Não é possível dizer que haja um ressurgimento da canavicultura do Rio de Janeiro, que lembre os tempos quando toda a demanda de açúcar e etanol do estado, do Espírito Santo, do Leste mineiro e até do extremo Nordeste paulista era atendida pela produção da região de Campos dos Goytacazes.

Mas até onde o “braço alcança” dos sobreviventes da cultura na região, berço do primeiro negócio do agro brasileiro em escala comercial, no longínquo 1880, uma nova usina em preparação já injeta ânimo.

Com R$ 50 milhões em investimentos, a Usina Paraíso vai ser reativada, sob o nome de Coagro Paraíso, a Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro.

Será a irmã da Coagro Sapucaia, que do outro lado do Rio Paraíba do Sul, também no município de Campos, foi a que ajudou a manter no negócio cerca de 4 mil pequenos cooperados, integrados à Associação Norte Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan).

A empreitada vai começar no segundo semestre, de forma experimental só com etanol, segundo o diretor executivo Paulo Bastos, e deverá estar próxima de moer 100 mil toneladas de cana na largada.

Os recursos são da Venesla, um grupo de investidores do Rio de Janeiro. A Coagro, em arrendamento de 20 anos, é responspavel pela reforma da unidade e do plantio em terras que sobraram desde a recuperação judicial da Paraíso, há quatros anos.

O modelo de negócio é quase parecido ao da Sapucaia. A cooperativa, que nasceu com os associados da Asflucan, também não botou dinheiro para ativar a unidade, sete safras atrás. O grupo Kugan, também formado por investidores fluminenses, adquiriu a usina em leilão judicial e a sublocou para a Coagro por 30 anos.

“A Paraíso tem cerca de 3 mil hectares em terras devolutas e, com o que está sendo plantado entre os cooperados, estimamos que podemos chegar a 400 mil toneladas na safra 24/25”, aponta Bastos.

O segundo lance da Coagro Paraíso será a abertura do mix também para o açúcar, mas num período no qual a indústria esteja próxima de receber entre 700 a 800 mil toneladas de matéria-prima.

Esta é a previsão que soma com a expectativa de entrega dos fornecedores, de acordo com o presidente da Asflucan, Tito Inosoja, entidade com cerca de 6 mil membros, cuja média de área plantada é de 50 hectares.

Não será, contudo, tarefa fácil. A Baixada Campista sofre intercorrências regulares do clima, hora com secas extremas, hora com enchentes, o que em parte foi responsável por depauperar o setor regional.

Parte da solução está nas condições de recuperação dos canais que montam a 1,4 mil quilômetros cortando uma planície lisa como mesa de sinuca.

“Em épocas de seca, deveriam servir de reservatório de água das chuvas anteriores e dos sistemas de irrigação; nos períodos de chuvas torrenciais, deveriam servir para escoamento”, informa o diretor da Coagro.

Sem manutenção nos tempos do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), nem depois de terem sido repassados para o governo do Rio – e deste para empresas licitadas –, os canais não atendem toda a área agriculturável.

“Resta a nós e a Asflucan comprarmos máquinas para aumentar a desobstrução dessa rede”, observa Paulo Bastos.

Nessa situação de clima e falta de infraestrutura se acrescenta as quebras de safras, uma atrás da outra. Com isso, a Coagro Sapucaia ainda está longe de atingir sua capacidade de 1,8 milhão de toneladas de moagem. Nesta última safra, chegou a 834 mil.

Afora essa herança, o que deixou pelo caminho as 22 usinas comerciais – hoje só restam duas, Canabrava e Agrisa, além da Coagro – foram a extinção do Instituto de Açúcar e Álcool (IAA), que injetava dinheiro a fundo período no período militar e questões sucessórias dos grupos familiares que comandavam as usinas na região.

Mas tudo isso é só história e o capítulo agora é outro, resume o executivo da cooperativa.