Incentivos fiscais para os investidores, prazo longo para a companhia que levanta o dinheiro. As debêntures ligadas a metas de sustentabilidade têm essa característica. E a Rumo, para investir em suas grandes obras de logística ferroviária, recorreu a esse instrumento.
A companhia está mais perto de levantar R$ 1,5 bilhão por meio destes títulos, após definir, nesta terça-feira, 12 de setembro, a taxa de juros a ser paga aos investidores. O dinheiro deve ser utilizado principalmente para concluir a Malha Paulista, que chega ao Porto de Santos.
Segundo apresentação a investidores também nesta terça-feira, a Rumo afirmou que a capacidade de transporte após a conclusão dos investimentos na Malha Paulista vai passar dos atuais 53 milhões de toneladas para 75 milhões de toneladas, um salto de 41,5%.
A empresa prepara a estrutura, assim, para suportar um aumento significativo de demanda vinda de longe. Durante o evento com investidores, o presidente-executivo da companhia, João Alberto de Abreu, deixou claro que o principal foco da Rumo nos próximos anos será concluir a conexão de suas ferrovias com os principais polos produtores do agronegócio em Mato Grosso.
“Tem um investimento importante das obras da extensão de Lucas, mas o investimento de maior peso começa em 2024”, disse Abreu. Ele se referia à construção de um trecho de 34 quilômetros da chamada Ferrovia de Integração de Mato Grosso, corredor logístico que ligará as cidades de Rondinópolis, Cuiabá e Lucas de Rio Verde (MT), um dos maiores produtores de grãos do País.
O investimento total do projeto é estimado entre R$ 14 e R$ 15 bilhões, sendo que o primeiro trecho, de 211 quilômetros, deve ser concluído até 2025, a um custo acima de R$ 4 bilhões. “Ano que vem a gente começa com mais 150 km de construção, que começa antes de os 34 terminarem”, informou Abreu aos investidores.
Sem gargalos
Enquanto as obras avançam em uma ponta, a Rumo corre para evitar gargalos na outra. Entre as obras que estão em andamento e que vão contar agora com esta injeção de R$ 1,5 bilhão, estão um trem de 135 vagões, um sistema que permite uma menor distância entre os trens, uma modernização das vias que vai permitir o transporte adicional de 2% em toneladas por vagão, além de sete novos pátios e 31 quilômetros de novas linhas.
No Porto de Santos, com os investimentos já feitos pela companhia, a capacidade ferroviária de granéis vegetais e de celulose subiu de 45 milhões de toneladas por ano em 2020 para 51 milhões de toneladas em 2023.
Com os aportes já contratados e que estão em fase de construção, esta capacidade deve subir para 77 milhões de toneladas por ano em 2025, ano para o qual está prevista a conclusão da maioria das obras.
A emissão da Rumo é classificada como Sustainability-Linked Debenture, ou SLD. A captação, assim, está conectada a metas de sustentabilidade, não divulgadas até agora pela companhia para esta captação.
A operação será realizada em duas séries. A primeira, com vencimento em seis anos, ou em agosto de 2029, pagará taxa equivalente ao retorno dos títulos públicos atrelados à inflação pelo IPCA, com vencimento em 2028, mais 5,76% ao ano.
Já a segunda série, com vencimento em maio de 2033, seguirá os títulos públicos atrelados ao IPCA com vencimento em 2023, mais 6,183% ao ano. Caso as metas de sustentabilidade não sejam atingidas, a Rumo terá que pagar uma taxa adicional aos investidores.
Estes investimentos refletem o bom momento vivido pela Rumo, segundo analistas. Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Investimentos, a empresa vai aproveitar muito bem o volume cada vez maior de grãos produzidos no Brasil.
“O único ponto de atenção no curto prazo é a alta do petróleo, que pesa bastante nos custos e pressiona as margens. E claro, uma eventual quebra de safra pode diminuir os volumes e impactar nos resultados da Rumo”, afirma Vaz.
De olho no Mato Grosso
Com essa boa perspectiva, o analista da Nord aponta que, de fato, o grande projeto da Rumo está no Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso.
“No encontro com investidores essa visão ficou muito clara. Disseram inclusive que estudam fazer uma oferta subsequente de ações (follow-on)”, conta Vaz.
Durante a apresentação aos investidores, a Rumo não falou de valores de investimentos especificamente para as obras de expansão no Mato Grosso, mas listou o que está em andamento no estado.
São 740 quilômetros de ferrovias, com 22 pontes, 21 viadutos e cinco passagens inferiores. A linha vai passar por 16 municípios do Mato Grosso, e terá pátios a cada 25 quilômetros.
O primeiro terminal, em Campo Verde, deve ser concluído em 2026. As obras foram iniciadas em 2022.
A Rumo projeta que a exportação de grãos do Mato Grosso vai chegar a 75 milhões de toneladas em 2026, e a 87 milhões de toneladas em 2030, ante 55 milhões de toneladas em 2022.
A companhia afirma que hoje, com a sua operação indo até Rondonópolis, as ferrovias representam 73% do transporte entre a cidade mato-grossense e Santos. Com a expansão até Lucas do Rio Verde, essa proporção deve chegar a 97%.
Outro ponto importante para a Rumo, levantado pelos analistas do Itaú BBA, é a conclusão da Malha Central, que atende principalmente os estados de Tocantins e Goiás.
Foram R$ 4 bilhões em investimentos nos 1.527 quilômetros de ferrovias. Os analistas Daniel Sasson e Larissa Pérez, do Itaú BBA, afirmam que a companhia tem parcerias com grandes empresas nesta linha, como Caramuru, Coruripe e Andali.