Uma empresa que começou produzindo alimentos na Argentina, mas que hoje tem como principal negócio o ramo de açúcar e etanol, com usinas no Brasil. Esta combinação vinha dando certo para a Adecoagro, até o terceiro trimestre de 2023.

Quando se olha os números de todo o ano passado, a companhia sediada em Luxemburgo teve aumento de quase 7% no faturamento, de 10% no Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) e de 23% no lucro líquido ajustado.

Mas os últimos três meses do ano impediram que os resultados da Adecoagro em 2023 fossem ainda melhores. Isso por conta da piora no desempenho envolvendo exatamente a atividade sucroenergética.

A companhia conseguiu moer menos de 3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no quarto trimestre de 2023, uma queda superior a 7% na comparação com o mesmo período de 2022.

A Adecoagro explica que houve uma redução de quase 14% na moagem de cana de produção própria no período, “por conta do maior volume de chuvas na comparação com 2022”, diz a empresa. A cana da própria companhia representou mais de 90% do total moído.

Em todo o ano passado, o total de cana moída foi de quase 12,5 milhões de toneladas, um avanço de 19%.

Assim, o resultado do negócio de açúcar, etanol e energia da Adecoagro foi prejudicado, com o Ebitda ajustado do segmento caindo 13,5% no quarto trimestre, para US$ 87,5 milhões.

Com o aumento do prêmio no preço do açúcar em relação ao etanol, a empresa reverteu o balanço entre os dois produtos no final de 2023. No ano anterior, a Adecoagro direcionou 56% de sua cana processada para o etanol, e 44% para o açúcar. No fim de 2023, esse mix passou a ser de 52% em açúcar e 48% em etanol.

Essa relação foi mudando ao longo de todo o ano passado. Por isso, o volume de açúcar produzido em 2023 aumentou 67%, enquanto o volume de etanol recuou 3%.

Em valores, os resultados dos dois produtos também foram discrepantes, mesmo no trimestre. Entre outubro e dezembro do ano passado, a Adecoagro vendeu quase US$ 138,5 milhões em açúcar, crescimento anual de 60%. Em etanol, foram vendidos US$ 79 milhões, queda de 23%.

“Mesmo com um aumento de 9% no volume vendido de etanol, houve uma queda de quase 25% no preço médio de venda durante o quarto trimestre de 2023”, afirma a Adecoagro.

No quarto trimestre, o que impediu um resultado pior do segmento foi a venda de energia, que aumentou 17,2%, ficando perto da marca de 200 mil megawatts/hora. A eficiência na produção também teve aumento importante no período, com quase 68 quilowatts por tonelada, avanço de 26% em um ano.

Em valores, as vendas de energia renderam quase US$ 9 milhões à companhia no quarto trimestre do ano passado, número 19% maior que o registrado em 2022.

Na produção de grãos, arroz e leite, o resultado final melhorou, impulsionado pelos preços do arroz. O Ebitda do segmento cresceu 34% no quarto trimestre e 24% no ano.

Em faturamento, houve queda em grãos, de quase 18%, e no arroz, de 7%. As vendas de leite ficaram praticamente estáveis no final de 2023, na comparação com o mesmo período de 2022. No total, as receitas recuaram 8% no período.

Mas para ter um resultado final melhor em relação a 2022, o arroz foi decisivo, com um Ebitda ajustado 41% maior.

O Ebitda de grãos melhorou quase 10 vezes em relação ao ano anterior, mas ainda fechou o trimestre negativo. A Adecoagro atribui a melhora à estratégia de proteção de preços adotada no período. Já no leite, o indicador teve recuo de quase 25%.

Quando se olha o faturamento por produto, fica claro como a companhia conseguiu driblar a queda do preço da soja no final de 2023. As vendas subiram quase 48% em relação ao último trimestre de 2022.

Entre as principais culturas, as boas notícias param por aí. Em milho e trigo, as quedas nas receitas foram de 49% e 57%, respectivamente. Em amendoim, que tem a maior participação no faturamento das operações agrícolas, o recuo foi superior a 6%.