O número de máquinas novas não é mais o principal motivo de orgulho para as empresas que levam tecnologias para mostrar na maior feira agrícola do país. A ordem agora é mostrar conectividade, processar dados e apresentar o que há de mais moderno em softwares e outras soluções digitais. Para isso, é preciso ter internet.
Este novo perfil da Agrishow obrigou os organizadores a redobrar investimentos no fornecimento de internet, um termômetro do crescimento da feira.
Nos últimos cinco anos o número de expositores que oferecem máquinas conectadas a internet e optam por meios digitais para demonstrar seus produtos aumentou, o que vinha demandando uma capacidade cada vez maior.
A Agrishow tem 800 marcas expositoras na edição deste ano, sendo que 125 participam pela primeira vez – a maioria com soluções digitais ou serviços que melhoram o desempenho da atividade.
O presidente da Agrishow, Francisco Maturro, disse ao AgFeed que, em função disso, houve uma expansão no ano passado, quando a internet usada nos 530 mil metros quadrados da exposição passou a ter três redundâncias, com planos A, B e C (antes era apenas uma).
As obras de adaptação da feira começaram durante a pandemia, quando uma rede mais ampla de fibra ótica foi instalada por meio de um modelo de concessão.
A empresa contratada precisou investir R$ 5 milhões, informou Liliane Bortoluci, diretora da Informa Markets, que opera o evento. Foi necessário instalar um sistema que oferecesse capacidade ilimitada, sob qualquer demanda.
"Em 2023 tivemos um aumento de 40% no consumo de internet da Agrishow em relação à edição anterior", disse ao AgFeed Alexandre Loureiro, da empresa Expo Telecom, que possui a concessão. Segundo ele, o tráfego durante a feira é de 5,5 GB, é comparável ao de muitas cidades brasileiras.
"A área de tecnologia digital da feira cresceu muito. Se pegar uma plantadeira hoje, ela tem mais de 100 sensores, isso tem que virar dados que depois viram informações úteis para auxiliar o agricultor, algo que só pode ser feito de forma digital", diz Guilherme Belardo, líder de desenvolvimento de negócios da Climate FieldView para a América Latina.
O executivo participa da feira há 25 anos, desde os tempos em que as demonstrações eram só "analógicas" nos campos experimentais. A Climate FieldView é a plataforma digital da Bayer, gigante mundial do setor de defensivos e sementes, que hoje já processa dados de 25 milhões de hectares no Brasil.
Experiência digital
O modo diferente de mostrar os produtos aos clientes é algo que pode ser visto desde os fabricantes tradicionais de colheitadeiras e tratores até estandes menores, em empresas que participam da Agrishow há menos tempo.
A japonesa Komatsu, que tem fábrica no Brasil desde a década de 70 com máquinas destinadas principalmente à construção civil, está marcando presença em Ribeirão Preto pela terceira vez.
Atualmente pelo menos 20% da receita da empresa vem da venda de máquinas de terraplanagem e tratores de esteira para o agronegócio.
Algumas unidades estavam à mostra no estande, mas é no que chamam de "showroom" que oferecem ao cliente uma experiência mais ampla. O produtor rural senta, coloca os óculos VR (realidade virtual) e navega por um ambiente bem mais amplo do aquele apresentado fisicamente.
A digitalização e a conectividade no setor em que atuam é uma realidade, com 13 mil máquinas monitoradas via satélite, segundo o diretor de vendas e marketing da Komatsu, Chrystian Garcia.
Entre as marcas globais com tradição na feira o quadro é ainda mais evidente. Na Case IH, o espaço principal do estande é uma espécie de palco em forma de “cubo" com painéis de LED e monitores.
Ainda há grandes colheitadeiras e tratores expostos, mas em número bem menor em relação ao que ocorria no passado. A área de painéis é considerada mais importante porque lá o cliente vai ver as máquinas reais da fabricante trabalhando nas lavouras, em tempo real, com a possibilidade de monitorar os indicadores de performance.
Esta demonstração "ao vivo” é facilitada porque, de acordo com a Expo Telecom, desde o ano passado os grandes expositores utilizam o sistema de VPN, ou seja, não apenas estão conectados a internet mas também a seus sistemas próprios de dados, de cada uma das empresas.
"São 10 telas que estão mostrando aqui o que está ocorrendo na nossa fazenda lá em Água Boa, no estado de Mato Grosso”, explicou ao AgFeed o diretor de marketing e comunicação da Case na América Latina, Eduardo Penha.
Ele conta que até já ocorreu de tentar mostrar algo para um cliente e as máquinas já estarem recolhidas no galpão, porque se trata de uma informação real e "sem conectividade isso seria impossível".
A John Deere, outra gigante mundial com tradição nas grandes feiras de tecnologia agrícola, adotou um formato semelhante, com uma área central repleta de telas e equipamentos de realidade virtual que ampliam a experiência dos clientes.
Como todos os produtos da marca atualmente já saem de fábrica equipados para se conectar à internet, uma das novidades apresentadas na Agrishow foi um "Sim Card eletrônico”, no modelo que antes era adquirido das operadoras de telefonia.
"Desta forma o produtor não precisa mais pagar o pacote de dados de nenhuma operadora, já sabe que todos os dados da máquina serão transmitidos", explicou a gerente de marketing de tecnologia, Estela Dias.
Entre as máquinas expostas fisicamente pela John Deere nesta edição da Agrishow um dos destaques foi um pulverizador autônomo, hoje só fabricado nos Estados Unidos e que começará a ser testado no campo este ano no Brasil.
A máquina capaz de aplicar defensivos sem nenhum piloto, controlada de forma remota, também valoriza a conectividade.
O gerente de integração de negócios da John Deere nos Estados Unidos Sean Sundberg veio ao Brasil para explicar como funciona a tecnologia. Em entrevista ao AgFeed disse que uma pessoa consegue operar remotamente oito pulverizadores autônomos ao mesmo tempo.
Ele acredita que a tecnologia tem chances de prosperar em culturas como laranja e café no Brasil, já que vem sendo bem sucedida na Flórida.