Na multinacional de alimentos brasileira Camil, o arroz queimou no ano fiscal de 2024. No período, que começou em março de 2024 e se encerrou em fevereiro de 2025, a companhia teve um lucro líquido 39,8% menor do que no ano anterior.

O bottom line do balanço marcou um resultado de R$ 217 milhões. No ano anterior, o lucro líquido havia sido de R$ 360 milhões. A empresa, contudo, viu sua receita subir 8,9% de um ano para o outro, passando de R$ 11,2 bilhões para R$ 12,2 bilhões.

No balanço, a Camil viu um aumento de custos “comer” o resultado. No último trimestre do ano fiscal, período equivalente aos meses de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025, a empresa teve prejuízo de R$ 24,6 milhões, revertendo um lucro líquido de R$ 106 milhões no ano anterior.

O número ilustra o problema de custos que a empresa enfrentou, já que a receita subiu no trimestre em comparação com o mesmo período do ano fiscal passado. O indicador aumentou 11,7%%, passando de R$ 2,6 bilhões para R$ 3 bilhões no quarto trimestre fiscal de 2024.

No balanço, a administração da empresa pontuou que o resultado teve impacto por “menores volumes e rentabilidade no Brasil, parcialmente compensado por uma boa rentabilidade no resultado do segmento internacional”, segundo afirmaram o diretor presidente da Camil, Luciano Quartiero, e o diretor financeiro e de relações com investidores, Flavio Vargas.

Na opinião de Thiago Harduim e Renata Cabral, analistas do Citi, a queda nos lucros do último trimestre do ano fiscal da Camil foi impactada por uma sazonalidade do período. “O trimestre ainda contou com maiores despesas com vendas tanto no Brasil quanto no segmento internacional, devido ao aumento de frete e publicidade”, disseram em um relatório divulgado aos clientes do banco.

“Permanecemos otimistas com a ação da empresa, já que o crescimento dos segmentos recém-integrados continua indicando potencial de lucro positivo no futuro”, acrescentaram os analistas do Citi.

No pregão da B3 desta sexta-feira, dia 9 de maio, a ação da Camil registrava baixa de 3,38%. No ano, o papel recua quase 25%.

No acumulado do ano fiscal da Camil, o custo dos produtos vendidos (CPV) foi de R$ 9,87 bilhões, número que veio 10% maior do que no ano anterior e representou 80,5% da receita líquida do ano. Somado a isso, as despesas com vendas, gerais e administrativas ainda somaram R$ 1,8 bilhão, número 7,2% maior.

O aumento de custos em 2024 veio majoritariamente das matérias-primas, como café, trigo e arroz. O principal deles foi o café, onde, segundo a empresa, houve alta de 70% no custo da saca comprada. No trigo, houve alta de 8%, e no arroz, 2%.

Mesmo com a empresa repassando o valor para o consumidor final, a Camil vendeu menos ao longo do ano fiscal. No ano, a empresa cita que foram comercializados 2,11 milhões de toneladas de produtos, montante 3,5% menor do que no ano anterior.

No Brasil, foram 1,49 milhão de toneladas, e no segmento internacional, 620 mil toneladas. Respectivamente, os patamares trouxeram quedas de 1,5% e 8,2%. O destaque positivo ficou para a categoria que a empresa chama de “Alto Valor”, que inclui massas, café, pescados e biscoitos, que somou 193 mil toneladas vendidas, uma alta de 10,7%.

Ao final do ano, o lucro operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), foi de R$ 907 milhões, em linha com o ano anterior.

A dívida líquida da Camil se manteve estável na comparação anual, em R$ 2,6 bilhões. O número traz uma alavancagem de 3 vezes. No terceiro trimestre do ano fiscal, período que foi de setembro a novembro do ano passado, a alavancagem estava em 3,4 vezes.

O indicador havia aumentado por conta da aquisição anunciada em setembro de duas empresas paraguaias. A Camil adquiriu 100% da Rice Paraguay e 80% da Villa Oliva Rice.

A Camil tem um endividamento total de R$ 5,2 bilhões, mas conta com R$ 2,5 bi em caixa. A maior parte da dívida está atrelada a debêntures, que somam R$ 3 bilhões.

Resumo

  • Companhia lucrou R$ 217 milhões no período entre março de 2024 e fevereiro de 2025
  • Custo dos produtos vendidos subiu 10% em um ano e somou R$ 9,8 bilhões, o equivalente a 80% da receita
  • Na Bolsa, onde está avaliada em R$ 1,5 bilhão, ação da empresa cai 25% no ano até dia 9 de maio de 2025