Antonio Carrere, presidente da John Deere Brasil, foi direto: o momento é “bastante crítico” para o mercado de máquinas agrícolas no País. A avaliação foi feita na tarde desta quarta-feira, 22 de novembro, durante evento em São Paulo. Mas levam em consideração sobretudo os impactos das condições climáticas nas regiões agrícolas, que estão impactando o plantio de soja e com possíveis efeitos também na produção das outras principais culturas na safra 2023/24.

“Provavelmente, sentiremos também estes impactos na indústria de máquinas no Brasil. Em 2023, já tivemos uma queda em relação a 2022, e acreditamos que 2024 será muito similar a este ano, ou teremos uma pequena queda”, afirmou.

As previsões pessimistas foram, em grande parte, responsáveis por um dia de queda das ações da montadora americana na bolsa de Nova York. Antes da abertura do pregão, a companhia divulgou seu balanço com os resultados do seu ano fiscal de 2023. Mais que os números do que já foi realizado, porém, as projeções apresentadas fizeram com que as ações abrissem em baixa de 6%

Segundo o documento, para o ano fiscal que vai se encerrar em outubro de 2024 a John Deere espera que as vendas de tratores e colheitadeiras na América do Sul tenham queda de aproximadamente 10%, desempenho semelhante ao esperado para a Europa.

De fato, especialistas costumam afirmar que o segmento de máquinas agrícolas sofre mais em ciclos mais desafiadores para os produtores rurais. Essa tendência tem sido confirmada nos balanços das grandes montadoras globais, especialmente quando se trata de Brasil.

A John Deere não fez um recorte regional de suas vendas no trimestre encerrado em outubro. No geral, as receitas da John Deere subiram 16% no ano, superando os US$ 61 bilhões, e o lucro foi superior a US$ 10 bilhões, com avanço de 43%.

Mas no quarto trimestre, as operações voltadas à agricultura tiveram problemas, com quedas de 6% no faturamento no segmento Produção e Agricultura de Precisão e de 13% no segmento voltado a pequenos produtores.

Segue, assim, roteiro semelhante ao indicado, dias antes, pela CNH Industrial, outra gigante do segmento. A empresa apresentou quedas importantes em vendas na América do Sul e, com a expectativa de repetição de números mais fracos na região, especialmente no Brasil, tomou a decisão de diminuir em 5% seu quadro de funcionários.

Em seu balanço do terceiro trimestre, anunciado no início de novembro, a CNH revelou queda de 16% nas vendas de tratores foi de 16% entre julho e setembro, e em colheitadeiras, o tombo foi de 47% nas vendas. O continente teve o pior desempenho entre as divisões geográficas da CNH.

No resultado consolidado, a CNH teve crescimento de 2% na receita do terceiro trimestre, na comparação anual, para quase US$ 6 bilhões. O lucro teve avanço similar, para US$ 570 milhões.

Informações da imprensa internacional nos últimos dias estimam que a companhia pode cortar em até 15% as despesas com folha de pagamento. O CEO da companhia, Scott Wine, afirmou a analistas que a demanda no mercado europeu também levou a resultados “decepcionantes” no terceiro trimestre.

Na AGCO, que apresentou seus números no final de outubro, o clima estava melhor. A empresa conseguiu registrar um crescimento nominal de quase 11% nas vendas líquidas e, com o desconto dos efeitos cambiais, um avanço superior a 7% no terceiro trimestre.

No caso da empresa, a América do Sul também foi destaque, mas em sentido diferente das concorrentes. As vendas líquidas da companhia tiveram aumento nominal de 26% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2022, chegando a quase US$ 720 milhões. Ao descontar o câmbio, o avanço foi de 18,5%.

De janeiro a setembro deste ano, o crescimento nominal foi parecido com o do trimestre na região e, quando se tira o efeito cambial, o crescimento foi superior a 23%, para US$ 1,8 bilhão em vendas líquidas.

“O forte crescimento de vendas no Brasil foi responsável pela maior parte deste resultado”, diz a AGCO em comentário sobre os números. A fabricante afirma que conseguiu vender máquinas de maior potência, de tratores com margens melhores, de plantadeiras, e assim aproveitar o momento de melhora nos preços das máquinas.

Nas suas operações globais, a AGCO teve aumento de quase 22% nas receitas no acumulado até setembro. O lucro líquido cresceu 18% no trimestre, superando os US$ 280 milhões. No ano, os ganhos da companhia já passaram de US$ 830 milhões, com alta de quase 47%.

A empresa não apresentou, no entanto, projeções para os próximos meses, que devem refletir o momento de contenção dos produtores rurais no Brasil.

Neste final de ano, como disse Carrere, da John Deere, a principal preocupação do agricultor é “colocar as sementes no chão”. “A partir do momento em que o plantio estiver resolvido, deve haver uma maior disposição para negociar compra de máquinas”, afirmou o executivo.

Com reportagem de Gustavo Lustosa.