveu não as autoridades uruguaias, mas a Marfrig (hoje MBRF). A Marfrig anunciou, no final de agosto, que encerrou automaticamente o contrato de venda de três frigoríficos no Uruguai para a Minerva por descumprimento de condições do acordo assinado em agosto de 2023.
O problema envolvia o tempo para concluir a transação. Isso porque a Marfrig informou que o fechamento da operação estava condicionado ao cumprimento de exigências típicas desse tipo de transação, que deveriam ter sido atendidas no prazo de até 24 meses após o contrato ter sido assinado.
Dessa forma, emenda a Marfrig, como essas "condições suspensivas" não foram cumpridas até a data-limite, "o Contrato Uruguai foi resolvido de pleno direito, não mais obrigando as partes a concluir a Operação."
A Minerva contestou a decisão, afirmando que o contrato permanece em vigor e que segue tentando a aprovação da operação junto à autoridade uruguaia antitruste, que negou mais uma vez o tema.
Resumo
- "Cade" uruguaio negou novamente à Minerva Foods a compra das três plantas da Marfrig, uma operação anunciada em 2023 por R$ 7,5 bilhões no total
- Minerva chegou a propor a venda da unidade de Colonia e firmou contrato com o grupo indiano Allana, mas mesmo assim não conseguiu avançar
- Ações da companhia recuaram 1,84% na B3; analistas veem ativos uruguaios como estratégicos para reduzir concentração do negócio no Brasil