O arroz da Camil parece ter esfriado nesse ano. A companhia, maior beneficiadora do grão no Brasil, viu seu lucro recuar no primeiro trimestre do ano fiscal, assim como o volume de vendas, que foi impactado negativamente pela queda nos preços do mercado de arroz no período.
Entre março e maio deste ano, a Camil registrou lucro líquido de R$ 66 milhões, montante 16% menor do que o registrado no mesmo período de 2024. A receita líquida recuou a R$ 2,6 bilhões, queda de 7,3% no período, bem como o Ebitda (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que também contraiu, chegando a R$ 233 milhões, redução de 8,4%. A margem ebtida seguiu em 8,7%,
Houve quedas no volume de vendas tanto na linha de produtos de alto giro (arroz, feijão e açúcar), como também na categoria de produtos de alto valor (massas, bolachas, café e pescados).
A contração na linha de alto giro foi mais expressiva, recuando 13,6% em relação ao ano anterior, fechando o período com uma comercialização de 292,6 mil toneladas, em função da redução dos preços do arroz no mercado, que caiu 26,9% na comparação anual, atingindo R$ 77,25 por saca.
“Diante desse movimento, é comum os varejistas atuarem de forma mais cautelosa em suas reposições de estoque, o que trouxe uma redução de volumes na comparação do mesmo período do ano anterior”, explicou a Camil em comunicado divulgado junto aos resultados.
Mas a linha de alto valor também apresentou contração em sua comercialização, contribuindo para a diminuição da receita líquida. O volume de vendas foi de 47,1 mil toneladas, 3,7% a menos do que no mesmo período de 2024.
A Camil diz que o resultado só não foi pior porque houve um aumento de custos do café – que subiram 122,8% em um ano, atingindo R$ 2,5 mil a saca. O repasse desses custos compensou a queda.
De qualquer forma, a companhia está confiante de que a linha de alto valor pode trazer mais receitas no futuro.
“Massa, café e biscoitos são categorias de alto valor que operam ainda a cerca de metade da capacidade instalada, trazendo oportunidades importantes de expansão de volumes e, consequentemente, de eficiência com diluição de custos e de melhoria de rentabilidade”, diz a Camil, que hoje é dona de marcas conhecidas dos consumidor, como o açúcar União, também utilizada pela companhia para embalar café, e das bolachas Mabel, empresas adquirida da PepsiCo em 2022.
Enquanto no mercado interno a Camil apresentou números enfraquecidos, no mercado externo a companhia viu seu volume de vendas crescer 24,4% em um ano, chegando a 168 mil toneladas, ainda que os preços tenham caído 19,9% no período. A companhia comercializa seus produtos em países como Uruguai, Chile, Peru e Equador.
Os números não empolgaram a XP Investimentos. Em relatório assinado por Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, a casa disse que os números vieram conforme o esperado, mas atentou para o nível de alavancagem da companhia, que subiu para um múltiplo de 4,1x ND/Ebtida, uma métrica considerada “desconfortável” pelos analistas da XP.
A XP alertou ainda para o impacto do tarifaço promovido pelos Estados Unidos, que promete taxar em 50% os produtos brasileiros a partir do dia 1º de agosto. “A imposição de tarifas pelos EUA pode pressionar ainda mais os mercados de arroz e café, tema que buscaremos aprofundar na teleconferência de resultados, especialmente após a decisão da companhia de aumentar estoques”, avaliou a XP.
O Itaú BBA, em relatório assinado por Gustavo Troyano, Bruno Tomazetto e Ryu Matsuyama, avalia que “a dinâmica volátil dos preços do arroz pode ser um fator-chave adicional a ser monitorado na tese de investimento.”
Mas, diferentemente da XP, está mais confiante em relação aos próximos passos da companhia. “Acreditamos que a dinâmica operacional pode melhorar no futuro, à medida que os varejistas repõem os níveis de estoque nos próximos trimestres”, diz o Itaú BBA.
“Continuamos a favorecer as perspectivas de longo prazo da Camil, visto que a normalização das margens, tanto no segmento de Faturamento quanto no de Crescimento, pode representar um sólido potencial de crescimento para a empresa”, emenda o banco.
“Se uma perspectiva macroeconômica melhor se desenvolver nos próximos trimestres, empresas com alavancagem como a da Camil também poderão se beneficiar de um resultado financeiro melhor”, finaliza o Itaú BBA.
Já os investidores parecem não ter recebido bem os números da Camil. As ações da companhia na B3 abriram o dia em queda, que chegava a 5,27% às 10h40 desta quarta-feira, cotadas a R$ 5,03.
Resumo
- No primeiro trimestre do ano fiscal, a Camil registrou queda de 16% no lucro líquido e de 7,3% na receita líquida
- Resultado foi impactado pela redução nos preços do arroz e pelo menor volume de vendas, tanto nos produtos de alto giro (como arroz e feijão), quanto na linha de alto valor (café e massas)
- Companhia vê melhora à frente, mas cenário futuro preocupa analistas com possível impacto do tarifaço dos EUA nos preços